O Festival de Dança de Joinville começa nesta terça-feira pela 35ª vez, com a missão de manter seu papel de símbolo da excelência em dança no Brasil. Evento pioneiro na área, se reinventa a cada ano, e a cada edição bate seu próprio recorde. Em 2017, 7.800 pessoas confirmaram participação após 3.326 coreografias terem sido submetidas à tradicional seleção anual para a programação do Festival de Joinville. Serão 240 horas de espetáculos só na Mostra Competitiva, no Meia Ponta e nos Palcos Abertos, quando estudantes de dança são as estrelas do espetáculo.

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A Noite de Abertura (quarta-feira) contará com um dos maiores ícones da dança contemporânea no Brasil, a Cia. Deborah Colker, com o mais recente trabalho, Cão sem Plumas. Na Noite de Gala (dia 24), o passado recente será revisitado com a apresentação de bailarinos e grupos que se destacaram nas últimas edições da Mostra Competitiva e se tornaram profissionais, no espetáculo Gala 35 Anos.

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Outros sete espetáculos serão apresentados na Mostra Contemporânea de Dança (dias 22, 26, 28 e 29), que reúne trabalhos inovadores em diferentes gêneros; e na Estímulo Mostra de Dança (dias 20 e 27), em que grupos e escolas premiados no Festival são incentivados a produzir e apresentar obras completas no palco do Teatro Juarez Machado.

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Festival de Joinville divulga selecionados para Mostra Competitiva

Neste ano, o evento começa um dia antes da Noite de Abertura, como uma forma de valorizar os cursos oferecidos pelo evento: são 97 cursos com alguns dos profissionais mais renomados da área ensinando não só aos jovens estudantes, mas também seus professores e coreógrafos.

Uma história de sucesso

Se, em 1983, alguém parasse para idealizar um evento que marcaria Joinville e cresceria a ponto de se tornar referência na América Latina, a dança seria provavelmente um dos últimos temas apontados na lista de opções. Quando o primeiro Festival de Dança foi organizado, a grande preocupação era se os participantes realmente viriam: até então, nada fazia de Joinville uma cidade com destaque na área em relação a qualquer outra cidade do Brasil.

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Mesmo assim, só na primeira edição, cerca de 660 pessoas participaram do Festival de Dança – eram alunos de dança sedentos por palcos e por encontros com outros bailarinos. Desde então, cerca de 4,5 milhões de pessoas já passaram por Joinville no período do Festival nestes 35 anos.

— São vários pontos que ajudaram o Festival a se desenvolver. Existia um vácuo nessa área e eles [os primeiros organizadores] tiveram esta clarividência de fazer o evento na época das férias escolares, com estudantes e reunindo todos os gêneros da dança, o que só existe no Brasil — avalia o presidente do Instituto Festival de Dança, Ely Diniz.

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Conheça o cartaz oficial do Festival de Dança 2017

Ele não é, no entanto, um fenômeno isolado, que começa e termina nos 12 dias de julho em que a cidade ao Norte de Santa Catarina recebe pessoas do Brasil inteiro para o evento. A pesquisadora em dança Thereza Rocha explica o Festival de Dança de Joinville com a analogia da pedrinha jogada no lago que produz ondas para todas as direções: durante o ano inteiro, escolas e bailarinos se preparam para atingir o nível de excelência exigido para conseguir uma vaga na programação do evento – de preferência na Mostra Competitiva.

Além disso, ter premiações do Festival de Dança de Joinville no currículo tem um significado especial, que podem ajudar os bailarinos a serem contratados por grandes companhias nacionais e fazer grupos de dança independentes conseguirem convites para apresentações com cachê.

— O Festival de Dança tem sua parcela de responsabilidade no desenvolvimento da carreira de quase todo bailarino de destaque no Brasil. É difícil encontrar pessoas que estão em grandes companhias hoje que não tenham passado por Joinville — afirma o bailarino e coreógrafo Marcelo Misailidis.

Em 2005, o Guinness Book, publicação que registra os recordes mundiais, incluiu o Festival de Joinville no tópico ¿maior festival de dança do mundo¿, já que, no ano anterior, o evento havia reunido 4.500 participantes de mais de 140 grupos amadores e profissionais. Em 2017, este número já subiu para 7.800 participantes de 408 grupos. Mas, mais do que colecionar recordes, a organização quer garantir qualidade nas questões artísticas.

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— Não temos a pretensão de ser o melhor do mundo, mas de estar entre os mais representativos do mundo. Em termos artísticos, o Festival de Joinville é o retrato do que está sendo feito na dança brasileira, que atualmente está exportando bailarinos para vários países — avalia Ely Diniz.

Festival começou a ser realizado no Ginásio Ivan Rodrigues e sempre teve um público fiel
Festival começou a ser realizado no Ginásio Ivan Rodrigues e sempre teve um público fiel (Foto: Reprodução / Arquivo pessoal)

Um festival pioneiro e diferente

Quando Albertina Tuma e Carlos Tafur, na época diretora da Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior e coordenador da Escola Municipal de Dança, decidiram assumir a responsabilidade de organizar um evento de dança em Joinville, não havia muitos modelos a seguir. Os festivais de dança que já haviam acontecido até então no Brasil limitavam-se ao eixo Rio-São Paulo, sem grande repercussão.

