Um novo diretor foi indicado para administrar a Fundação Catarinense de Assistência Social (Fucas). A decisão aconteceu em longa reunião na manhã desta sexta-feira, 2, na sede da OAB de Florianópolis entre o Ministério Público de Santa Catarina e o conselho curador da Fucas. O MPSC fez uma série de recomendações, entre elas a indicação de um diretor provisório e a reestruturação do conselho curador.
Continua depois da publicidade
Segundo o assessor jurídico da Fucas, Leonardo Costódio Neto, o nome indicado para ocupar a direção da entidade é Luiz Antônio Costa, ex-presidente do conselho fiscal. A indicação ainda precisa ser aprovada pela justiça. O então diretor presidente da entidade, Roberto Ulisses de Alencar, renunciou ao cargo.
No decorrer da próxima semana o MPSC deve avaliar a possibilidade da venda de um imóvel de propriedade da Fucas em Jurerê, que custa R$ 4,5 milhões. Com este valor, de acordo com Neto, será possível pagar os funcionários, fornecedores e manter as atividades oferecidas pela entidade.
— A nossa perspectiva é muito positiva. A comunidade pode ficar tranquila porque os projetos serão mantidos, os colaboradores terão todos os seus direitos protegidos e os fornecedores, que hoje têm valores em aberto na fundação, receberão o que é devido — diz Neto.
Continua depois da publicidade
O promotor Davi do Espírito Santo, da 25ª Promotoria de Justiça da Capital, ainda recomendou que o conselho curador da Fucas seja reconstituição. Na terça-feira, 6, está marcada uma reunião na sede do MP para discutir como ficará o conselho. Neto informa que algumas entidades declinaram do interesse de indicar membros para o conselho.
A intervenção do MPSC faz parte da investigação de possível responsabilidade dos gestores para o endividamento da entidade. A administração da Fucas aplicou um patrimônio de R$ 46,9 milhões em ativos sem liquidez, e atualmente não possui verba para pagar o salário dos professores nem as refeições dos alunos. A retomada das atividades, no dia 19 de fevereiro, ainda é incerta.
Dona Luiza não sabe o que fará com as crianças
Três filhos da dona Maria Luiza Scardanzan passaram pela Fucas nos últimos dois anos. A família mora ali de perto, no Estreito. O primogênito, Abiner, de 15 anos, conseguiu através da Fundação o primeiro emprego como jovem aprendiz em um grande atacadista. E um casal de gêmeos, a Amanda e o Aziel, de 13 anos, fazem praticamente todas as atividades oferecidas pela entidade.
Continua depois da publicidade
— A gente morava em Capinzal, mas lá não tem esses projetos. Então a gente veio morar para cá pensando no futuro deles. E aqui, através de uma amiga, eu conheci a Fucas. Fomos muito bem atendidos. As crianças não conheciam nada de esporte, era só futebol. Ali já foram para o judô, circo, dança, informática, artesanato. O mais velho ganha o dinheiro dele, já tem compromisso.
Amanda e Aziel ficam tristes ao pensar que podem ficar sem as atividades. O judô que os dois tanto gostam, por exemplo, parou em setembro. Também não recebem mais as refeições. Para a dona Luiza, que está desempregada, seria “péssimo” para a família a suspensão da Fucas. Ela não sabe o que fazer com os filhos.
— Ficaria péssimo, não por causa dos pais, mas as crianças já gostam muito, estão acostumadas com os projetos. Se fechar, então a gente tem que batalhar, queremos uma nova direção. Vamos fazer de tudo para não fechar! — deseja, preocupada, a mãe.
Continua depois da publicidade
Comunidade está unida
No dia 25 de janeiro, dezenas de alunos, professores e assistentes sociais fizeram uma pequena manifestação em frente à sede da entidade. Cerca de 1,6 mil pessoas estão sendo atingidas diretamente pela crise. Desde novembro, os professores estão sem salário e correm o risco de demissão. Oficinas oferecidas por terceirizados, como dança, circo e jiu-jitsu foram suspensas. Também não há mais uniformes. No momento, todas as atividades estão paradas por causa das férias escolares, mas o medo da comunidade é de que a fundação não as retome quando recomeçar o ano letivo.
A Fucas atende cerca de 200 crianças e adolescentes do Morro da Caixa, uma comunidade da região continental de Florianópolis conhecida pelo poder do tráfico de drogas. Desde 2003, a fundação oferece atividades esportivas e artísticas, como judô e dança.