A emergência do Hospital Universitário (HU) em Florianópolis fechou as portas na manhã desta quinta-feira em decorrência da superlotação. Apenas casos considerados gravíssimos foram atendidos pelas equipes médicas e não havia previsão de volta do atendimento normal. Na quarta-feira, o mesmo problema ocorreu no Hospital Regional de São José.
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Segundo a superintendência do HU, as portas foram fechadas para garantir a segurança dos pacientes já acolhidos pela unidade, pelo fato do hospital estar com alta demanda e poucos funcionários para realizar os atendimentos.
— Foi uma suspensão temporária do atendimento, até que a situação interna se normalize, mas não deixando nunca de receber emergências encaminhadas pelos bombeiros, Samu e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). A recomendação é que a população procure primeiro as Unidades Básicas de Saúde e as UPAs — disse a superintendente do HU, Maria de Lourdes Rovaris.
O fechamento da ala emergencial pegou a população de surpresa. José Pereira da Cruz, de 54 anos, morador de Canasvieiras, foi um dos que deram com a cara na porta.
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— Estava em casa trabalhando com cerâmica quando uma lasca cortou meu olho. Quando cheguei aqui, o pessoal negou atendimento e disse para eu ir até o Hospital Celso Ramos, no Centro — contou.
Nelson da Conceição, de 58 anos, saiu da Tapera em direção ao HU para levar sua filha à emergência. Segundo seu relato, Érica Regina, de 24 anos, sofre de infecção em um dos rins, mas também não havia sido atendida até o final da manhã desta quinta.
— Estamos há mais de duas horas esperando e ainda não há previsão de atendimento. Não é a primeira vez que ela tem esse problema no rim, mas é a primeira vez que não somos atendidos. Na última vez que procuramos um posto de saúde, a médica mandou a gente para casa mesmo a Érica estando toda inchada — relatou Nelson.
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Novas contratações
A superintendente do Hospital Universitário afirma que o fechamento da emergência se deu por conta da alta demanda. Em janeiro deste ano, a direção do HU havia enviado um ofício ao Ministério Público Federal (MPF), apresentando o Procedimento Operacional Padrão (POP) e os critérios que seriam adotados em caso de superlotação.
— Temos dificuldades para manter a emergência aberta 24 horas. Quando atingimos esses critérios do POP, temos que fazer a suspensão do atendimento. Isso aconteceu no final da tarde de quarta-feira. Assim que tivermos condições, reabriremos as portas — afirmou a superintendente.
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Apesar da alta demanda, o presidente do Conselho de Saúde do Morro das Pedras, Alexandre de Magalhães, acredita que o problema principal é a falta de funcionários. Alexandre foi ao HU na manhã desta quinta para acompanhar um morador do bairro que precisou de cirurgia cardíaca emergencial e ficou indignado com a situação do hospital.
— Está havendo um total descontrole do horário dos médicos. Hoje só tem um para atender emergência, mas emergência mesmo. Tem que chegar morrendo para ser atendido — reclamou.
Um documento publicado no site da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), administradora do HU, mostra que a escala de quinta previa três médicos para a emergência, mas havia apenas um fazendo atendimento. Na tarde desta quinta-feira, a direção do hospital informou à reportagem que a escola foi corrigida, apesar de ainda não ter sido atualizada no site, e que, na verdade, havia dois médicos: um clínico e um cirúrgico.
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De acordo com um funcionário do HU, houve um erro na elaboração da escala. Para suprir a falta de funcionários e dar conta da demanda, há um concurso público aberto para a contratação de 489 profissionais da saúde para a unidade. O concurso já está na fase final, restando apenas a homologação e publicação oficial da Ebserh.
— A partir da publicação, o HU terá condições de melhorar o atendimento na emergência e abrir os leitos que estão fechados — avaliou a superintendente.
Na noite desta quinta-feira, a Ebserh se manifestou sobre a situação do HU através de nota em que informa que “todas as etapas para a realização do concurso público foram realizadas conforme o cronograma, sem risco de cancelamento do certame. No entanto, priorizará as contratações de aprovados em concursos já homologados, cujos prazos de vigência expiram em 2017. Em seguida, homologará os concursos mais recentes, em consonância com o plano de contratações de pessoal de toda a rede Ebserh”.
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A empresa falou ainda sobre a superlotação: “o Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina já está discutindo com o gestor estadual de saúde e também com a Secretaria Municipal de Saúde soluções para os atendimentos. Atualmente, o município de Florianópolis conta com duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), situação que afeta o atendimento dos de hospitais como o HU”.
Hospital Regional volta a atender
Na quarta-feira, no Hospital Regional, em São José, a situação contrastava com a manhã de quarta-feira, quando os funcionários da unidade decidiram não receber mais atendimentos de emergência e focar apenas em quem já estava internado. O motivo também foi superlotação e falta de funcionários. Na quinta-feira, o atendimento estava normalizado, mas havia longas filas de espera para consultas e exames.
De acordo com recomendação do Conselho Federal de Enfermagem, a indicação é de que as alas emergenciais tenham um enfermeiro para cada seis pacientes. Ontem, mesmo com atendimento normalizado, havia apenas três enfermeiros para o atendimento de cerca de 80 pacientes que procuraram o hospital antes das 9h. Na média, era um enfermeiro para cada 27 pacientes.
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Quem precisou ir ao Hospital Regional para consultas e exames sofreu na manhã de ontem. O filho de Luciana Martins, de 33 anos, teve um dos olhos perfurado e foi atendido na quarta-feira. Na quinta, precisou voltar ao hospital para fazer exames complementares, mas ainda não havia conseguido atendimento depois de quatro horas de espera.
— Chegamos às 5h20min e disseram que a previsão é de que o atendimento seja apenas a partir das 13h30min. Ninguém explica o porquê dessa demora, a gente fica sem saber nada. Já venho com cobertor porque sei que é assim mesmo, não é a primeira vez — contou a mãe de Gabriel Henrique, de 5 anos.
Na quarta-feira, por meio da assessoria, a Secretaria de Estado da Saúde negou a paralisação no Hospital Regional de São José e afirmou que não há previsão de contratar mais funcionários para a área de enfermagem.
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