Osni Antonio Machado, o seu Nini, 76 anos, guarda na memória e no acervo pessoal as lembranças de quando trabalhava no Teatro Adolpho Mello, em São José, há mais de cinco décadas. O prédio, que completa em junho 162 anos, sendo o teatro mais antigo de Santa Catarina e o terceiro do país, está de portas fechadas há cinco anos, em obras de restauro desde 2016 e sem previsão para reabrir.

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— Essa obra tá entristecendo a gente porque tá demorando muito — lamenta o pesquisador da cultura josefense.

Nini trabalhou na cabine de projeção de filmes de 1955 a 1966, época em que o teatro funcionava como cinema e era uma das únicas diversões dos moradores da cidade. O pesquisador não se conforma em saber que muitos nem sequer conhecem o teatro por dentro.

— São poucas as pessoas que conhecem o valor real dele. Mas ele deve reabrir para o bem da cultura.

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O motorista Marcelo Amorim, 34 anos, é um dos moradores que nunca entrou no teatro mais antigo do Estado, mesmo passando por ele todos os dias.

— Eu moro aqui há três anos e não conheço. Toda vez que eu passo aqui tem esses tapumes. Gostaria que ele abrisse, pois será bom para a cultura da cidade e também para as crianças — comenta Amorim.

Camila Nunes, 27, também não conhece a história do prédio e acredita que é importante para as novas gerações.

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— Eu nunca vi aberto, isso que passo todos os dias. Também nunca entrei e acho muito complicado ele ficar fechado tanto tempo, ainda mais que é no centro histórico e é importante para a educação das crianças.

Já o mecânico Teótimo Martins, 54, cresceu dentro do teatro e aguarda ansioso a reabertura.

— Eu frequentava direto. Cresci no meio das festas que aconteciam na praça e vinha no cinema. Era bom reabrir para relembrar o tempo antigo, contar a história.

Captação de recursos

O Theatro Adolpho Mello está fechado desde 2013 após a interdição da Defesa Civil. Em 2014, a Udesc entregou à prefeitura um projeto de revitalização completa do espaço. O documento foi cadastrado na Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte do Estado (SOL), que aprovou o projeto em dezembro de 2015.

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Em março de 2016 a prefeitura de São José começou as obras de reparo, orçada em torno de R$ 3,5 milhões, divididas por etapas. A primeira foi a recuperação do telhado, concluída ainda em 2016. A segunda etapa, que consistia na reforma da fachada e das esquadrias, foi concluída em setembro de 2017, com recursos do Ministério do Turismo.

A próxima etapa será a restauração da parte interna do prédio, orçada em R$ 1,5 milhão. Isso inclui a recuperação das redes hidráulicas e elétricas, de alvenaria, das paredes, piso, sistema de drenagem, adaptações para a acessibilidade, além de todo o mobiliário, palco e cadeiras.

Os projetos elétrico e hidráulico já foram elaborados e serão analisados pelo setor técnico do município. Se forem aprovados, a prefeitura vai tentar captar recursos em editais e fonte própria. Não há data prevista para o lançamento do edital ou início das obras desta fase de trabalhos.

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A expectativa da Fundação Municipal de Cultura e Turismo era reabrir o teatro ainda em 2018, mas isso está longe de acontecer.

Um pouco da história

O Theatro São José, hoje chamado de Teatro Adolpho Mello, foi inaugurado em 21 de junho de 1856. O pesquisador Osni Antonio Machado conta que na época São José era uma comunidade pequena e a obra significava muito para o município.

— O teatro representa muito para a comunidade e para a cultura de Santa Catarina, visto ser o primeiro prédio feito exclusivamente para o teatro. Só por isso ele já tem um valor muito grande.

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O prédio chegou a ser abrigo de revoltosos que lutaram na Revolução Farroupilha de 1894 a 1895 e virou cinema a partir de 1924. Na época, era chamado Cine York. Em 1953 ele foi fechado por conta do mau estado de conservação e reaberto dois anos depois. Novamente funcionava como cinema. Foi então que seu Nini começou a trabalhar como projetista de filme e ficou até 1966. Ele conta que em 1979 o teatro passou novamente por uma reforma e foi reinaugurado em 1981. Foram mais dois anos funcionando como cinema até que voltou a ser teatro. O prédio é a casa de espetáculos mais antiga de Santa Catarina e a terceira do país.

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