A Fundação Catarinense de Assistência Social (Fucas), na região Continental de Florianópolis, retornou às aulas nesta segunda-feira, 2, após dois meses de atraso, incertezas e intervenção do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC). Pelo menos 149 crianças e adolescentes estão matriculadas nas oficinas oferecidas no contraturno escolar. Mas a entidade tem vaga para um total de 200 jovens.

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Israel Soares Pinto, 10 anos, sonha em ser jogador de futebol. É na quadra da Fucas que o menino, Figueirense de carteirinha e morador do Morro da Caixa, mostra o gosto pelo esporte. Mas Israel não se restringe a uma única atividade.

— O que mais gosto é do esporte porque quero ser jogador profissional, mas eu faço artesanato, judô e informática — conta.

Falando em artesanato, é entre um trabalho manual e outro que os meninos e meninas aprendem lições para a vida. A professora Rosana Regina Silva comenta que eles adoram costurar, colar, recortar, enfim, fazer trabalhos para levar para casa e presentear a família.

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— Como o artesanato é um trabalho manual com muitos detalhes, exige paciência. Muitos ficam afoitos, mas com o tempo vão desacelerando e gostam bastante, fazem trabalhos para presentar as mães ou irmãs, mas também aprendem a costurar para cuidarem das próprias roupas. Isso eles levam para a vida — diz Rosana.

Mal o relógio marcou 7h30min e Camilly Victória Rocha Conti, de 14, já estava na Fucas. Moradora do Jardim Atlântico, a adolescente conta que não via a hora de voltar às aulas na Fucas.

— Até agora tava em casa sem fazer nada. Se não tivesse aulas esse ano, não sei o que faria, gosto muito daqui, das amizades e das atividades.

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Já a amiga Vitória Francine de Assis, 13, estava ansiosa para voltar às oficinas de dança, que quase ficou de fora neste ano.

— Não sabia mais o que fazer em casa. Eu gosto muito de vir pra cá, aqui aprendemos muitas coisas, como o respeito, a convivência, a amizade e o amor — diz.

Segundo a assistente social da Fucas, Juliane Soares Feubach, 149 alunos estão matriculados nas cinco oficinas disponíveis. São 67 pela manhã e 82 à tarde. No entanto, este número tende a aumentar, pois as matrículas ainda estão abertas. Por enquanto, a Fucas oferece aulas de artesanato, judô, informática, esportes e dança.

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— Mesmo tendo apenas cinco atividades, conseguimos manter as aulas, porém, os alunos terão que repetir mais oficinas. Mesmo assim, é melhor que as atividades iniciem dessa forma do que nem comece.

Futuro ainda é incerto

Para que as atividades na Fucas retornassem, o interventor Luiz Antônio Costa, que assumiu provisoriamente a administração da entidade em fevereiro deste ano, vendeu um imóvel no norte da Ilha por R$ 4,5 milhões. Com parte deste dinheiro, a Fucas conseguiu quitar a dívida tributária e a folha de pagamento dos funcionários. Na semana passada, a fundação conseguiu a Certidão Negativa de Débitos e deve receber o restante do valor nos próximos dias. No entanto, segundo Costa, a entidade só tem recursos para se mantém até agosto deste ano.

— Da venda deste imóvel vai ficar entre R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões, que vou manter num fundo de aplicação para a geração de recursos. Isso deve gerar mais ou menos R$ 20 milhões mensais. Aí não vou ter dinheiro suficiente para manter as atividades, por isso vou buscar convênios com outras fundações — diz Costa, que informa que a Fucas tem custo de R$ 150 mil por mês.

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A Fucas já firmou parceria com a Fundação de Estudos Superiores de Administração e Gerência (Esag) no valor de R$ 300 mil até o final do ano. A Esag deve patrocinar as oficinas de informática para 40 alunos. Costa deve apresentar projetos de convênios com a Secretaria de Estado de Assistência Social, a Prefeitura de São José, além de outras entidades.

Porém, se até agosto a Fucas não conseguir firmar outros convênios, ela corre o risco de não andar mais com as próprias pernas. De acordo com Costa, a Fucas poderá ser repassada para outra entidade que atua na área da assistência social.

A atual situação da Fucas ocorre porque a antiga gestão aplicou um patrimônio de mais de R$ 46 milhões em fundos de investimento sem liquidez. Com todo o dinheiro investido a longo prazo, a fundação atrasou o pagamento dos funcionários e diminuiu as atividades por não ter como pagar. Em novembro do ano passado, a 25ª Promotoria de Justiça instaurou inquérito civil para apurar a possível responsabilidade dos gestores para o endividamento da entidade. No entanto, o agravamento da crise fez com que o MP-SC interferisse na administração da fundação.

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Em fevereiro deste ano, o então diretor-presidente da entidade, Roberto Ulisses de Alencar, renunciou ao cargo. A promotoria indicou o nome de Costa para assumir como representante legal da entidade. Costa fica no cargo até o final do ano.

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