“O pior já passou” foi a frase mais esperada de 2016. Mas o ano acabou aquém das expectativas para muitos setores. Em Santa Catarina, a atividade econômica encolheu 2,9% até setembro, as exportações caíram 2,6% até novembro e as importações, 19,9%. A produção industrial diminuiu 4,2% de janeiro a setembro e as vendas, 10,8%. Embora os catarinenses não tenham tido um desempenho péssimo em termos de empregoem relação ao cenário nacional, o saldo ainda é negativo para o período de janeiro a outubro, com 5,2 mil postos de trabalho a menos.

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A expectativa de que as coisas começassem a melhorar com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff fez o índice de confiança do empresariado subir gradativamente, mas a persistência de indicadores ruins mostrou que não ia ser tão fácil. Mesmo porque a crise política, como se viu, não acabou ali.

— Lá por meados do ano, a gente criou uma ilusão de que as coisas iam melhorar. Houve uma diminuição das notícias ruins, mas a economia se compõe de expectativas e de fatos reais. O que precisamos é de calmaria – diz Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Blumenau (Sintex).

Pessimismo e indicadores fracos fazem mercado reduzir projeção do PIB brasileiro no ano que vem

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A calmaria que Kuhn menciona refere-se ao fim do caos político em que o país vem afundando. E do qual não deve emergir tão cedo. De forma geral, os empresários de SC têm o mesmo discurso: o país precisa de estabilidade política e institucional para voltar a crescer.

Foi o que falou, por exemplo, o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiesc), Glauco José Côrte, em coletiva de imprensa neste mês. Sem segurança jurídica, diz, ninguém vai querer investir no país. E sem investimento não há crescimento nem emprego e, portanto, também não há renda para consumir. É o que diz também o presidente da Cooperativa Aurora Alimentos, Mário Lanznaster:

— A classe política tem que parar de gerar crises políticas e institucionais que agravam a crise econômica. Acredito que as eleições de 2018 devem dar um novo alento ao país. E aí deve começar a retomada do crescimento.

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Lanznaster é um pouco mais pessimista que os demais. Em geral, as entidades esperam o começo de uma (lenta) recuperação a partir de meados de 2017. A percepção é de que nos últimos meses a recessão tenha arrefecido. Os indicadores ainda são negativos, mas menos ruins que no primeiro semestre do ano. A desaceleração da inflação também é importante, já que passa a pressionar menos a massa salarial.

Reformas dividem opiniões

A outra pauta repetida por empresários é a necessidade de aprovar reformas: PEC 55 (do Teto dos Gastos), Previdência e trabalhista. Para o presidente da Aurora, por exemplo, são mudanças aguardadas há cem anos. Bruno Breithaupt, presidente da Fecomércio SC, também diz que as emendas são imprescindíveis para a retomada.

— A aprovação da PEC 55 inaugura uma nova etapa de responsabilidade fiscal para o Brasil e de melhora na gestão pública. É certo que a emenda à Constituição por si só não estabelecerá o reequilíbrio fiscal de imediato, mas já é um claro sinal – afirma Breithaupt.

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Já as entidades trabalhistas só têm reclamações, especialmente em relação às reformas da Previdência e trabalhista.

– São formas legais de explorar ainda mais o trabalhador, que já está havendo um arrocho. Essa reforma da Previdência e a terceirização são coisas gravíssimas – diz Mairon Edegar Brandes, economista da subseção do Dieese na Federação dos Trabalhadores da Indústria de Santa Catarina (Fetiesc).

De acordo com ele, empregos foram mantidos às custas da deterioração dos rendimentos. O salário médio do trabalhador catarinense teve queda real de 7,1% de janeiro a setembro de 2016 em relação a igual período de 2015, diz o IBGE.

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– Vimos que muitos trabalhadores antigos, com salários altos, foram demitidos. No lugar, contrataram gente bem mais nova. Isso ajuda a manter o emprego, mas o poder de consumir diminui – explica o economista.

Para a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de SC (Fetaesc), a grande preocupação é a reforma da previdência e a proposta de igualar o trabalhador rural ao urbano.

— Começamos a trabalhar com 15 anos e vamos dos 40 ºC no verão aos -5º C no inverno, sempre num trabalho árduo. Não podemos nos aposentar com a mesma idade que quem trabalha na cidade. Isso não é reforma, é uma ofensa – reclama José Wlater Dresch, presidente da Federação.

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“Apesar da crise”

A despeito da recessão, houve quem conseguisse se sair bem ou sofrer relativamente menos em 2016. Como os empresários gostam de dizer: ¿Crise gera oportunidade¿. Foi o que aconteceu com o setor agropecuário do Estado, que viu o Valor Bruto de Produção (VBP) ter crescimento real de 3,5%, enquanto o país estima redução de 2,5%. As secas que castigaram outras regiões produtoras fizeram os preços dispararem, o que favoreceu os catarinenses.

Parte do setor têxtil e de vestuário de SC também se saiu bem e manteve, até outubro, um saldo positivo de empregos de mais de 6 mil vagas. Como ficou caro importar roupas por conta do câmbio, as grandes redes de lojas passaram a comprar das pequenas e médias confecções catarinenses.Outro segmento que se abalou menos com a recessão foi o de tecnologia. Apesar do ritmo mais fraco, ainda registrou crescimento.

– Alguns fatores minimizaram o impacto (da recessão) para os empresários de TI. Primeiro, as empresas do segmento têm a capacidade de se adaptar mais facilmente, tanto pela natureza inovadora quanto pelo fato de não terem estoque, não dependerem de maquinário ou de matéria-prima – diz o presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Daniel Leipnitz.

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No setor supermercadista, o desempenho de vendas também foi positivo, com alta de 0,17 % de janeiro a outubro, em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Associação Catarinense de Supermercados (Acats).

Estado negocia projetos que somam R$ 5,6 bilhões

Apesar da grave crise econômica, Santa Catarina foi, ao longo de todo ano, alvo de investimentos do setor privado. De acordo com o secretário da Fazenda, Antonio Gavazzoni, há oito grandes empreendimentos em fase de implantação no Estado, além de mais 118 em andamento (48 com capital estrangeiro e 70, nacional) com destaque nos setores de alimentos e bebidas, automotivo, de energia e comércio exterior.

— São aproximadamente 5,8 mil empregos diretos e R$ 5,6 bilhões em investimentos – afirmou.

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