Cercados pelo verde da mata e das plantações de pínus, o marido, a esposa e os 15 filhos (nove deles com a esposa) moravam há cerca de dois anos em uma casa simples, às margens de uma estrada de chão e distante cerca de dez quilômetros da área urbana de Rio Negrinho. A família sobrevivia com o salário do patriarca e da filha mais velha. Os dois trabalhavam no corte e no reflorestamento de pínus na região.

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A tranquilidade da natureza, porém, contrastava com a violência física e emocional que o homem de 45 anos exercia sobre a esposa e os filhos. Em depoimento à polícia após a prisão do marido, a esposa contou que vivia sob ameaças constantes. As duas filhas mais velhas, de 24 e 22 anos, também eram alvo de agressões. Na delegacia, elas contaram terem sido estupradas inúmeras vezes.

A primogênita revelou que era abusada sexualmente desde os cinco anos de idade pelo pai. A notícia surpreendeu o casal de vizinhos da família que mora a cerca de um quilômetro de distância da casa. À reportagem de “AN”, o casal disse conhecer o suspeito há pelo menos oito anos e que mantinha contato frequente com ele. Apesar do convívio próximo, nunca desconfiaram de nada, muito menos de que o homem era o pai e também avô de seis crianças.

_ Eu já tinha perguntado de quem eram os filhos das duas meninas. Uma vez, ele me contou que uma das crianças era filha de um motorista de ônibus _ destacou a vizinha, que pediu para não ser identificada.

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De acordo com a mulher, na maioria das vezes, ela nem sabia que uma das filhas do homem estava grávida. A novidade era contada pelo vizinho sempre depois de a criança nascer. A mulher lembrou que uma vez a família mudou-se da região, ficou alguns meses fora e, quando retornou, havia mais uma criança gerada por uma das jovens.

Antes de a prisão do agricultor acontecer, a vizinha soube que o homem brigava muito com a esposa dentro de casa e que nada do que ela fazia estava bom para o marido. A vizinha só não desconfiava que o homem era capaz de praticar agressões tão violentas contra as próprias filhas.

Convivência tranquila com os vizinhos

Quando o homem foi preso, a vizinha começou a lembrar de hábitos suspeitos do homem, os quais poderiam indicar momentos em que ele abusava sexualmente das garotas.

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_ Às vezes, ele saía de moto ou de trator com uma das filhas para o mato dizendo que ia buscar um machado que tinha esquecido ou para terminar algum serviço _ recorda a mulher.

Ao descobrir o que havia acontecido, a vizinha tomou um susto, principalmente porque ele não passava uma imagem tão agressiva às outras pessoas. O homem, inclusive, frequentava a casa dos vizinhos, tomava chimarrão e fazia churrasco com o dono da casa.

No fim de ano ou então no aniversário de algum filho, o homem fazia festa e se divertia com as crianças jogando futebol no gramado em frente à casa. O único convidado para participar da brincadeira, além da própria família, era o casal de vizinhos.

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Além das festas na casa da família, a vizinha não costumava ver os outros familiares. Tinha contato apenas com as duas filhas que saíam com o pai e com uma ou outra criança que convidava o filho do casal para jogar videogame. A única vez em que todos estiveram reunidos na casa dela foi em um aniversário, em março.

_ Eu sentia que as meninas eram bem tristes. Falei com a mais velha uma vez, e ela disse que o sonho dela era arrumar uma casa e ir embora com os filhos.

Igreja

Um dos padres da Paróquia Santo Antônio de Pádua, localizada no Centro de Rio Negrinho, que celebra missas em uma capela próxima à casa da família das vítimas de abuso, disse desconhecer o homem suspeito de estupro. Em conversa com a reportagem de “AN”, a filha mais velha do suspeito afirmou que o pai não deixava a família frequentar a capela. A versão foi confirmada pelo padre, que afirmou nunca ter visto a família nas missas realizadas na comunidade.

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_ As pessoas que frequentam a capela, em geral, são sempre as mesmas. Acho que a família não é residente de longa data naquela localidade e também não participa muito das atividades _ informou o padre.

O religioso revelou ainda ter conversado com muitas pessoas nos últimos dias a respeito do caso, mas que a maioria delas não entendeu bem o que aconteceu.

Maternidade

Funcionários da Fundação Hospitalar de Rio Negrinho, a única maternidade da cidade, também não lembram da família envolvida no caso de estupro. Segundo a enfermeira Maria Emi de Castilhos Packer, seria difícil saber quem eram as duas filhas que foram estupradas pelo pai. Isso porque a maternidade não costuma perguntar detalhes sobre a vida pessoal das grávidas durante o atendimento.

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_ É muito comum meninas chegarem aqui para dar à luz e não saberem quem é o pai do bebê. Se elas vieram, a gente não percebeu _ explicou.

Na última semana, a filha mais velha do suspeito de estupro contou à reportagem que teve os três filhos na maternidade da Fundação Hospitalar de Rio Negrinho. No entanto, quando era questionada pelos profissionais da maternidade sobre quem era o pai da criança, ela desconversava e dizia que era mãe solteira.

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