O primeiro turno das eleições para Reitor da UFSC, realizado no dia 21 de outubro, consagrou aptas ao segundo turno as chapas 82, liderada pelo Professor Luis Carlos Cancellier (CCJ), e 84, liderada pelo Professor Edson de Pieri (CTC). A escolha acontecerá nesta quarta-feira, momento em que a comunidade universitária irá escolher o novo gestor para os próximos quatro anos.

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Logo após o primeiro turno elaborei um documento com 12 pontos candentes na UFSC, que na minha interpretação deveriam fazer parte da agenda de debates no segundo turno. Dada a exiguidade de tempo entre um turno e outro, alertava sobre a importância de um posicionamento claro e objetivo de cada um dos postulantes ao cargo de Reitor sobre esses temas, destacando que era necessário que o debate fosse pautado por uma agenda de interesses comuns da universidade, evitando-se discussões simplistas do tipo “nossa chapa é acadêmica”, a outra chapa não.

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Além disso, afirmava que as duas candidaturas ao segundo turno eram irmãs siamesas, uma vez que elas tinham sido gestadas no âmbito de um fórum liderado pelos diretores de unidades acadêmicas que ao longo dos últimos dois anos discutiram a sucessão da gestão atual.

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Registrei que os dois candidatos participantes do segundo turno compactuavam das mesmas ideias e propostas e que se dividiram somente nas semanas que antecederam as inscrições das chapas.

Basta apenas verificar que uma parte da equipe da gestão Prata-Paraná (2008-2012) apoia a candidatura 82, enquanto outra parte daquela mesma equipe apoia a chapa 84.

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Minha interpretação acima foi contestada privadamente pela chapa 84, pois afirmam que as duas chapas são diferentes porque a candidatura do professor Edson de Pieri apresenta propostas à universidade e não apenas a busca pelo poder. Para essa chapa a única unidade entre elas se dava apenas no fato de que ambas eram contrárias à gestão atual. Independentemente dessa manifestação, há de se registrar que a dúvida persistiu, pois até jornalistas que participaram de programas de televisão com os dois candidatos saíram com a sensação que não havia diferenças entre eles, uma vez que os dois concordavam em praticamente tudo.

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Todavia, na reta final das eleições, talvez visando angariar mais votos, algumas posições começaram a se tornar mais distintas entre os dois candidatos e seus seguidores. Destaco a seguir alguns pontos para a reflexão, especialmente daqueles que irão participar da votação no dia de hoje. Em primeiro lugar, reapareceu com força nos debates do segundo turno, especialmente entre o segmento dos professores, a questão dos critérios para escolha para Reitor. Nas listas eletrônicas dessa categoria surgiram diversas críticas ao candidato Cancellier (chapa 82) por este ter defendido na TV UFSC, não somente o voto paritário, mas também a sugestão de que o voto paritário adotado atualmente pelo CCJ-UFSC fosse estendido para todos os demais centros da UFSC. Esse posicionamento, segundo muitos professores, motiva-os a apoiar a candidatura de Edson de Pieri, pois este, ao ser indagado em reuniões departamentais, se mostrou favorável ao sistema 70/30, ou seja, que os professores tivessem um peso de 70% em relação aos demais segmentos universitários.

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Este ponto chegou ao ápice quando um dos apoiadores da chapa 84 se manifestou nas redes eletrônicas dizendo que a UFSC não pode ser uma república democrática onde as decisões sejam tomadas pela vontade das categorias com igual peso. Sem dúvida, esse posicionamento, que está ganhando grande guarida na chapa 84, se coloca na contramão da história.

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Um segundo aspecto que mereceu destaque foi a questão da jornada de trabalho dos Técnicos Administrativos em Educação (TAEs), tendo em vista a reivindicação desta categoria por uma jornada diária de 6 horas, ou então de 30 horas semanais. Nos últimos dias me pareceu que esse assunto acabou tendo posicionamentos que se alteraram, ficando claro um compromisso maior da candidatura 82 com essa bandeira de luta dos TAEs, comparativamente à candidatura 84. No caso deste último candidato, é importante destacar que muitos professores explicitaram em redes sociais que votarão nesta candidatura por ela ser contra a jornada de 30 horas.

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Outro aspecto relevante que ronda o cenário nacional também foi incorporado na reta final de campanha. Trata-se do tema das terceirizações na universidade, assunto que praticamente não foi pauta durante os debates do primeiro turno.

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A chapa 84 lançou recentemente uma nota sobre o assunto ao enfocar o tema do RU, aliás, um documento com muitas entrelinhas e de forma pouco clara. Mas o recado é objetivo: uma tentativa de nunca fechar o restaurante universitário. E o público destinatário também: um aceno aos estudantes na reta final do pleito. Apenas como registro vale lembrar que atualmente todos os RU dos campi no interior, bem como o restaurante do CCA já são terceirizados. Resta saber se a candidatura 84 está falando em adotar o mesmo sistema para o RU do Campus Trindade. Além disso, o tema da terceirização também foi colocado em pauta pela mesma chapa no caso da BU.

Além disso, neste segundo turno chamou atenção também a postura dos atuais gestores que no primeiro turno apresentaram um projeto de universidade muito distinto daquele representado pelas duas chapas presentes na disputa atual. Sem qualquer avaliação tornada pública, os mesmos se posicionaram contrários à chapa 82 com base em valorações e comportamentos pessoais, como se as mesmas questões apontadas para essa chapa também não estivessem presentes na chapa concorrente.

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Enfim, o segundo turno está fortemente polarizado a partir de agendas corporativas. Por um lado, destaca-se a agenda dos professores, em que segmentos dessa categoria profissional buscam reduzir o pleito atual a uma mera disputa político-sindical, à luz do que é mais conveniente para a candidatura que não defende a paridade. Neste caso, apresenta-se claramente no atual pleito a perspectiva de um retrocesso democrático na universidade, pois o rompimento com o atual sistema de escolha representa a desconstrução de um processo histórico que data do ano de 1983. Como estudante da UFSC à época, tenho orgulho de ter participado dessa construção que representa um marco no início de democratização da Universidade Federal de Santa Catarina. Por outro, sobressai a agenda corporativa dos TAEs que buscam amparo naquela candidatura que melhor se posiciona diante da bandeira central de luta da categoria: a jornada diária de 6 horas.

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Finalmente, o segmento estudantil, por ser mais amplo e complexo, não tem uma agenda corporativa tão explícita neste pleito. Desta forma, e diferentemente das eleições anteriores, o potencial de decisão desse segmento nestas eleições é bem menor, comparativamente às categorias dos professores e dos TAEs.

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