Um encontro promovido na manhã desta sexta-feira na Associação dos Hospitais do Estado de Santa Catarina (Ahesc), em Florianópolis, reuniu representantes e diretores de hospitais de todo o Estado. A situação financeira dos hospitais, que também acarretou na suspensão dos mutirões de cirurgia, foi o tema que norteou a conversa que se estendeu pela tarde.

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Entre os principais pontos apresentados pela Ahesc, estavam a luta pela aprovação de Propostas de Emenda à Constituição (PECs) e projetos de lei relacionados as garantias de repasse de recursos para a saúde, regulação dos pagamentos atrasados _ que hoje somam cerca de R$ 37 milhões _, atualização dos valores repassados com base nos custos dos procedimentos e também a atualização do índice de reajuste anual dos contratos.

Entre os assuntos discutidos, a situação dos hospitais filantrópicos, que chegaram a ter que suspender os mutirões de cirurgias, foi bastante difundido. Os mutirões, programa subsidiado pelo governo federal há quase três anos, está suspenso em SC há um mês por falta de verba. A expectativa dos hospitais era de retomar os procedimentos no começo de julho, mas não há indicativos que isto de fato vai ocorrer.

Conforme o presidente da Federação dos Hospitais Filantrópicos do Estado de SC (Fehosc), Hilário Dalmann, hospitais de grande porte chegavam a fazer 200 cirurgias por dia e os de pequeno porte, até 90 procedimentos diários.

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— O mutirão está suspenso há um mês, mas durante o ano todo os hospitais já diminuíram o ritmo. As dívidas que eram de maio do ano passado, foram praticamente quitadas. Mas a partir de 2016 voltou a atrasar tudo. Até surgiu essa possibilidade de retomar os mutirões, mas dependemos da quitação da dívida. Queremos receber pelo serviço prestado — afirma.

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Dalmann ainda esclarece que, no total, as dívidas dos hospitais no Estado giram em torno dos R$ 200 milhões, entretanto, a parte que diz respeito ao governo e que interfere nos trabalhos dos mutirões, são os R$ 37 milhões.

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— Isso é na saúde como um todo. Esses R$ 200 milhões são a dívida dos hospitais filantrópicos no total. Estamos falando de empréstimos antigos, dívidas que se acumulam justamente por conta da defasagem da tabela, da má remuneração. Cada mês é preciso ir ao banco buscar dinheiro para cobrir a folha, então as instituições vão se endividando cada vez mais _ pontua.

A busca por recursos

Dalmann ainda comenta que as conversas com o governador do Estado Raimundo Colombo sobre o possível repasse de verbas para a saúde ainda estão engatinhando. A possibilidade surgiu depois que a União sinalizou positivamente para a renegociação da dívida dos Estados, acordo que deu fôlego para a administração catarinense.

— De imediato temos em vista a possibilidade do retorno do dinheiro da Assembleia (Legislativa de SC). A gente até agradece, mas parece que depende de aprovação ainda. Claro, isso é insuficiente. Não quer dizer que vai resolver o nosso problema, mas já ajuda a respirar. Vai amenizar um pouco — complementa Dalmann.

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Presidente da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de SC (Fehoesc) e presidente da Confederação Nacional da Saúde (CNS), Tércio Kasten, aponta outras saídas para a crise. Kasten, que afirma ter se reunido com frequência com o presidente interino Michel Temer, afirma que uma proposta que sugere a reestruturação do sistema chegou a ser entregue ao governante.

— Não tem dinheiro e imposto suficiente para cobrir esse tipo de demanda financeira, mas a constituição está ai. A saúde é um direito, mas também é um problema que o gestor não sabe como resolver. Já tivemos audiências com o Ministro da Saúde, do Trabalho e com o próprio Temer, expondo essa situação toda. Resta saber o que vem de reforma do governo agora — conclui Kasten.

Secretário da Saúde de SC desconhece valor da divida

Em entrevista a Rádio CBN Diário na manhã desta sexta-feira, o Secretário de Estado da Saúde, João Paulo Kleinübing, afirmou desconhecer a divida de R$ 37 milhões dos hospitais filantrópicos do Estado. Segundo o secretário, ao contrário do que diz a Associação dos Hospitais, o Estado deve somente cerca de R$ 1,5 milhões. Disse ainda que esse montante deverá ser pago nas próximas semanas.

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Secretário da Saúde de SC questiona valor da divida aos Hospitais Filantrópicos

— Se nós olharmos para o mutirão de cirurgias eletivas, nós estamos agora praticamente encaminhando o pagamento de abril e maio, e ficando dentro do prazo previsto. [O valor] de abril deve ter R$ 1,5 milhão aproximadamente e R$ 2 milhões do ano passado, mas não por atraso de pagamento e sim por atraso no envio de documentação — garantiu.

Indagado sobre a ameaça por parte dos hospitais filantropos _ responsáveis por 68% dos atendimentos no SUS _ de seguir com a suspensão das cirurgias eletivas no próximo mês, Kleinübing disse desconhecer a informação e não acreditar no cancelamento das operações.