Sentadas ou deitadas em macas, 11 pessoas aguardavam atendimento ou algum tipo de procedimento cirúrgico nos corredores do Hospital Regional de São José na última sexta-feira. Tomavam soro ali mesmo, em meio ao vai e vem de médicos, enfermeiros e familiares.

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Os pacientes, acompanhados de familiares e amigos em pé ou sentados nas cadeiras disponíveis, esperavam abrir vaga em algum leito para darem sequência às intervenções e tratamentos que foram receber em um dos maiores hospitais da Grande Florianópolis. Só não sabiam quando isso iria acontecer.

Um deles, Sandro Tavares Massuti, ficou mais de 10 dias na maca em um corredor à espera de uma cirurgia no braço, depois de cair de moto. Nesse período, conta, encontrou dificuldades para cumprir tarefas simples, como urinar e tomar banho. Nesta terça-feira, depois do período no corredor, ele estava internado no setor de acolhimento da emergência, ainda no aguardo para ser operado.

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A reportagem da Hora foi até o Regional e constatou que a mesma situação é vivenciada por outras pessoas internadas na unidade, muitas vitimadas por traumas, principalmente em acidentes de trânsito.

— Se eu pudesse me levantava e ia embora daqui. Estou nesse corredor há dois dias, e os médicos disseram que só vou conseguir operar a perna daqui 20 dias, que é o tempo para liberar um quarto. É muita humilhação — disse um paciente que mora em Capoeiras, prefere não se identificar, e está no Regional porque fraturou a perna.

Outro paciente à espera de cirurgia circulava pelos corredores em uma cadeira de rodas, mora em São José, e estava no regional havia seis dias. Uma jovem, acompanhada de duas amigas, dormia encostada na parede do mesmo canto da unidade havia três dias. Nenhum deles tinha a mínima ideia de quando sairiam dos corredores.

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Responsável pela regulação dos leitos do Regional, o médico Fernando Oto dos Santos confirmou à reportagem que pacientes aguardam atendimento em macas no corredor. Não disse ao certo quantos dias em média isso ocorre com cada paciente, mas falou que eles ¿ficam bastante¿.

Alguns mais de 15 dias — resumiu.

Ele argumenta que o hospital atende acima de sua capacidade, e que as pessoas no corredor “são pacientes cirúrgicos”, que aguardam “cirurgias não emergenciais”.

Questionado sobre a quantidade de macas nos corredores, explicou que isso varia e depende da demanda de atendimentos na unidade.

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— Dependendo da época, temos de 15 a 40 macas nos corredores.

(Foto: Leonardo Thomé / Agência RBS)

Secretaria reconhece problemas

Um médico que conversou com a Hora e trabalha no Regional desde a residência médica revela que, ao contrário do que prevê o Núcleo Interno de Regulação (NIR) da unidade — que controla o tempo de permanência de pacientes internados na emergência (incluindo os corredores) e limita a internação em 48 horas — pacientes em macas nos corredores “ficam muito mais tempo nessa condição”.

— Priorizamos o paciente que está na emergência há mais tempo, mais de 10, 15 dias, por exemplo — revela o médico, sem se identificar. Para ele, quem trabalha no Regional “já se acostumou a essa realidade”, apesar de considerar “indigno” para os pacientes.

— É péssimo o que está acontecendo. Na cardiologia, às vezes pacientes com o risco de enfartar ficam sentados em poltronas — afirma.

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Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informa que o Hospital Regional atende toda a Grande Florianópolis (cerca de 1 milhão de pessoas) e é referência estadual em alguns serviços. Sem controle de entrada pela emergência, diz a nota, o número de leitos de internação disponível nos andares nem sempre está adequado a esta demanda.

“Portanto quando o paciente chega pela porta, seja pelo Samu, Corpo de Bombeiros, Autopista e ambulâncias municipais, precisamos atender, fazer os primeiros atendimentos, estabilizar o paciente que muitas vezes precisa ser mantido no hospital e fica aguardando um leito de internação nos andares. Mas o paciente tem toda a garantia da assistência. O Hospital Regional não limita acesso pela porta da emergência. Garantindo o acesso, estamos dando assistência ao paciente, mesmo que as condições nas primeiras horas não sejam o mais adequado”.