À professora Lúcia Sevegnani.

Certa vez fui palestrar sobre meio ambiente em Indaial. Como um mimo de retribuição pela atividade voluntariosa, ganhei de presente uma muda de indaiá, espécie de palmeira de enormes folhas que, até que a planta fique mais velha, partem quase que direto do chão para o alto, abrindo um portentoso leque. Onde ocorrem muitos indaiás forma-se um indaial, resultando daí o nome da vizinha cidade.

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Plantei a muda em nossa propriedade, em local bem escolhido, de forma a permitir que a emblemática palmeira pudesse crescer livremente e sem problemas. Poucos meses depois, um susto: encontrei minha infante decepada, dela só restando pouco mais que um pequeno toco. Umas duas vacas do vizinho acharam uma falha na cerca, vindo se regalar no nosso lado. Por sorte, a devoradora do meu indaiá devia ter dentes bem afiados e cortou as folhas, sem arrancar a mudinha pela raiz, como costuma acontecer, e a sobrevivente agora já é uma majestosa palmeira a embelezar e valorizar o terreno, à espera dos primeiros frutos que certamente farão a alegria alimentar de muitas espécies da fauna, tanto de aves quanto de mamíferos.

Cabeças de gado, assim como cachorros, gatos e outros animais domésticos, não combinam com preservação. Onde tem gado solto a vegetação arbórea dificilmente se regenera. As vacas, seus maridos touros e seus eunucoides bois pisoteiam tudo e adoram comer mudinhas que, frágeis, são arrancadas pela raiz. Floresta onde entra gado é floresta congelada no tempo, não evolui e tende a desaparecer.

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Quando do desmatamento feito para formação de pastagens, foi costume em muitos lugares poupar-se do abate os coqueiros ou palmeiras jerivá, que partilham com as indaiás, palmiteiros etc. a família das Arecáceas, resultando daí paisagens mais encantadoras, as pradarias com seus coqueiros aqui e acolá, geralmente em grupos, a dar um toque todo especial de harmonia ao ambiente.

No entanto, não será preciso ser adivinho para prever que este bucolismo em nossa região está com seus dias contados. O leitor atento à paisagem já deve ter percebido, por exemplo, no trajeto de Blumenau ao litoral, a ausência de coqueiros jovens na maioria das pastagens. Verá também ali ao lado o gado pastando. Os coqueiros estão produzindo frutos que caem e geram milhares de mudas que não vingam, comidas com raiz e tudo pelo gado, um assassino inocente e involuntário. Uma pena, pois, com a morte do último jerivá adulto, nossa paisagem perderá um singular toque de beleza e nossa fauna uma importante fonte de alimento.

Será que não tem jeito de se reverter isso?