Funcionários da indústria e comércio, empresários, professores e autônomos de Nova Erechim, no Oeste de SC, trancaram o trevo da BR-282, na entrada do município, às 17h15min desta terça-feira. Eles interrompiam completamente o tráfego durante uma hora, com intervalos de cinco minutos, depois liberavam. As lojas e indústrias fecharam as portas antes para apoiar o ato.
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– O comércio e indústria de Nova Erechim se solidariza com a causa dos motoristas e agricultores, que é uma causa de toda a nação brasileira – disse a arquiteta Driely Borille.
Ela afirmou que a economia está instável e o aumento dos combustíveis gera um custo adicional para todos os setores. Cleber Reolon levou os 20 funcionários de sua metalúrgica para o ato. Ele afirmou que tinha 29 funcionários mas teve que demitir nove em virtude dos aumento dos custos e da carga tributária.
– Nós estamos pagando o preço da corrupção – disse Reolon.
Ele afirmou que há um sentimento de indignação que começou com os caminhoneiros e que até cobrou um posicionamento mais forte das entidades, como a Fiesc.
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A professora Edina Kelze, que trabalha numa academia, levou a banderia do Brasil para o ato.
– Não dá mais, é muita corrupção, a gente só trabalha e não consegue pagar as contas – disse.
Os caminhoneiros fizeram questão de dizer que a interrupção não foi obra da categoria.
– Não temos nada que ver com isso, senão sobra para nós – disse um dos motoristas.
“Ou todo mundo ajuda ou o setor vai falir”
O motorista Diego Covatti é um dos integrantes da mobilização em Nova Erechim, nas margens da BR-282. Ele tem apenas 21 anos e há um ano e quatro meses trabalha como funcionário de uma empresa de Nova Erechim, a LDV Transportes.
Covatti conta que, quando começou a trabalhar, o diesel estava a R$ 2,30. Agora, com os aumentos, está em R$ 3. Mesmo sendo apenas funcionário ele sente na pele o aumento dos custos pois sua comissão deve baixar de 15% para 13%. Ele transporta portas de uma fábrica em Nova Erechim para o Espírito Santo e tem uma renda bruta de R$ 4 mil mensais, mas a despesa durante a viagem chega a R$ 1 mil e ainda tem R$ 730 de aluguel.
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Mesmo ficando sem renda nesses dias ele se engajou na mobilização para defender melhorias para o setor de transportes. Confira a entrevista que ele deu ao Diário Catarinense
Por que você decidiu aderir ao movimento?
Porque com esse aumento dos combustíveis vai baixar meu salário. Eu só ganho comissão e a comissão deve cair de 15% para 13% se não houver uma mudança. Um frete para o Espírito Santo está R$ 8 mil e sobra apenas R$ 2 mil. Isso não dá nem para o desgaste do caminhão. O frete não aumentou mas aumentou o pedágio e os combustíveis. Ou a gente faz a greve e todo mundo ajuda ou o setor vai falir.
Quais são as outras reivindicações?
Não dá para pagar eixo erguido em pedágio. A gente gasta R$ 750 em pedágio para ir para São Paulo. As estradas estão ruims. Em Santa Catarina a BR-282 e a SC-469 estão cheias de buracos A gente arrisca quebrar um eixo.
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O que vocês acham da vinda da força policial para liberar as rodovias?
É uma vergonha. Nossa manifestação é pacífica. Estamos liberando carro pequeno, câmaria fria fica só 48 horas e carga perecível está passando. Não tem nada ilegal.
Mas vocês não estão forçando o pessoal a parar?
O pessoal está sabendo que caminhão não passa.
“A reivindicação é justa mas teria que ser melhor organizada”
Neri Correia, 45 anos, saiu de casa no domingo para buscar uma carga de frango em Itapiranga, a mais de 700 quilômetros de sua casa, em Itajaí. Ele trabalha para uma empresa de transportes de carga. Mas dois dias depois ele ainda estava a 200 quilômetros de seu destino.
Primeiro ele ficou parado na barreira em Xanxerê. Depois, com a intervenção da Polícia Rodoviária Federal , conseguiu andar mais cerca de 50 quilômetros, até ser barrado novamente, em Nova Erechim. Correia falou ao Diário Catarinense que a reivindicação é justa mas critica a forma de organização.
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Você concorda com a manifestação?
A reivindicação é justa mas está mal organizada. Tinha que definir uma data e aí pais de família poderiam ficar em casa. Além disso não tinha condições de banheiro e higiene em Xanxerê. É arriscado ficar parado na estrada pois há risco de roubo. Além disso eles ameçavam com um cone quem não queria parar.
Mas a situação não está difícil para o setor?
Eu sou empregado. Ganho comissão. Se ficar parado não ganho e tenho a família para sustentar.
Quanto você deixou de ganhar com essa paralisação?
Em três dias já são R$ 500 que a gente não ganha. Isso depois fará falta.
Região rural apoia manifesto
Em São José dos Cedros, Extremo Oeste do Estado, cidade com cerca de 14 mil habitantes, a população sente diretamente os impactos do protesto de caminhoneiros que afeta vários estados do país. Vários serviços estão paralisados pela falta de combustível que já afeta cerca de 300 postos da região Oeste de Santa Catarina.
De acordo com o secretário de Administração da cidade, Fábio Machado, a sede da Prefeitura, a Secretaria de Transporte, Obras, Esporte, Assistência Social estão com os serviços suspensos. O comércio local também fechou as portas e nos supermercados faltam legumes, verduras, entre outros produtos.
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– A suspensão dos serviços é uma adesão ao manifesto que não afeta somente motoristas mas todo o município que depende da agricultura – frisou o secretário.
Nesta terça, agricultores também começaram a jogar fora leite, que não está sendo recolhido. Alguns ainda conseguem produzir queijo, mas já falta coalho para a produção do alimento. A prefeitura ainda não tem contabilizado quantos litros de leite foram dispensados. A quantidade reserva de combustível nos postos está sendo utilizada somente para os serviços públicos essências como a saúde.
*Colaborou Mônica Foltran
Confira mapa atualizado pela PRF dos pontos interrompidos:
Rodovias estaduais
Segundo informações da Polícia Militar Rodoviária de Santa Catarina (PMRv), os protestos estão espalhados por diversos trechos de rodovias estaduais, a maioria no Oeste.
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A paralisação
A paralisação dos caminhoneiros começou na quarta ganhou força na sexta-feira. Motoristas protestam contra o aumento dos combustíveis e más condições das estradas, entre vários outros itens.
O movimento é independente, liderado por caminhoneiros autônomos da região. Vilmar Bonora, um dos organizadores do protesto, afirma que eles estão dispostos a ficar até 30 dias parados, se for necessário.
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* Com informações da redação e da Agência Estado