Subindo pela estreita rua que leva ao topo do morro do Lessmann, no bairro João Pessoa, casas abandonadas passam a mensagem do risco do local. São escombros restantes de casas de famílias que deixaram a área em busca de moradias mais seguras. Se alguns casos mostram eficácia, outros indicam os motivos pelos quais ordenar o crescimento e afastar moradores das áreas de risco são desafios de longo prazo que não passam apenas por ações do poder público, mas pela consciência da população.

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No topo do morro, um terreno em meio a casas está com uma placa de venda. A imobiliária pede R$ 45 mil pelo local, valor abaixo da média de outros lotes da cidade. O fato foi destacado pelo próprio corretor que atendeu ao telefonema da reportagem, que se passou por um comprador. O corretor garantiu que o terreno de 15 por 30 metros estaria regularizado e fora da área de risco. A Defesa Civil afirma que mapeamento identifica o morro inteiro como área de risco. Em um segundo contato, disse que o espaço não tem escritura. Mas afirmou que bastaria ir até um cartório para adquirir o documento. Enquanto não fosse necessário, apenas o contrato entre proprietário e comprador seria suficiente.

Crimes

Segundo o promotor Alexandre Schmitt dos Santos, a venda de terrenos em loteamentos irregulares é crime. Fazer ou veicular propostas que ocultem fatos sobre o lote também são crimes.

No mesmo morro, outro caso evidencia o problema. Após a enchente de 2008, uma moradia em outro local pelos programas habitacionais da Prefeitura. Deixou a casa, porém, o imóvel foi vendido e hoje outra família vive na área de risco. Essa situação é conhecida pela Secretaria de Habitação, que indicou aos atuais moradores a inscrição em programas habitacionais.

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Programas tentam solucionar questão

O secretário da Habitação e Regularização Fundiária, Antônio Marcos da Silva, explica que um dos focos da pasta é a regularização dos loteamentos irregulares da cidade. Ele adianta, porém, que nem todos os 143 loteamentos mapeados poderão ser regularizados. Aqueles em áreas de risco, por exemplo, estão fora das possibilidades – como é o caso do morro do Lessmann.

Atualmente, três loteamentos estão inscritos no Programa Lar Legal, do governo estadual, para regularização. Outros 50 foram encaminhados para o programa federal Papel Passado, que tem o mesmo objetivo. Nesses casos, a regularização é, principalmente, documental, sendo necessário o desmembramento dos terrenos e criação de novas matrículas.

– Outras áreas, porém, esbarram em questões burocráticas e legais, como ruas estreitas e lotes pequenos, que dificultam o parcelamento do solo.

Para tratar dessas áreas, a Secretaria de Habitação está elaborando uma nova lei, que deve instituir o programa de regularização fundiária municipal, flexibilizando normas especificamente para a regulamentação de cada caso. O texto está sendo elaborado em parceria com as secretarias de Urbanismo e Defesa Civil e a Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente (Fujama).

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– Todos que são passíveis de regularização, tentaremos. E queremos um trabalho que não seja interrompido, independentemente da gestão – diz Silva.

O secretário afirma que o setor de fiscalização da Prefeitura contratou novos fiscais. Outra ação importante é a demolição das casas em áreas de risco, assim que famílias recebem moradias de programas habitacionais.

Demolições

Segundo Silva, os moradores que irão para o Loteamento Harmonia e para o Condomínio Érika Modrock assinaram termos de demolição das antigas residências. Há prazo de 30 dias para a demolição, porém, a Defesa Civil e a Habitação não indicam em que data essa etapa deve ser realizada. O secretário de Defesa Civil, Marcelo Prochnow, afirma que as demolições serão intensificadas a partir de 2015.