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“Sempre há algum problema em Copas”

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Editor do diário esportivo argentino Olé, Gustavo Grabia, 46 anos, é hoje o maior especialista em barrabravas no mundo. Ele levou quatro anos para reunir as informações do livro La Doce – A Verdadeira História da Barrabrava do Boca, sobre a violenta torcida do Boca Juniors, e investiga permanentemente os crimes cometidos pelas organizadas no país. Em entrevista a Zero Hora, Grabia disse temer atos violentos durante a Copa do Mundo. Confira os principais trechos:

Torcidas rivais, que pregam o ódio mútuo, se unem durante a Copa do Mundo. Como isso é possível?

Há cinco anos, eles resolveram se agrupar na Hinchadas Unidas Argentinas (HUA) para poder viajar ao Mundial da África do Sul. Para isso, trabalharam junto ao governo de Cristina Kirchner e, em contrapartida, foram financiados. Agora, decidiram seguir com esse esquema. Perceberam que quanto mais se organizam, mais pressão exercem nos políticos, clubes e sindicatos. O país está rivalizado politicamente, e eles aproveitam esse momento da Copa do Mundo, em que há uma trégua em nome da seleção, para atuar.

Essa união deles será uma garantia de paz durante os jogos no Brasil?

A união se faz para poder conseguir os ingressos, as passagens aéreas e os financiamentos. Uma vez atingido os objetivos, está feito. Sempre há algum problema em Copas, não posso assegurar que não vai acontecer nada no Brasil. Historicamente sempre acontece confusão. Creio que eles até viajam com a ideia de que não ocorra nada, mas o desenrolar diz outra coisa.

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Existe uma torcida oficial em cada Copa, relacionada ao treinador da seleção?

Não. Da mesma forma que aconteceu no último Mundial, a hinchada que terá a maior quantidade de adeptos é a do Independiente. São eles que lideram atualmente a HUA, mas isso vai mudando.

O senhor considera as barrabravas organizações mafiosas?

Não tenho nenhuma dúvida de que são mafiosas pelos métodos de pressão e ameaça que utilizam. Eles chegaram ao entendimento de que individualmente são pequenos, mas unidos, uma grande torcida. Isso lhes dá mais poder de negociação com as autoridades e mais benefícios. Hoje, as barras trabalham para um monte de políticos, cada uma atua para o partido político de sua zona, já não estão mais vinculadas apenas ao governo federal. Os partidos políticos se aproveitam delas como uma força policial. Eu não tenho esperança de que a situação melhore. A tendência é só piorar. Oxalá que eu me equivoce.