Por isso, decidiram reunir os quatro gêneros mais em alta na época – clássico, jazz, folclórico e moderno – que, com os anos, aumentaram e se adequaram às novas denominações: neoclássico, balé clássico de repertório, jazz, danças populares, dança contemporânea, sapateado e danças urbanas. Não há, em nenhum outro lugar do mundo, outro festival de dança que reúna tantos gêneros, a não ser no Brasil, em mostras e festivais que, de alguma forma, se inspiraram em Joinville.

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— Em primeiro lugar, é claro, há o pioneirismo, mas o mais importante foi ter se profissionalizado a ponto de se tornar modelo neste nicho. Não se alcança este patamar a custo de uma boa ideia. Ela deve estar cercada de uma estrutura de profissionais e estar disposta a se modificar, tudo de forma muito criteriosa e cuidadosa — avalia Thereza Rocha, curadora artística do Festival.

O que o grande público enxerga, geralmente, no Festival de Joinville são os espetáculos: as noites com convidados especiais, a Mostra Competitiva e as apresentações pelas ruas da cidade. O que faz o evento tornar-se referência, no entanto, é muito mais: seu caráter é de ser um festival-escola, que oferece quase cem opções de cursos, com 3.480 vagas, um seminário com foco acadêmico com duração de dois dias, sessões de filmes temáticos, exposições e mostras paralelas.

O Festival sedia, ainda, a maior feira de artigos de dança da América Latina, que reúne figurinos, acessórios, equipamentos e outros produtos específicos para estudantes, bailarinos, professores e coreógrafos.

— Ele não é importante só para quem está competindo, mas para o aprendizado. Na Feira da Sapatilha, circulam informações e há lançamentos de novidades às quais as pessoas não têm acesso, mesmo quem mora nos grandes centros. Não se vê no Rio, em São Paulo, Belo Horizonte um décimo do que é possível encontrar em Joinville. Aqui, as pessoas passam por uma imersão em dança – afirma Marcelo Misailidis.

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Jorge Teixeira é considerado um dos coreógrafos mais importantes da nova geração
Jorge Teixeira é considerado um dos coreógrafos mais importantes da nova geração (Foto: Cynthia Vanzella / Agencia RBS)

O mérito de ser um ¿bailarino de ouro¿

O principal acesso à arena multiuso do Centreventos Cau Hansen guarda a ¿passarela da fama¿, na qual todos os anos são atualizados os novos premiados das categorias especiais, como melhor bailarino e bailarina, melhor grupo, melhor coreógrafo e revelação. São os grandes destaques do evento, que têm o nome registrado para a posteridade, mas, para a maioria dos estudantes de dança e seus professores, o simples fato de estar na programação do Festival de Joinville é uma grande conquista.

Nos últimos anos, o número de vagas para a Mostra Competitiva diminuiu, exigindo ainda mais virtuosidade de quem consegue chegar à competição. Quem chega à Mostra Competitiva já tem a certeza de estar entre os melhores, mas o Palco Aberto, atualmente, também é motivo de orgulho. Se no passado não havia nenhum critério para fazer dançar nos palcos de rua e dos shoppings, agora a programação também é formada por coreografias de escolas que passaram pela peneira de uma rigorosa seletiva.

Ela começa com a seleção por meio de vídeos, assistidos por três especialistas de cada gênero que, individualmente, analisarão e darão notas. Se a média formada após esta avaliação for inferior a 7, o trabalho não segue para a segunda etapa, quando as apresentações são avaliadas pela curadoria artística do Festival de Joinville, atualmente formada por Ana Botafogo, Mônica Mion e Thereza Rocha. Elas escolherão quem chega à Mostra Competitiva – por vezes, apenas duas obras do mesmo gênero, modalidade e faixa etária entram para o programa.

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— Neste ano, mais de 3 mil coreografias foram inscritas e, destas, 239 foram escolhidas para a Mostra Competitiva. Estamos falando de 6,7%. A maior parte vem para dançar no Palco Aberto. Temos 12 Estados e o Distrito Federal representados na Competitiva e 18 Estados no total: pessoas de seis Estados vêm só para dançar nos Palcos Abertos — enumera Ely Diniz.

O coreógrafo Jorge Teixeira, do Rio de Janeiro, sabe o que significa chegar ao nível de ser selecionado para a Mostra Competitiva. Ele conheceu o Festival de Joinville em 1989, quando veio fazer cursos com mestres como Jair Moraes e Roseli Rodrigues. Era apenas a sétima edição, mas a fama do evento já era a de ser o melhor do Brasil.

— As pessoas falavam que passar para dançar em Joinville era muito difícil. Somente as melhores escolas competiam aqui. Ser selecionado e dançar no Festival de Joinville já era a realização do sonho — lembra ele.

Quando viu, Jorge estava nos créditos como coreógrafo de várias apresentações na Mostra Competitiva. O evento virou parâmetro de qualidade: os espetáculos de sua escola eram preparados para estrear em Joinville, com investimentos altos na produção que, depois de premiada no Festival, tinha mais chances de conseguir convites para apresentações remuneradas.

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Com o passar dos anos, os sonhos de Jorge em relação a Joinville mudaram: em 2008, depois de 15 dos 16 trabalhos premiados, a meta tornou-se retornar um dia como convidado. A partir de 2017, ele começa a procurar outros objetivos em relação ao Festival: sua companhia profissional, formada a partir de alunos premiados em Joinville, é um dos destaques da Noite de Gala do 35ª Festival.

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