-Eu não pinto vasinho, eu sou um contador de histórias, escrevo com tinta e pincel.As palavras saem da boca de Juarez Machado com contundência, como se detivessem toda a verdade contida nos (milhares de) quadros pintados por ele. De fato, há sempre uma trama se desenrolando em suas telas, mas essa determinação de deixar a obra falar por ele não impede Juarez de narrar verbalmente suas aventuras e observações.
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O artista de Joinville é, acima de tudo, um grande cronista de si mesmo, e isso fica claro em Bicicletas, minidocumentário biográfico que faz sua estreia hoje, às 19 horas, no Instituto Juarez Machado. O filme é assinado pelos joinvilenses Rafael Uber e Cristiano Cardoso e é fruto de uma seleção do Canal Futura para a produção de documentários de curta metragem.
Em abril, a dupla passou dez dias no ateliê-casa de Juarez em Paris, acompanhando sua rotina e, principalmente, ouvindo (e registrando) o artista discorrer sobre os fatos mais marcantes de seus 76 anos de vida.
– A gente queria mostrar a história contada por ele mesmo. As pessoas realmente não conhecem o Juarez, não sabem de onde ele vem, então foi uma necessidade contar a história de um ícone tão conhecido, mas cuja trajetória não é sabida – explica Cristiano, lembrando que tudo foi montado para que as gravações interferissem o menos possível no trabalho do artista.
O resultado dessa estratégia ¿mosca na parede¿ foi 18 horas de material bruto, o que tranquilamente daria para um longa-metragem, mas apenas 13 minutos foram parar na edição final. Ainda não há data para o Futura exibir o documentário, mas a ideia de Rafael e Cristiano é emplacá-lo em outros canais de TV, plataformas virtuais e festivais de cinema, inclusive na França, onde Juarez desfruta de grande prestígio.
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Gravar seus depoimentos em Paris, no ateliê que mantém há 35 anos, não fez diferença para a memória de Juarez. Além de as lembranças ainda serem muito vívidas, o ambiente é o mesmo em todos os seus estúdios, seja na capital francesa, no Rio de Janeiro ou em Joinville.
– É muito quadro, muita tinta, muito livro…. O cenário é igual, eu não mudei de personalidade, sempre fui o mesmo – atenta o pintor, para quem gravar o documentário foi bacana, mas não exatamente uma experiência, ¿porque a minha vida é só isso: uma dedicação exclusiva ao meu trabalho, a minha criatividade¿.
Tanto é que Juarez renega qualquer ideia de que o filme conclua seus dias como artista, como geralmente são encarados documentários e biografias. Segundo ele, ainda há muito a ser feito.
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– Eu fico desesperado, porque ainda não acabei minha lição de casa – diz, em meio a um sem-número de projetos, como uma nova exposição em Paris, as ilustrações para uma série de livros com letras de Chico Buarque e os murais que embelezarão a fachada do anexo do instituto, a ser inaugurado em 2018.
A ansiedade em produzir é tanta, que Juarez quase não se permite distrações, aproveitando cada minuto em frente ao cavalete. Até os passeios de bicicleta foram abandonados, por medo de quedas e possíveis fraturas. Juarez só não renuncia à ¿zica¿ como elemento presente em toda a sua obra, o símbolo da infância numa cidade bucólica e mais civilizada. Não é à toa que ela batiza o filme sobre sua vida.
– Bicicleta é a Joinville que eu tive – resume Juarez.
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Distorções
Visitinha internacional nos palcos joinvilenses nesta quinta-feira: a banda francesa Johk, cujo post-hardcore cantado na língua pátria já conta com uma série de lançamentos virtuais desde 2010 (confira no bandcamp.com). Em turnê pelo Brasil, o quarteto se apresenta no Delinquent¿s Bar, em noite que começa às 21 horas e cobra meros R$ 10 pela entrada.
Ligeiros
Hoje tem disputa no Shortcutz Santa Catarina, na Galeria 33, em Joinville. Às 20 horas, os curtas O Segredo da Família Urso, de Cíntia Domit, e O Entardecer, do diretor gaúcho Muriel Paraboni, que conversará como o público após a sessão. O filme convidado é O Aquário da Antígona, do joinvilense Alceu Bett, que será exibido em Amsterdã nesta semana, também dentro da plataforma Shortcutz.
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No palco
A nova etapa do Circuito Sesc de Música 2017 começa hoje e se estenderá por Jaraguá, São Bento, Canoinhas e Caçador até o dia 23. Em cada uma das cidades, a abertura ficará por conta de uma atração local. Em Joinville, a responsabilidade está nas costas do Quinteto Enraizado, que apre-senta o repertório do disco Enraizados às 20 horas, no Sesc, com entrada gratuita.
Cinema
Terror e animação infantojuvenil cravam as estreias no cinema nesta quinta-feira. Annabelle 2 – a Criação do Mal retoma os sustos da boneca ¿endemoniada¿. Desta vez, o artesão de brinquedos acolhe em sua casa meninas de um orfanato. Já a animação Uma Família Feliz pega carona nos monstros clássicos para mostrar um clã em pé de guerra que é transformado em seres assustadores por uma bruxa.