Cinco assaltos em menos de duas semanas e a repetição no modo de agir dos criminosos preocupam moradores e comerciantes da Barra da Lagoa, leste da Ilha. Desde o dia 28 de julho, em um ou dois homens, sempre armados, os criminosos já roubaram o único posto de gasolina do bairro, um armazém, um mercadinho e duas mulheres que caminhavam por ruas da comunidade. Há três semanas, uma casa também foi assaltada, e na madrugada da última quarta-feira, uma loja de roupas foi furtada.
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Uma das vítimas que esteve na mira de uma arma foi o empresário Marco Calloni, 50 anos, dono do Armazém Del Formaggio, assaltado por volta de 19h20min de 1° de agosto. Há seis anos na Barra, o italiano estava com dois funcionários quando um homem entrou e anunciou o assalto. O criminoso pegou o dinheiro do caixa, chips de celular e cartões de orelhão e saiu correndo.
— Acho que tinha um carro esperando por ele. Tivemos um prejuízo de R$ 300 mais ou menos, porque nem deixamos muito dinheiro no caixa, até porque a maioria dos pagamentos é feita com cartão — conta Calloni.
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A gravidade do problema ficou evidente na última terça-feira, quando, diante da escalada de violência no tradicional distrito pesqueiro, que tem uma população de aproximadamente 9 mil pessoas, o presidente do Conselho Comunitário (Conseg) da Barra da Lagoa, Gilson Manoel Bittencourt, convocou uma reunião extraordinária para tratar da insegurança na comunidade e, durante o encontro, outro assalto ocorreu em um mercadinho a poucos metros dali.
A reunião tinha a presença da delegada Salete Teixeira, da 10° Delegacia de Polícia, e de dois policiais militares que costumam fazer rondas no bairro, mas enquanto moradores e policiais discutiam medidas para conter o crime no bairro, o Mercado Sol II, ao lado dos restaurantes que margeiam a orla, sofreu um assalto por volta de 21h10min. Um homem entrou armado, rendeu os funcionários, e levou o dinheiro do caixa, cuja quantia não foi revelada.
— A bandidagem sabe que há só uma viatura circulando no bairro, como ela estava na reunião, aproveitaram para seguir assaltando. A situação está ficando cada vez pior — relata Gilson, que também é intendente do distrito. Para ele, a “insegurança aumentou muito” desde o mês de julho. Ele atribui isso ao “pouco efetivo policial” e crê na necessidade de realização de “mais abordagens” por parte da Polícia Militar em grupos de jovens que costumam se reunir em determinados pontos do bairro, para consumo ou tráfico de drogas.
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Vizinho Solidário será ampliado
Diante da constatação por parte da população e das autoridades de que o efetivo policial está abaixo do necessário não apenas em Florianópolis, mas em toda a Região Metropolitana da Capital, uma saída é as comunidades se organizarem para em grupos prevenirem a violência.
Implantando em outros bairros da Capital, o projeto Vizinho Solidário, que já existe na Cidade da Barra, região que fica próxima ao Projeto Tamar, vai ser ampliado para as demais regiões do bairro. A ideia é de que através do contato por WhatsApp entre vizinhos e polícias Militar e Civil, moradores e comerciantes criem um canal para trocar informações quando há atitudes e pessoas suspeitas no bairro. A proposta também propõe conhecer melhor os vizinhos e saber de suas rotinas para conseguir identificar quando está acontecendo algo fora do comum.
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— O projeto Vizinho Solidário diminuiu as ocorrências na Cidade da Barra, e será muito útil no restante do bairro. As pessoas interessadas em participar já podem se inscrever, basta nos procurar no Conseg ou na Intendência. Vamos averiguar essas pessoas, meio que levantar a ficha do pessoal, saber onde trabalham, de onde vieram, para que não tenhamos dentro do grupo pessoas infiltradas — observa Gilson, que destaca que o objetivo da iniciativa “em blindar a comunidade”.
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PM promete incrementar policiamento
O tenente coronel Marcelo Pontes, comandante do 4° Batalhão da PM, disse ter conhecimento da repetição dos roubos nas últimas semanas na Barra. Segundo Pontes, que reconhece o problema de efetivo da corporação, o serviço de inteligência da PM, em conjunto com a Polícia Civil, já identificou alguns suspeitos dos crimes.
— As imagens das câmeras de segurança dos locais assaltados nos ajudaram. Eles são jovens, agem em um ou dois, e as informações que temos foram compartilhadas com a Polícia Civil para tentar capturá-los logo — afirmou Pontes.
O comandante diz ainda que desde o último fim de semana foi desencadeada no bairro a “Operação Varredura”, que visa intensificar as abordagens a suspeitos na região.
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— A constância nas abordagens esbarra na falta de efetivo, mesmo assim vamos tentar, na medida do possível, incrementar o policiamento na região — garantiu.
Outro problema enfrentado nas investigações é o fato de que alguns boletins de ocorrência só são registrados com a PM no primeiro atendimento às vítimas. Assim, esses relatos demoram a chegar na mesa da delegada Salete e da delegada Ana Cláudia Ramos Pires, titular da Delegacia de Repressão a Roubos (DRR), responsável por todos os BOs de roubos da cidade.
Nesta quarta-feira, por exemplo, dos últimos três assaltos a estabelecimentos comerciais, apenas um estava registrado na DRR.
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— Precisamos que as ocorrências, mesmo quando registradas com a PM, sejam também oficializadas na Polícia Civil, para que possamos investigar esses crimes, fazer levantamento de local, perícia, entre outros pontos de nosso trabalho fundamentais para se descobrir os autores desses crimes — explica Ana Cláudia.
Sobre o efetivo policial, em julho, a Secretaria de Segurança Pública do Estado, através de sua assessoria de imprensa, informou que 711 novos policiais militares e 363 policiais civis estão sendo formados. Eles devem iniciar os trabalhos entre o final de 2016 e início de 2017. Mesmo assim, a própria pasta reconheceu que o problema de efetivo não estará resolvido após a entrada dos novos policiais.