Mandado de volta para Rosario na noite de segunda-feira após ser barrado ao tentar ingressar no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o argentino Daniel Atardo, 45 anos, entrou com uma ação na Justiça de seu país para retornar ao Brasil. Torcedor do Rosario Central, ele está na lista de 2,1 mil barrabravas considerados perigosos pela Interpol e Polícia Federal (PF). Atardo, o único barrado até o momento, seguia para o Rio de Janeiro quando ouviu que teria de desistir da viagem.
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– Ele não tinha antecedentes por briga de torcidas. Foi um erro do nosso governo a sua inclusão e, como foi um erro, as autoridades devem voltar atrás. Se fosse uma pessoa com histórico de violência, tudo bem. Queremos que a diplomacia brasileira e o nosso governo não cometam injustiças – argumenta a advogada Débora Hambo, que defende Atardo e outros torcedores de 38 barrabravas.
Débora esteve à frente da ONG Hinchadas Unidas Argentinas (HUA), que levou centenas de barra bravas à Copa do Mundo da África do Sul, em 2010. A organização acabou dissolvida semanas antes da Copa de 2014, alegando falta de apoio da Associação de Futebol Argentina (AFA).
Veja fotos dos barrabravas argentinos na galeria abaixo
Conhecido como “El Rana”, Daniel Atardo é delegado do sindicato Unión del Personal Civil de La Nación (UPCN), que congrega os servidores da administração pública nacional argentina.
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Especialistas alertam para abuso em lista
A relação de barrabravas violentos foi elaborada pelo Ministério da Segurança da Argentina e enviada às forças policiais brasileiras há mais de três semanas. Com base nela, a PF garante que não permitirá o ingresso dos hinchas agressivos.
A determinação foi reforçada com a publicação da Portaria 933 no Diário Oficial da União da última terça-feira. Assinada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ela impede a entrada no país “de pessoa que conste no Sistema Nacional de Procurados e Impedidos como ‘membro de torcida envolvida em estádios’ durante o período da Copa do Mundo, a ser aplicada pelos servidores responsáveis pelo controle fronteiriço e de atividades de fiscalização migratória nos portos, aeroportos e de atividades de fiscalização migratória”. A Portaria não deixa claro, porém, se serão barradas apenas pessoas com problemas judiciais.
– Até que ponto essa atitude não é uma restrição à liberdade do cidadão? Cabe, sim, à autoridade prevenir-se para evitar atos ilegais ou despropositados, mas parece que há um excesso de zelo. Se não houve responsabilização criminal prévia, a medida torna-se excessiva. Proibir torcidas organizadas que já tenham um passado de violência é razoável, não pessoas isoladas, sem indiciamentos, nos seus países de origem – entende o professor de Direito Constitucional Eduardo Carrion, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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Já o doutor em Direito Penal e advogado criminalista Ricardo Breier explica que a Portaria pode ser questionada e que os torcedores impedidos de circular no Brasil durante a Copa podem processar o Estado:
– No aspecto global, a tutela de proteção de todos os que vêm cabe a nós. Podemos criar critérios nesse sentido. Sob o aspecto da segurança, as medidas se tornam legais, desde que não afetem pessoas sem envolvimentos com a Justiça. Há que se ter provas. Quem se sentir prejudicado pode requerer a reparação do dano. Estamos falando de responsabilidades pessoais, não de uma torcida especificamente.
No Infográfico, confira como se sustentam os barrabravas:
Quem são os barrabravas
Em cinco das últimas sete Copas do Mundo eles arrumaram confusão e espalharam medo. Brigaram entre si, com torcedores de outros países, foram deportados e mataram um homem na África do Sul. Voltaram para casa com máscaras e dedos em riste. Organizados nos moldes da máfia, eles subornam policiais, pressionam dirigentes, vendem drogas nas arquibancadas e imediações dos estádios, administram estacionamentos, repassam ingressos, cobram comissões por passes de jogadores e militam em partidos.
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Os barrabravas argentinos, conhecidos mundialmente pelos trapos e cantorias intermináveis nas canchas da América Latina, se especializaram em atos ilícitos e estão entranhados no futebol e na política da Argentina bem além do espetáculo. Em Porto Alegre, eles estarão no dia 25 para o jogo contra a Nigéria no Beira-Rio, o último da primeira fase.
Nas últimas décadas, os barrabravas foram responsáveis por grande parte das agressões em partidas de futebol na Argentina. Desde os anos 1920, conforme a ONG Salvemos al Fútbol (SAF), já causaram mais de 270 mortes.