O leitor já percebeu que Rio do Sul e Taió, duas das cidades mais protegidas pelas barragens, sofreram as maiores enchentes de suas histórias depois de erguidas essas obras no Alto Vale? E que Blumenau e tantas outras cidades continuam sofrendo com enchentes, mesmo depois de tantas obra$$ feita$$? E que a média de intensidade das cheias é praticamente a mesma de antes das barragens, porém, a frequência delas aumentou? “Não fossem as obra$$, seria muito pior” apressam-se a dizer os engenheiros e as autoridades, após cada enchente e enxurrada, mas sabemos que não é assim.

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Seria insano afirmar que não dá para confiar nas obra$$ de engenharia, ou que elas sejam inúteis. Não é o caso. Essas obras todas têm sua razão de ser e foram concebidas, de fato, para proteger a população do Vale das enchentes, ou, pelo menos, minimizar os danos e prejuízos delas decorrentes. Então, o que estaria errado?

O atual pacote de obra$$ destinado a “acabar com as grandes cheias” no Vale está orçado em R$ 600 milhõe$$ (Santa, 28 e 29 de março) e sabe-se lá quanto vai custar de fato. Querem saber? Não vai funcionar, pois, se nada mais for feito a médio e longo prazo, as cheias tenderão a acontecer como sempre aconteceram. Aposto com quem quiser, com registro em cartório. Assim como disseram que iam acabar com as cheias há 30, 50 anos, daqui a 30 anos nos falamos novamente.

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Eu confio nas obras de engenharia, mas não confio em governo que só investe em obra$$ de engenharia e foge do eficaz ordenamento territorial como o diabo foge da cruz. Ordenamento territorial implica o princípio da função social da propriedade, portanto, em obrigações e limitações de uso, mas governos não gostam disso, gostam de obra$$.

Os próprios governantes que, embora planejem, não gostam de gerir o ordenamento territorial e não fiscalizam o cidadão, com frequência, são os primeiros a agredir o ambiente e odeiam que se lhes chame a atenção quando, por exemplo, alargam uma estrada urbana ou rural, jogando todo o material escavado encosta abaixo e dentro de ribeirões. Isso está acontecendo em vários lugares aqui no Vale enquanto você, leitor, passa seus olhos por essas linhas. Depois, esses mesmos governantes são os primeiros a solicitar dragagen$$, aliás, a parte mais cara e mais efêmera das obra$$ contra cheias.

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Percebendo que aterros de todos os tamanhos continuam tragando sem critério milhares de baixadas e vendo os rios pastosos de lama hemorrágica depois de uma simples chuva, só para citar dois exemplos, não me animo com notícias de obra$$ que vão acabar com as cheias.