A frase inicial da palestra do tenente coronel Moleta era um alerta:

– Jornalistas também são alvo e, por isso, vamos treiná-los aqui para que possam se proteger.

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Na plateia estavam mais de 40 profissionais da imprensa de todo o país, selecionados para o curso do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil, no Rio de Janeiro, em junho de 2013. Entre eles, eu, outros colegas do Grupo RBS e Santiago, hoje conhecido de todos em razão de uma tragédia.

Ele era um cara alegre, bom de papo, simples e atento a tudo que nos ensinaram. Conversamos muitas vezes, treinando tiro, aguentando gás lacrimogêneo, amarrados durante uma simulação para aprender a encarar um sequestro.

Santiago era do tipo que logo se tornava camarada de todos, colegas e instrutores. Assistir às cenas da agressão e da morte dele corta o coração de qualquer um. Para quem conviveu com ele em um treinamento sobre esse tipo de risco, dói ainda mais.

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Sabemos que jornalistas são assim. Nós nos protegemos sempre, mas nunca estamos livres do perigo.

O coronel estava certo.

Santiago foi um alvo. Cabe agora à Justiça tomar providências. Morreu um jornalista que amava a profissão. Morreu um pouco de cada um de nós.

* Repórter da RBS TV, participou, ao lado de Santiago Andrade, da edição de 2013 do curso para jornalistas em áreas de risco do Exército Brasileiro

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