A presença de usuários de drogas e traficantes tem incomodado lojistas no Centro de Joinville. Alguns comerciantes que trabalham na travessa Bachmann defendem a retirada da área de convivência instalada ali em 2015. Para eles, o espaço – chamado de parklet -, contribuiu para o aumento do tráfico na região. Os joinvilenses que utilizam o parklet – que conta com flores, bancos, mesa e bicicletário – defendem a permanência da área, pois acreditam que a retirada não resolve o problema, já que isso se repete em outros pontos próximos ao local. O pedido de retirada do parklet em virtude da movimentação de usuários e traficantes é acompanhada do argumento de alguns lojistas de que o espaço poderia ser novamente utilizado para as duas vagas de estacionamento que havia ali antes.

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Segundo relatos de seis lojistas que preferem não ter a identidade revelada, o ponto é frequentemente utilizado para consumo e tráfico de drogas. Uma vendedora diz que o tráfico é ainda mais comum que o consumo e envolve, principalmente, adolescentes. A droga, segundo eles, é deixada pelos traficantes no jardim do parklet e retirada por usuários mais tarde. Alguns dizem que isso acontece durante todo o dia, enquanto outros afirmam que a movimentação é maior a partir das 17 horas. Os entrevistados afirmaram que a Polícia Militar e Guarda Municipal fazem a segurança da região, mas não é suficiente, já que quando não há ronda, os usuários e traficantes voltam ao local.

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A denúncia mais grave é da proprietária de uma loja que registrou um boletim de ocorrência relatando ter sido ameaçada. Conforme informado à Polícia Civil, ao chegar para abrir seu estabelecimento, a mulher teria sido abordada por um rapaz que pedia um lanche. Ainda de acordo com o registrado no boletim de ocorrência, a mulher afirmou ter negado o pedido insistente do rapaz, que chegou a ameaçá-la de estupro e morte. Esta parece ter sido uma situação atípica, já que funcionários de outras lojas afirmaram que isso nunca aconteceu com eles.

O incômodo com a presença de usuários e traficantes parece ser unanimidade entre os comerciantes, mas nem todos concordam que a retirada do parklet possa resolver ou ajudar a diminuir o problema. O que se viu na manhã de terça e quarta-feira, durante o período visitado pela equipe do jornal “A Notícia”, foi a utilização do espaço por estudantes, casais e idosos. A auxiliar administrativa Merliue Francener Sestrem, de 31 anos, moradora de Araquari, precisou vir para Joinville na manhã desta quarta-feira e aproveitou o espaço para descansar.

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– Não vi nada de errado aqui. Vi bastante gente usando e aproveitei para sentar e descansar. Deveria ter mais espaços assim na cidade – disse Merliue.

Merliue defende que sejam instalados mais parklets em Joinville. Foto: Salmo Duarte

Maria Petri, de 90 anos, também defende que outras áreas sejam construídas em Joinville. Ela utilizava o espaço na manhã de terça-feira e defendeu a permanência do parklet. Quando passeia pelo Centro, ela para ali para descansar.

– Eu adoro, sempre venho fazer um descansozinho. Tem sombra e um ar gostoso. É muito bom ter um lugar para descansar um pouco durante o dia. Nunca vi nada de errado. Se tem, é de noite. De dia, não vi nada.

A opinião de Maria ainda é acompanhada pela estudante de enfermagem Ana Karla, de 19 anos. Para ela, o espaço não é o que motiva o tráfico. Ela aproveitou o tempo livre que tinha na terça-feira para sentar ali, abrir um livro e estudar.

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– É a primeira vez que venho, achei um espaço bacana – disse.

Em 2016, operação contra tráfico teve 16 detidos no Centro de Joinville

Em nota, a Prefeitura de Joinville informou que a proposta do parklet é “fazer com que os espaços públicos se tornem mais humanizados, estimulando o convívio e a interação entre as pessoas, beneficiando toda a área envolvida”. Portanto, não pretende-se retirar o parklet instalado no local. Há a possibilidade de que mais sete unidades sejam construídas, totalizando as oito iniciativas que foram propostas pelo curso de arquitetura e urbanismo da UniSociesc. A ampliação depende de parceiros privados, já que a Prefeitura só disponibiliza o espaço. O projeto foi desenvolvido por estudantes com o objetivo de agregar valor ao ambiente urbanístico, ampliando o espaço útil do pedestre. A justificativa utilizada é que o espaço que abrigava em média 40 carros por dia poderia receber mais de 300 pessoas diariamente.

O que diz a Polícia Militar

O comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar de Joinville, tenente-coronel Joffrey Santos da Silva, garante que há guarnições exclusivas que fazem rondas e abordagens na região central. Essa equipe, segundo o comandante, participa de forma integrada com a comunidade. Ele também falou sobre um diagnóstico entregue à Secretaria de Proteção Civil e Segurança Pública (Seprot) feito em locais abandonados e praças de Joinville que são utilizadas por usuários e traficantes.

– O importante é que o poder público, na área de saúde pública, comece a encontrar alternativas para dar encaminhamento a essas pessoas. Muitas precisam de tratamento, de ressocialização, precisam ser incluídas no mercado de trabalho. É uma questão social. Existe uma Guarda Municipal para fazer a segurança destes espaços. Estamos dispostos a sentar e conversar para chegar a um denominador comum.

O que diz a Prefeitura de Joinville

A Prefeitura de Joinville informou que a Guarda Municipal realiza rondas em áreas públicas da região central da cidade, como rua das Palmeiras, Biblioteca Municipal e praça da Bandeira. A previsão é aumentar o efetivo e, com isso, ampliar esse atendimento nas praças e parques. Sobre a presença dos moradores de rua em espaços públicos, a Prefeitura informou que há um serviço de atendimento voltado a essa população, por meio do Cento Pop. Alguns desses moradores participaram de cursos de capacitação em jardinagem. A proposta é oferecer oportunidades para que eles sejam recolocados no mercado de trabalho. Além disso, a Prefeitura garantiu que essas pessoas recebem atendimento de saúde, por meio do Programa Consultório de Rua.

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Ampliação de parklets em Joinville depende da inciativa privada. Foto: Salmo Duarte

Confira outras áreas cedidas pela Prefeitura para implantação dos parklets:

1) Rua Alexandre Döhler (em frente à Panificadora da Vila).

2) Rua Princesa Isabel (em frente à confeitaria).

3) Rua 15 de Novembro (em frente às Casas Bahia).

4) Rua do Príncipe (em frente à Lanchonete Kibeleza).

5) Travessa Dr. Norberto Bachmann (primeira vaga vindo da estação central, lado Leste).

6) Rua do Príncipe (em frente à rua das Palmeiras, lado Oeste).

7) Rua do Príncipe (em frente à Catedral, lado Oeste).