Era a madrugada de quinta-feira, 11 de julho de 2014, quando a polícia de Rio Negrinho chegou a uma casa no interior da cidade, afastada cerca de dez quilômetros da área urbana, para prender o patriarca de uma família composta por 17 pessoas.
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O homem de 45 anos era acusado, por meio de uma denúncia anônima, de abusar sexualmente de duas filhas por quase 20 anos e ter gerado três crianças com cada uma delas. O caso surpreendeu a comunidade e completa um ano neste sábado. O homem está preso preventivamente no Presídio Regional de Mafra e ainda aguarda a sentença do julgamento.
Após um ano, o caso agora está próximo do fim. Por meio da assessoria, a juíza Monike Silva Pôvoas, da 2ª Vara Criminal, informou que começou a análise do caso, mas, por ser muito complexo, ainda está na elaboração da sentença, que deve ser concluída nos próximos dias.
O advogado de defesa, Antonio Carlos Brasil de Oliveira Filho, antecipa que, sem sombra de dúvidas, o réu deve ser condenado por estupro continuado por ter cometido o abuso sexual contra as filhas durante anos seguidos.
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– Em virtude do fato de ele ter filhos com as próprias filhas é uma situação que inviabiliza qualquer absolvição. Os estupros estão automaticamente comprovados, já que os exames de DNA comprovaram que o avô é o pai das crianças. Tenho que esperar a sentença para avaliar se a pena foi dosada – explica.
O homem responde por estupro, prática de tortura e coação. O último agravante se caracteriza porque, segundo a acusação, o réu obrigou as filhas e a esposa a mentirem em investigação policial no ano de 2008, assim como em processo judicial em 2013. A primeira investigação ocorreu porque uma das vítimas tentou buscar ajuda, mas depois acabou negando os crimes.
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Entenda o caso:
O acusado morava com a mulher e os 15 filhos (nove deles com a esposa) há cerca de dois anos em uma casa simples, às margens de uma estrada de chão. A família sobrevivia com o salário do patriarca e da filha mais velha. Os dois trabalhavam no corte e no reflorestamento de pínus na região.
Em depoimento à polícia, a esposa contou que vivia sob ameaças constantes. As duas filhas mais velhas, de 24 e 22 anos, também eram alvo de agressões. Na delegacia, elas contaram terem sido estupradas inúmeras vezes. A primogênita revelou que era abusada sexualmente desde os cinco anos de idade pelo pai.
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Acuadas, elas jamais deixaram a casa e sofriam com o autoritarismo e a violência do pai, que chegou ameaçar matar uma delas caso fosse desrespeitado. No ano passado, a filha de 24 anos contou à reportagem de “AN” que todos os dias o pai tinha um motivo para levar uma das meninas para sair – e cometer o crime no meio do caminho. Quando surgia a gravidez, ele mandava que elas mentissem sobre a paternidade.
As mulheres da casa eram obrigadas, sob ameaças, a cortar as unhas dos seus pés e arrancar os cabelos brancos do homem, mas não podiam se dar o direito de cuidar da própria aparência – fazer as sobrancelhas ou pintar as unhas era motivo para mais um ataque de fúria.
Assim como fazia com a mulher e os filhos, o pai também não valorizava os recém-nascidos. Cerca de um ano antes de ser preso, o homem colocou os meninos da família para dormir em uma espécie de trailer que ficava ao lado da casa. Tudo para que ele fosse o único homem dentro da residência.
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Casada com o acusado há 25 anos, quando o conheceu em Barra Velha, a esposa sabia que o marido abusava das filhas, mas disse que nunca teve coragem de denunciar o homem por temer pela vida dela e da família. Após a prisão do marido, ela reuniu a família e se mudou para a Grande Florianópolis em busca de um recomeço ao lado das filhas.