Por definição clássica, desapego é falta de afeto, desamor, desinteresse e indiferença. Nos dicionários, ao lado da palavrinha desapego vai aparecer tudo isso aí. Mas nos últimos tempos tem sido utilizada para essa palavra a definição de ausência de possessividade em relação a coisas/pessoas. Lindo, né?

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“Não digam aos velhos que eles estão na melhor idade. É deboche”

Pessoas maduras e saudáveis deveriam entender o desapego como algo natural e lidar melhor com rompimentos, pois, como já dizia a dupla Milionário e José Rico “nesta longa estrada da vida vamos correndo e não podemos parar”. Então, se precisamos correr sem parar, é meio óbvio que temos que levar o mínimo de bagagem, ou caso contrário, seremos vencidos pelo cansaço.

Estamos adaptados a definição de desapego

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como falta de interesse e não de ausência de posse

Quando eu tinha uns 10 anos sonhava em passar a minha vida com uma mochila nas costas conhecendo lugares onde um saco de pipoca Bilu e um colchonete eram tudo o que eu realmente julgava necessário possuir. Mas o tempo foi passando e descobri que o estilo hippie era bacana, mas o capitalismo tinha cada sapato lindo que acabei não resistindo e junto com a maioria de vocês caí nesse pacto demoníaco de encher armários e esvaziar bolsos.

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E assim seguimos amontoando coisas e tomando posse delas. Sejam roupas, bolsas, acessórios, dinheiro, emprego, amizade ou relações, não importa, contando que seja nosso – SÓ NOSSO. E no meio desse círculo vicioso de possuir, possuir e possuir vem a vida bem malvada e joga areia nos seus olhos, te da um soco na boca do estômago e te ensina na marra o que é ter que desapegar de um bom emprego, de um grande amor ou de algo que você julgou nunca perder. E o sofrimento é demasiado, porque estamos adaptados a definição de desapego como falta de interesse e não de ausência de posse, a chave que te dá a liberdade para novas experimentações.

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Algumas pessoas ligadas à necessidade de aprender a desapegar começaram fazendo isso com coisas simples e pelo que tenho visto tem sido libertador. Brechós virtuais, grupos de trocas e armários cápsulas fazem o maior sucesso e mostram na prática que a felicidade está muito além do verbo possuir.

Até as crianças entraram na onda e em algumas cidades do Estado existem empresas especializadas em realizar a troca ou alugar brinquedos, já que curiosidade infantil faz com que tudo perca a graça muito rápido, então é um desafio para os pais manter seus filhos felizes e realizados com aquilo que possuem. É uma bela forma de ensinar nossos pequenos que o desapego é saudável, necessário e até prazeroso, já que cada vez que eu abrir mão de algo virá outra coisa que me encherá os olhos e me fará tão ou mais feliz.

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Tenho fé de que a futura geração entenderá sobre desapego muito melhor do que nós e aprenderá a parar de fazer drama por tudo aquilo que se vai para comemorar com mais ênfase todas as coisas boas que chegarão.

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Fátima Barbi é blogueira do Tainha com Abobrinha.