Qualquer avaliação sobre os cenários da disputa de 2016 pela prefeitura de Lages deve levar em conta dois episódios marcantes. O primeiro aconteceu em 5 de dezembro do ano passado, quando o prefeito Elizeu Mattos (PMDB) foi preso preventivamente e afastado do cargo por suspeita de ter recebido propina de uma empresa contratada pela administração municipal. O segundo episódio foi na última segunda-feira, dia 5, quando ele reassumiu o cargo do qual foi alijado por 10 meses.
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Entre uma data e outra, Elizeu tornou-se réu de uma ação do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), que o acusa de ter cobrado propinas sequenciais de uma empresa contratada para administrar o serviço de abastecimento de água no município, acusação que ele nega. A prisão preventiva durou dois meses, seguida de medidas restritivas que o impediam de viajar, deixar a própria casa após as 22 horas e ter contato com o dia a dia da prefeitura.
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Enquanto o peemedebista esteve ausente, as peças do tabuleiro eleitoral começaram a se mexer sem ele. Com a caneta na mão, o vice-prefeito Toni Duarte (PPS) ganhou visibilidade e passou a ser tratado como pré-candidato à sucessão. O PMDB estadual, então, tratou de pressionar o ex-prefeito e deputado estadual Fernando Coruja (PMDB) a disputar novamente o cargo. O parlamentar, no entanto, preferia apostar em Duarte, indicado por ele para a chapa, quando ainda militava no PPS.
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Na oposição, a situação de Elizeu deu fôlego ao ex-deputado estadual Antonio Ceron (PSD) para encarar uma nova disputa. Em 2012, o pessedista foi derrotado por apenas 1.302 votos de diferença. Nesse cenário, sua candidatura se consolidou diante do nome de renovação representado pelo deputado estadual Gabriel Ribeiro (PSD), filho do ex-prefeito Décio Ribeiro e sobrinho do governador Raimundo Colombo (PSD) – principal cabo-eleitoral da cidade.
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A volta de Elizeu ao cargo tornou ainda mais imprevisível o cenário eleitoral. O peemedebista tem evitado entrevistas e afirma a interlocutores que está mais preocupado em terminar o mandato e limpar o nome do que em disputar uma nova eleição. Mesmo assim, não se considera fora do jogo.
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A relação com o PPS também não é mais a mesma. Setores do PMDB ligados ao prefeito estranham o silêncio de Duarte sobre a situação do colega de chapa durante os 10 meses no cargo – inclusive na carta aberta que divulgou ao deixar o posto, em que não cita Elizeu. Presidente estadual do PPS e lageana, Carmen Zanotto (PPS) evita falar sobre eleições.
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– Ainda é muito cedo. Qualquer definição deve acontecer apenas em março – afirma a deputada federal.
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Enquanto isso, o PSD se arma para uma possível revanche.
– Até prefiro que o Elizeu seja o candidato para que explique tudo que disse na campanha eleitoral e não foi feito. Essa gestão é uma tragédia – afirma Ceron.
Eleições que marcaram
1988
Aos 33 anos, Raimundo Colombo (PFL) conquistou pela primeira vez a prefeitura de Lages com 43% dos votos. Curiosamente, o principal adversário era Antonio Ceron (PMDB), hoje aliado, que fez 26,3%
1992
Como ainda não havia reeleição, o PFL lançou o ex-prefeito Paulo Duarte contra Fernando Coruja (PDT). O então pedetista venceu uma eleição difícil por 48% a 44%, cerca de 3,1 mil votos.
1996
Bem avaliado, Coruja lançou o então vice-prefeito Décio Ribeiro (PDT) para a disputa contra o ex-prefeito Raimundo Colombo (PFL). Curiosamente, Ribeiro era irmão da mulher de Colombo, Angélica. Isso não impediu uma disputa acirrada: vitória de Ribeiro por 42,8% a 41,03% – 1.380 votos de diferença.
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2004
Colombo havia voltado à prefeitura quatro anos antes, em revanche contra Décio Ribeiro. A disputa pela reeleição foi um choque entre as duas principais lideranças da cidade – o pefelista e o ex-prefeito e então deputado federal Fernando Coruja (PPS). Reeleito com 70% dos votos, Colombo credenciou-se a entrar no páreo estadual. Renunciou em 2006, deixando o cargo com Renato Nunes de Oliveira (PP) e se elegeu senador.
2008
A política estadual invadiu Lages e mudou todos os contextos. Ex-vice de Colombo, Renato Nunes de Oliveira (PP) enfrentou Fernando Coruja (PPS), apoiado pelo senador lageano em uma costura que envolvia a coalizão política do então governador Luiz Henrique (PMDB). Os lageanos não receberam bem o novo tabuleiro e reelegeram Renatinho com 46% a 42%.