Hoje à noite devem ser dadas as explicações sobre o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (Rima) da barragem de contenção de cheias do Itajaí-Mirim, que o governo estadual pretende construir no município de Botuverá. Os 15,7 milhões de metros cúbicos de água contidos deverão amenizar as enchentes em Brusque e Itajaí. Se funcionar em sintonia com o radar meteorológico de Lontras, como previsto, o efeito protetor da barragem será ainda maior. De função múltipla, poderá gerar energia elétrica, ter algum uso turístico e servir para abastecimento de água nas longínquas Itajaí e Balneário Camboriú (em termos de distância, algo como captar água na altura de Warnow, em Indaial e conduzi-la até aquelas cidades).

Continua depois da publicidade

Espera-se que na noite de hoje, em Botuverá, sejam dadas explicações convincentes para a ausência de previsão de estrutura de transposição de peixes, quando se sabe que em todo o trecho a montante e a jusante da barragem, não existem grandes quedas d?água que impediriam, como a barragem vai impedir, a migração dos peixes. OK, certo, aqui no Vale do Itajaí, não ocorrem piracemas espetaculares, mas sabe-se que a maioria das espécies de peixes circula rio acima e rio abaixo, no seu raio de sobrevivência, e a barragem, se formar uma barreira instransponível, vai causar um grande e inaceitável impacto ambiental à ictiofauna.

Leia mais:

::: Lauro Bacca: “não adianta o concreto durar séculos se o lago desaparece, completamente assoreado por sedimentos da bacia a montante”

::: Lauro Bacca: “Minha terra tinha palmeiras”

Continua depois da publicidade

::: Lauro Bacca: “Câmara, ponte, Galo Verde”

Outro aspecto importante: em florestas bem preservadas, como as do Parque Nacional da Serra do Itajaí, as chuvas retiram de dois a oito quilos por hectare de erosão por ano, o mesmo que NADA. Basta abrir uma pastagem e a erosão salta para 700 quilos por hectare ao ano. Em áreas sem floresta protetora e com lavouras em encostas, como existem muitas no Alto Vale, a erosão dispara para 38 mil quilos por hectare ao ano. Números como esses são bem conhecidos na literatura científica. Logo, matas preservadas significam longa vida útil para a barragem. Faz todo sentido, portanto, que a obra da barragem sirva para alavancar a implementação do Parque Nacional.

Inserida em região de grande importância ecológica, conforme mapeamento técnico do governo federal, a Barragem de Botuverá precisa ter um tratamento diferenciado em comparação às sete outras barragens menores previstas no Vale. Sua Área de Influência Direta, além de atingir um Parque Nacional, situa-se inteiramente dentro da Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, assim reconhecida pela ONU.

Com criatividade, inteligência e visão de gestão da paisagem como um todo e, muito importante, sem grandes custos, isso será possível, para o bem das pessoas, da economia e do equilíbrio ecológico.