Há um ano e meio desempregado e com uma filha, Vilmar Júnior aceitou no início de agosto um trabalho de meio período como motoboy. Vai ganhar menos de um salário mínimo, valor 62% inferior ao que recebia antes como motorista de uma distribuidora. E ainda terá de arcar com a gasolina. Mesmo assim, o serviço virou motivo de comemoração.
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Ele entrou para uma estatística que cresce no Estado: desemprego, seguido de novo trabalho com salário menor. Há seis trimestres, o rendimento médio real do trabalhador catarinense encolhe sem parar. No começo de 2015, a média mensal era de R$ 2.299. Já no segundo trimestre deste ano, o valor foi para
R$ 2.048. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE.
Partindo do valor do salário no início de 2012 – quando começou o levantamento –, o valor atual deveria ser de R$ 3.031,43 se tivesse sido corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do período (39,44%), conforme cálculo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Estado (Dieese-SC).
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Mas em função das quedas sucessivas, o valor dos vencimentos no Estado hoje é menor, em termos reais, do que há quatro anos, quando o salário era R$ 2.174. Esse achatamento é consequência da inflação e da retração econômica.
– Talvez essa redução não tenha sido ainda maior por conta dos pisos salariais, que seguram um pouco – diz José Álvaro Cardoso, supervisor técnico do Dieese em Santa Catarina.
Desemprego atinge 242 mil catarinenses
Ao mesmo tempo em que os salários caem, o desemprego sobe. Há alguns anos, Santa Catarina vinha caminhando em uma situação de pleno emprego – quando a taxa de desocupados é inferior a 4% –, mas passou a sentir os efeitos da crise em meados de 2015.
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No segundo trimestre do ano passado, a taxa de desocupação era de 3,9%. No mesmo período deste ano, passou para 6,7%. São 101 mil pessoas a mais sem trabalho no Estado na comparação com 2015. Ao todo, 242 mil pessoas estão desocupadas em Santa Catarina. Isso é mais que toda a população de São José, que tem 232 mil habitantes, segundo o IBGE.
Ainda assim, é o Estado com menor desemprego no país. No Brasil, a taxa entre abril e junho ficou em 11,3%. Alguns Estados atingiram desocupação bastante alta, como São Paulo (12,2%) e Bahia (15,4%).
De acordo com o economista da Fecomércio SC Luciano Cordova, a vantagem de Santa Catarina em relação a outros Estados é a diversificação da economia. Assim, mesmo quando alguns setores daqui vão mal, outros ainda conseguem se sair bem e manter certo equilíbrio.
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Entretanto, o desemprego deve seguir aumentando no Estado e pode atingir 8,5% até 2017, para só então estabilizar:
– Depois de ficar estável, a taxa de desemprego pode voltar a cair, mas isso vai depender bastante das definições políticas. As decisões que precisam ser tomadas não estão sendo tomadas por essa situação de interinidade em que vivemos – justifica Cordova.
O desemprego, somado à queda salarial, resulta na precarização do trabalho. Na prática, pessoas que estão ficando sem emprego aceitam vagas com salários inferiores aos que ganhavam anteriormente, como é o caso de Júnior.
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– Mas dizem que logo vai melhorar, né? – questiona o motoboy recém-contratado esperançoso.
Dizer, dizem. Mas não vai ser tão fácil. Para voltarmos aos patamares anteriores de salários e empregos, acredita José Álvaro, do Dieese, devemos levar anos.
– A queda é rápida, mas a recuperação é lenta. Somos agora um transatlântico nos deslocando, não mais um barco – compara.