O inquérito da Operação Bola Murcha, a que o Diário Catarinense teve acesso, revela que o ex-deputado estadual e ex-secretário de Estado de Turismo, Esporte e Cultura Gilmar Knaesel (PSDB) é apontado como mentor e principal beneficiário de manobras feitas por subordinados no esquema de organizações não governamentais (ONGs) fantasmas que recebiam verba pública.

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A ação da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) prendeu, além de Knaesel, outras quatro pessoas por uma série de crimes em desvios de subvenções destinadas a eventos esportivos que não aconteciam: o assessor Arlindo Kléber Corrêa e os integrantes de ONGs Leandro Laércio de Souza, Lilian Cristina de Oliveira e Edício Gambeta.

Ex-deputado estadual Gilmar Knaesel (PSDB) é preso pela Deic

Knaesel é alvo da Operação Bola Murcha por repasses a ONGs em eventos inexistentes

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Deic diz que associação criminosa blindou Gilmar Knaesel

A Polícia Civil indiciou também outras sete pessoas beneficiadas pelas fraudes, que são integrantes das ONGs, laranjas e até familiares de alguns deles. Há casos considerados graves de repasses de dinheiro para as entidades em que o processo de formalização ocorria apenas depois dos recursos públicos terem sido entregues, em autêntica fraude processual destinada a esquentar os atos previamente praticados.

As prisões foram decretadas pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Florianópolis, Renato Guilherme Gomes Cunha, que também determinou o sequestro dos bens e valores em conta corrente do ex-deputado no valor de R$ 551,4 mil – esses são os valores que a polícia diz ter confirmado até agora de desvios, sendo grande parte destinada a ele. O ex-parlamentar figura no inquérito no topo do esquema.

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Além de interrogatórios e diligências, a Deic interceptou 22 telefones de nove investigados. Dos cinco presos, a Justiça autorizou análise de telefones, listagem de ligações efetuadas e recebidas, mensagens de texto (SMS) e registro de conversas com terceiros ou em grupos no WhatsApp.

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¿Os elementos conferem a existência de indícios veementes da origem ilícita dos pagamentos efetuados pela Secretaria Estadual de Turismo, Esporte e Cultura, durante a gestão do investigado Gilmar Knaesel. E destaco o relatório do TCE/SC o qual identifica diversos repasses indevidos autorizados pelo investigado Gilmar como ordenador primário¿, escreveu o juiz.

Investigação começou com irregularidade em copa de futebol

As seis ONGs investigadas apontadas como fantasmas no inquérito são Sociedade Recreativa e Esportiva Mente Sã – Corpo São, Associação Cultural, Esportiva e Musical do Município de Biguaçu, Associação Atlética Udesc Scorpions, Moto Clube Sorocaba, Instituto de Fomento e Desenvolvimento Catarinense e Associação Esportiva Scorpions.

A investigação analisou documentos inspecionados do Tribunal de Contas do Estado e o relatório que aponta indícios de irregularidade na realização da 1a Copa de Futebol Suíço Amador de Biguaçu, em 2008, que recebeu R$ 69 mil em subvenção.

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Ao se manifestar sobre pedido de revogação da prisão preventiva de Knaesel, a promotora do Ministério Público de SC, Darci Blatt reforçou as suspeitas contra o político:

¿Não restam dúvidas que o investigado Gilmar participava ativamente da concessão irregular de subvenções sociais, atuando ao arrepio da lei e dos princípios que regem o funcionalismo público, acarretando em um vultoso prejuízo ao erário estadual¿, ressaltou.

Deic destaca sete gravações

Entre as escutas telefônicas, a Deic ressalta no relatório final sete gravações sobre Knaesel que merecem ser destacadas e que tem pertinência com a investigação quando ela estava em andamento. Em sua conclusão, o delegado da Deic responsável pela operação, Walter Watanabe, considera o diálogo mais importante grampeado do político com o assessor e seu braço-direito, Arlindo Kléber Corrêa, no dia 13 de abril, às 11h13min. Knaesel liga para Kléber reclamando que Leandro não levou as ¿cópias para fazerem as cópias¿.

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Segundo a polícia, Leandro citado seria Leandro Laércio de Souza, responsável em cooptar laranjas para fazer parte das entidades que fariam parte das fraudes e recebiam as subvenções e que também está preso.

* Colaborou Felipe Lenhart