Nem no próximo mês ou no próximo ano. Não há previsão para que Joinville possa lidar adequadamente com os resíduos especiais – principalmente sobras da construção civil – que produz. A cidade não tem aterro público para depósito desse tipo de dejeto. Na região, os dois que hoje recebem gesso, tijolos, cimento e outros rejeitos pertencem à iniciativa privada. Um fica na zona industrial, outro em Araquari.

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E não ter local adequado faz com que dejetos sejam jogados em locais públicos completamente inadequados. Próximo à nascente do rio Cachoeira, às margens da rua Rui Barbosa, no bairro Costa e Silva, é formado um “lixão a céu aberto”, conforme classifica a professora da Univille e engenheira ambiental Virgínia Barros.

– O rio já nasce morto – lamenta.

E onde muitos enxergam lixo, a engenheira vê dinheiro jogado fora aos montes. Montanhas de pallets que poderiam virar móveis ou energia por meio da queima estão desperdiçados na rua. Restos de computadores que têm chumbo e silício – metais pesados – causam danos extremos à natureza e seriam valiosos se destinados corretamente.

– Já foi criada uma maneira de reaproveitar isopor – afirmou ela, apontando para um pedaço no chão.

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– Chegará o momento em que não teremos de onde tirar recursos, por isso esses resíduos, se tratados de forma adequada, são tão valiosos – concluiu a engenheira ambiental.

O controle sobre a produção e a destinação correta dos resíduos gerados por grandes produtores, como as construtoras, é mais organizado do que aquele que envolve pequenas reformas em residências. A coordenadora do núcleo de resíduos da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema) de Joinville, Débora Jaretta Magna, garante que as construtoras devem ter um “plano de resíduos” para cada empreendimento. Somente assim é expedida a licença ambiental.

– No plano, deve constar como será gerado, separado, classificado, armazenado e a destinação final dos rejeitos – explicou Magna.

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Consequências para a natureza

Para os pequenos produtores, o sistema é falho. Não existe uma coleta coletiva de rejeitos da construção civil, como há para o lixo orgânico e o reciclável. Por isso, alguns locais acabam virando lixões. A maioria não tem iluminação e são lugares com poucas testemunhas, como a rua que margeia a nascente do rio Cachoeira e a que circunda o manguezal próximo ao CEI Espeinheiros.

Diferentemente do plástico e do papel que têm prazo para se decompor na natureza, os resíduos da construção civil apenas se diluem com o tempo.

– Minerais não se decompõem – explicou a professora Virgínia.

Cimento, gesso, argila e saibro são exemplos desses resíduos. Todos podem ser reaproveitados como “agregados” para fazer volume na pavimentação de ruas e no alicerce de casas, por exemplo.

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A destinação inadequada pode levar à impermeabilização do solo. O cimento, de acordo com Virgínia, é um dos agentes impermeabilizantes que podem contribuir com enchentes ao se acumular na superfície do solo. Telhas, tijolos e o próprio acúmulo dos resíduos em montes podem ser habitat de animais perigosos e criadouros do mosquito da dengue.

Dos piores resíduos da construção civil, o amianto é o mais perigoso. A fibra, proveniente de uma rocha, não se decompõe na natureza por ser mineral. Quando queimado, o cimento que faz a liga do material deteriora e fragmentos da fibra ficam soltos no ar. A inalação dessas partículas pode causar câncer.