Com interdição decretada pela Defesa Civil em 2013, o Theatro Adolpho Mello, o mais antigo de Santa Catarina e o terceiro do país, parece um prédio esquecido no Centro Histórico de São José. Os mais novos mal sabem que os tapumes que atualmente cercam a estrutura escondem uma história de 160 anos — completados em 2016. Uma história de arte, de artistas, de cinema e até de revolução.

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Sem dinheiro suficiente para uma reforma que respeitasse sua história e patrimônio, a Prefeitura de São José começa a lançar editais para a contratação de empresas que vão dar início ao resgate do projeto arquitetônico, dividido em quatro etapas. O projeto por completo deve custar em torno de R$ 3,5 milhões. A expectativa, nas mais positivas previsões, é que em 2018 o Adolpho Mello seja novamente aberto à comunidade.

A primeira etapa da obra ocorre neste momento, com a reforma do telhado. Com investimentos de R$ 172 mil por parte do Governo do Estado e R$ 72 mil da Prefeitura de São José, o prazo para a entrega desta primeira parte emergencial é de 25 dias. O madeiramento do telhado estava bastante comprometido, informou a superintendente da Cultura, Joice Porto Luca.

— Tivemos que esperar 25 dias até a madeira chegar de Minas Gerais, por isso a demorou para começar. Tivemos que abrir todo o telhado e encontramos ainda uma série de problemas — contou Joice, citando o madeiramento comprometido e infiltrações.

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A segunda etapa, que consiste na reforma da fachada e das esquadrias, está sendo encaminhada para o processo licitatório. Com verbas de R$ 270 mil do Ministério de Turismo, a expectativa é de que os trabalhos iniciem ainda neste ano, observou a superintendente.

Para a terceira etapa, que deve ter edital lançado somente ao fim da segunda fase do projeto, no ano que vem, serão realizadas obras nas redes hidráulicas e elétricas.

— Estamos prevendo um orçamento, a princípio, de R$ 150 mil. Mas sabemos que há sempre reajustes — indicou Joice.

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Restauração delicada

Na quarta, última e mais importante etapa, está a restauração e reforma interna do teatro. Para isso, serão chamados arquitetos e pesquisadores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), da Udesc (que realizou um projeto de revitalização do teatro), e do Patrimônio da prefeitura. Não há data prevista para lançamento do edital ou início das obras desta fase de trabalhos.

— Será a etapa que mais receberá atenção. O teatro será todo restaurado, preservando todas as características de como ele era antes da interdição — avisou a superintendente.

O que pode mudar são os lugares. Antes, o Adolpho Mello possuía espaço 150 lugares. Com a reforma e adaptação de espaços de acessibilidade, por exemplo, o número de cadeiras deverá diminuir. Joice Porto espera, positivamente, que o cronograma siga até 2018, quando espera-se realizar a reabertura do teatro. A programação de estreia já está até definida.

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— Queremos reencenar a primeira peça já apresentada no Adoplho Mello: ¿O Monge da Serra D´Ossa, que foi vista pela primeira vez em 1856 — contou ela.

Os móveis que estavam no teatro foram todos relocados em um depósito no Centro Multiuso de São José, enquanto a reforma não acaba. Eles deverão ser devolvidos ao teatro quando as obras terminarem.

O Adolpho, assim que pronto, também voltará a abrigar cursos de teatro. Atualmente, os grupos ensaiam na Casa da Cultura, que fica ao lado do prédio.

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Pinturas revitalizadas

Segundo a superintendente de Cultura, Joice Porto, existe o desejo de revitalizar, restaurar e fazer novas obras de arte no Adolpho Mello. Desde a década de 1980, obras de Rodrigo de Haro estão espalhadas pelo local.

— Elas foram muito prejudicadas pelas infiltrações — lamentou Joice.

O próprio artista manifestou a vontade de revitalizar as obras, informou a superintendente. O trabalho ficaria em torno de R$ 300 mil a R$ 400 mil.

Por que a demora?

O teatro foi interditado por más condições na estrutura em 2013. Em 2014, relatou Joice Porto, a Udesc entregou à Prefeitura de São José um projeto de revitalização completo do espaço. O documento foi cadastrado na Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte do Estado (SOL), que aprovou o projeto em dezembro de 2015.

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— Como tínhamos que prestar contas, não tivemos tempo hábil para colocar no orçamento. Devolvemos o dinheiro. Recadastramos na ADR (antiga Secretarias de Desenvolvimento Regional do Estado), e foi novamente aprovado — explicou a superintendente de Cultura.

História da Grande Floripa e do Estado

Uma trajetória que ultrapassa os 160 anos. O teatro mais antigo do Estado é tombado como patrimônio histórico apenas pela Prefeitura de São José. De acordo com a pesquisa da doutora e professora do curso de Artes Cênicas da Udesc, Vera Collaço, a primeira companhia de teatro de São José surgiu em 1845, como Sociedade Particular União Teatral. A partir daí, a comunidade viu que precisava de um espaço para as peças na cidade. A pedra fundamental foi lançada em 17 de setembro de 1854, e a obra foi entregue em 21 de junho de 1856, exatamente no dia em que São José deixava ser vila e virava oficialmente cidade, segundo Vera. O nome, na época, era Theatro São José.

— Ele foi inaugurado antes do Teatro Álvaro de Carvalho, de Florianópolis. O TAC levou 21 anos para ficar pronto — complementou a pesquisadora.

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Ainda no século 19, o espaço serviu de abrigo não só para artistas.

— Durante um ano, de 1894 a 1895, o teatro foi abrigo de revoltosos que lutaram na Revolução Farroupilha — indicou a pesquisadora.

Em 1924, foi inaugurado o cinema no local, chamado Cine York. Virou ponto de encontro dos moradores de São José da época. Segundo pesquisas localizadas na Biblioteca Pública de São José, em 1953 ele foi fechado por conta do mau estado de conservação e reaberto dois anos depois. Em 1979 mais uma vez passou por uma reforma. Na época, o nome era Cine Rajá. Foi reinaugurado em 1981, após uma ampla reforma, e voltou a ser teatro.

— Era um espaço bom para se apresentar. Super simpático, com muita história envolvida. Um local onde todo ator gosta de trabalhar. Tinha algumas deficiências técnicas, na questão de equipamentos. Mas era um espaço muito bom — comentou um dos atores mais conceituados da Grande Florianópolis, Édio Nunes de Souza, que apresentou peças no Adolpho Mello. A última em 2003.

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