O mercado financeiro voltou a prever ontem uma inflação abaixo do piso da meta para este ano. De acordo com o boletim Focus, publicado pelo Banco Central, a estimativa das instituições financeiras é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 2,88% em 2017 – na avaliação anterior, a taxa prevista era de 3,03%.
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O Brasil já sofreu com a inflação. Não precisa ser muito antigo para lembrar daquele tempo em que os preços disparavam e o dinheiro virava pó da noite para o dia. No auge, o IPCA chegou a medir 6.821,31%, em abril de 1990. Um passado distante que hoje parece apenas um pesadelo venezuelano, como já disse um certo economista brasileiro.
O regime de metas de inflação, criado em 1999, ajuda a estabelecer parâmetros para o comportamento dos preços de maneira que se permita crescimento econômico sem descontrole. Ele funciona assim: o Conselho Monetário Nacional (CMN) define um objetivo a ser perseguido pelo Banco Central (BC). Neste ano, a meta é deixar o IPCA em 4,5%.
Essa meta, no entanto, permite uma margem para possíveis crises e choques de preço, ou seja, em situações excepcionais, o IPCA pode chegar a, no máximo, 6% e a, no mínimo, 3%. Quando a inflação fica fora desses patamares, o BC tem de elaborar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, explicando os motivos do descumprimento.
Se a estimativa do mercado se confirmar, conforme o Focus previu, e o IPCA ficar em 2,88%, será a primeira vez que a meta será descumprida por ficar abaixo do piso. Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que, de janeiro a novembro, o índice chegou a 2,5%, o menor resultado acumulado em 11 meses desde 1998, quando mediu 1,32%.
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É claro que um cenário de inflação baixa tem reflexos positivos. Nessa situação, mais projetos saem da gaveta, empresas contratam mais funcionários e executam mais investimentos. Ter o custo de vida sob controle é fundamental para um crescimento sustentável.
No contexto atual do Brasil, porém, ela reflete algumas questões preocupantes. Queda de demanda por consumo e desaquecimento da economia estão entre eles. Para Luciano Córdova, economista da Fecomércio-SC, também entra nessa fórmula o bom resultado da safra que ajudou a derrubar o preço das commodities. Responsável por 25% das despesas das famílias, os alimentos registraram queda 2,40% no ano, a menor desde a implementação do Plano Real, em 1994.
Se, por um lado, o afrouxamento dos custos com alimentação abre espaço para o consumo de outros grupos de produtos, por outro, o comportamento geral não deixa de ser preocupante. Para Córdova, neste patamar, abaixo do piso da meta, a inflação revela uma disfuncionalidade, já que pode significar também uma queda das taxas de lucro das empresas. Ou seja, mais uma patologia da economia brasileira do que uma virtude.
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