Nesta quarta-feira, fez quatro dias que seu Laurindo da Silva, 60 anos, esperava por um leito no setor de emergência geral do Hospital Regional de São José, que atende a população da Grande Florianópolis. Ele sofreu uma queda e fraturou a bacia. Enquanto isso recebia a medicação e cuidados no corredor da unidade. Junto dele, estava a filha Maria Cleonilde de Sousa, 30. Há três dias ela zelava pelo pai, dia e noite, sentada em uma cadeira também no corredor do hospital.

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Além deles, havia outros casos. Na tarde desta quarta-feira, a reportagem da Hora flagrou pacientes acomodados em macas no corredor do setor do Regional. Entre eles, estava Florisval Torquato Alves, 70, que há três dias dava entrada no hospital. A filha dele Juny Lee, 38, acompanhava o caso do pai, também sentada em uma cadeira no corredor.

— É difícil ver meu pai nessa situação. O atendimento da enfermagem é bom, mas sei que não tem como eles atenderem todos do jeito que está. Toda hora chega gente, de casos diferentes, e nós ficamos vendo tudo aqui no corredor —conta Juny.

Pela manhã, nesta quarta-feira, os funcionários, decidiram não receber mais atendimentos por algumas horas para focar em quem já estava internado. O recebimento de novos casos só foi retomado por volta de 14h.

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Osvaldina de Souza, 59, foi uma das pessoas que não conseguiu ser atendida. O marido não estava se sentindo bem e ela pensou em levá-lo ao posto de saúde, porém, achou melhor ir ao Regional, caso ele precisasse de exames. Chegando lá, perto das 13h, o casal foi informado que a emergência estava fechada. Decidiram ir embora.

Na tarde desta quarta-feira, segundo funcionários, eram três enfermeiros responsáveis por cerca de 52 pacientes na emergência. Após o feriado, o número de pessoas que buscaram atendimento aumentou. A Resolução nº 0527/2016 do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) recomenda que as unidades tenham um profissional de enfermagem para seis pacientes. Na tarde desta quarta-feira, eram 147 pessoas na espera. Em agosto de 2016, a reportagem da Hora noticiou que havia pessoas esperando até 15 dias por um leito na emergência geral. Na época, a Secretaria de Estado da Saúde informou que mais de um milhão de pessoas são atendidas em toda a unidade.

— Estamos preocupados não só com as nossas condições de trabalho, mas também com o bem-estar dos pacientes. Não é justo que uma pessoa de 60 anos, com problemas de saúde, passe horas sentada em uma cadeira para receber soro, por exemplo. Já está insustentável — argumenta uma enfermeira que não quis se identificar.

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O Sindicato dos Trabalhadores na Saúde de Florianópolis e Região (Sindsaúde) se manifestou sobre a situação em nota: “Com esse número de pacientes, torna-se impossível cumprir com o Plano de Cuidados individual das/os pacientes e manter a administração pontual das medicações prescritas. O mais grave, a sobrecarga de trabalho aumenta a possibilidade de erros nesses procedimentos”. O Sindsaúde afirmou ainda que o Hospital Regional também tem problemas com falta de papel toalha, tocas e sabonete líquido.

Faixa em frente à entrada de emergência denuncia falta de profissionais
Faixa em frente à entrada de emergência denuncia falta de profissionais (Foto: Leo Munhoz / Agencia RBS)

Estado não prevê contratar mais funcionários

Por meio da assessoria, a Secretaria de Estado da Saúde negou a paralisação no Hospital Regional de São José e afirmou que não há previsão de contratar mais funcionários para a área de enfermagem. De acordo com a secretaria, a unidade conta com 125 enfermeiros, 451 técnicos de enfermagem, 154 auxiliares e 310 profissionais no corpo clínico. O número de leitos da instituição é de 325. Na emergência, segundo o governo, são 22 enfermeiros, 73 técnicos em enfermagem e 13 auxiliares. A Emergência Geral tem 60 leitos.

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“A emergência do Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis, está funcionando. A Unidade está superlotada, mas mantém o atendimento. A respeito da denúncia do SindSaúde referente à falta de papel toalha, tocas e sabonete líquido para pacientes e funcionários, a Secretaria de Estado da Saúde esclarece que tais materiais não estão faltando no Hospital Regional de São José”, afirmou a assessoria em nota.