Era 4h45 desta sexta-feira, o sol ainda nem tinha aparecido quando uma bolinha de gude atravessou a janela lateral esqueda do ônibus 1196, da Estrela, enquanto ele passava por baixo do viaduto que liga os bairros Capoeiras e Monte Cristo. Foi o primeiro de 25 veículos atingidos da mesma forma em vários pontos da Grande Florianópolis até às 6h30 desta sexta. A única pista até o momento é a placa de um carro de onde pode ter surgido um dos ataques.

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O motorista do primeiro ônibus atingido era Djonath Resende, que trabalhava junto do cobrador Ricardo Alexandre de Souza. O trajeto era da garagem da empresa, em Capoeiras, até o bairro Potecas. Não havia nenhum passageiro quando o objeto atingiu o vidro:

– Olhei pelos espelhos para ver se não tinha batido em nada, e andei mais um pouco quando o vidro quebrou. Como estava escuro não conseguimos ver de onde veio o objeto que atingiu o ônibus – conta Djonath.

A passarela que liga o Capoeiras ao Monte Cristo foi o principal local relatado pelos motoristas como origem dos projeteis. Ao todo, cinco veículos foram atingidos nas proximidades do local. Outros 8 também tiveram os vidros quebrados quando passavam perto de passarelas e viadutos.

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Veja os locais onde aconteceram os ataques

– Os motoristas dizem que não viram nada, só ouviram o barulho do vidro caindo no chão do ônibus – conta o gerente de tráfego da Biguaçu, Vilmar Isais Zandonai.

Outra forma de ataque relatada nos Boletins de Ocorrência foi a de que os projeteis partiram de dentro de um carro que ultrapassava o ônibus e atirava uma pedra ou bolinha de gude nos vidros laterais. Foi o caso do Canasvieiras – Gama d’Eça onde estavam André Borges e sua esposa, grávida de oito meses, Joelma Borges:

– Estávamos indo em direção ao Centro quando o ônibus foi atingido. Os cacos de vidro caíram em cima da minha esposa. Não conseguimos ver nada, pois estava muito escuro – disse André, em entrevista à rádio CBN Diário.

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Das empresas entrevistadas apenas a Jotur admitiu que teve atrasos nos horários de ônibus por conta dos apedrejamentos. O BRT Expresso Ticen foi atingido perto do Angeloni de Capoeiras e teve que ser retirado de circulação.

O caso mobilizou quatro delegacias e a investigação está sendo chefiada pelo delegado Verdi Forlamento, da Diretoria de Polícia Civil da Grande Florianópolis. A Polícia Militar cedeu agentes de inteligência para ajudar na coleta de informações.

Empresas acreditam em ação planejada

Na opinião do presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros da Grande Florianópolis (Setuf), Waldir Gomes, os apedrejamentos fazem parte de uma ação pensada previamente:

– A ação foi muito bem orquestrada, já que aconteceu em vários pontos no mesmo horário – afirma Waldir.

Envolvimento com PGC foi descartado

De acordo com as investigações iniciais das Polícias Civil e Militar, o caso, segundo o delegado Verdi Furlaneto, pode estar relacionado às últimas manifestações de paralisação do transporte público. E está completamente descartada a possibilidade de ligação com a facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC).

– Não tem nada a ver com os atentados do PGC. A motivação é diferente. São vândalos. Pode ter a ver com as últimas paralisações, mas ainda estamos investigando. Vândalos podem ser pessoas insatisfeitas, que podem ir desde o servidor público ao privado – explica o delegado, que coordena a Diretoria de Inteligência da Polícia Civil.

Furlaneto revela que solução pode demorar. Além de muitas pessoas envolvidas, imagens, de câmeras de segurança, do momentos dos ataques ainda estão sendo coletadas pela PM.

O proprietário do único veículo que teve a placa captada no momento de um dos apedrejamentos já foi localizado. Mesmo com todos os indícios, a polícia ainda não pode divulgar a sua identidade.

Caso parecido aconteceu em 2013

Em julho de 2013 – pouco menos de um mês depois de paralisações do transporte público e protestos contra aumento da tarifa – 14 ônibus tiveram os vidros quebrados na SC-401, na região entre o João Paulo e o Cacupe. Apenas veículos das empresas Transol e Canasvieiras foram atingidos:

– Não descobrimos quem foi, mas usaram o mesmo método do ano passado. A diferença é que esse ano pegamos as placas de um veículo suspeito e entregamos para a polícia – conta o gerente de operações da Canasvieiras, Marcelo Santana.