Não me agrada saber que técnicos do Ministério da Saúde estão decidindo, através de resoluções, como as mães devem ganhar seus filhos. A decisão deveria ser delas – claro que amparadas pelos argumentos de seus médicos de confiança.

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Saiba quais são as principais mudanças nos partos com resolução da ANS

Existe sim uma “indústria” das cesáreas no Brasil. Muita gente ganha dinheiro à custa deste tipo de parto. Isto, porém, não justifica impor às mulheres que têm planos de saúde a determinação de que só se faça parto normal, com cirurgias apenas em casos especiais. Não é por aí que se vai resolver o problema. O que as futuras mamães precisam é de informação, não de imposição.

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Toda mulher precisa nesta hora é estar segura

e confiante de que está sendo feito o melhor

Talvez o que falte seja esclarecimento para que elas possam decidir de forma consciente e tranquila. Fiscalizar, de algum jeito, obstetras que ao invés de sugerirem o parto normal às suas pacientes (com gravidez saudável) já optam “de cara” pela cesárea por ser mais rápida e lucrativa.

Apesar da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) dizer que o objetivo é preservar a saúde da mulher e do bebê, fico do lado dos movimentos feministas e do Conselho Federal de Medicina, que defendem que a nova regra fere a autonomia da mulher na escolha do parto.

Especialistas afirmam que resolução da ANS irá contribuir para redução de cesarianas em SC

Sempre quis ter partos normais. Hoje, depois de passar pelas duas experiências bem distintas, sei que cada caso é um caso.

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Tinha 25 anos e estava grávida do meu primeiro filho. Gestação tranquila. Falei para a médica, desde o começo que, se tudo corresse bem, gostaria de ter parto normal.

Comecei a sentir contrações na noite anterior, cada vez mais fortes. Fui ao hospital de madrugada e, após constatarem que não tinha dilatação suficiente, me mandaram para casa. Voltei de manhãzinha com dores mais fortes. Nada de dilatação. Aí, a médica decidiu induzir o parto com injeções. Mesmo assim, foram horas de dor. Meu filho só nasceu após os médicos fazerem uma episiotomia (corte na vagina para, em tese, facilitar a saída do bebê durante o parto). O menino tinha quatro quilos, era enorme. Usaram fórceps para tirá-lo.

Talvez o que falte seja esclarecimento para

que elas possam decidir de forma consciente e tranquila

Fiquei machucada, com dor e sem poder sentar direito e cuidar do meu filho por muitos dias. Achei horrível. Tinha ideia daquele parto lindo que a gente vê na televisão, mas não foi nada daquilo o que senti. O parto normal pode ser bom para a maioria, mas não foi bom para mim naquele dia. Uma cesárea teria abreviado a minha dor e o do bebê que, segundo a médica me disse depois, já estava entrando em “sofrimento fetal”.

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Passados três anos e meio, estava para ganhar meu segundo filho. Durante toda a gestação disse para a médica que não queria parto normal. Havia ficado traumatizada. Mas ela me convenceu a deixar que a natureza seguisse seu curso. Se fosse possível, seria normal. Se não, faria cesariana.

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Chegou o dia. A bolsa rompeu, fui para o hospital e nada de dilatação e nem de dor (acho que foi de tanto que rezei!). Nem um dedo de dilatação sequer. Algumas poucas horas depois a médica decidiu fazer a cirurgia. Confesso que respirei aliviada. Meu filho nasceu em 15 minutos, sem complicações. Naquela mesma noite já levantei da cama, cuidei dele e de mim. Mas sei que nem todas as cesarianas são assim tão tranquilas.

Por tudo o que passei, repito: não dá para generalizar nem dizer que este tipo de parto é bom e aquele é ruim. E também muitas vezes, na hora “h”, nem caberá à mulher decidir como seu filho virá ao mundo. O certo é que, seja como for, o que toda mulher precisa nesta hora é estar segura e confiante de que está sendo feito o melhor, para ela e para o bebê que vem chegando.

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