João Grah tentou duas excursões antes de embarcar no micro-ônibus que o levaria para mais um jogo do seu time do coração fora de Florianópolis. Não conseguiu convencer primo e tio a viajarem juntos até Curitiba para ver o Avaí em campo contra o Paraná. Movido pelo entusiasmo de empurrar o Leão para mais perto da Série A, João só avisou a namorada quando já havia conseguido um assento.

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– Tu é doido – brincou Karina Assunção, ao ver a foto do namorado na mensagem do whatsapp.

Sete anos de namoro, vivendo juntos na casa dos sogros, Karina sabia que não ia convencê-lo a desistir.

– Ele era muito apaixonado pelo Avaí e estava empolgado com a fase. Eu pensei: é aqui em Curitiba, não é absurdo. Tudo bem – lembrou.

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O gol do ídolo Marquinhos aos 15 minutos do segundo tempo preocupou Karina, que assistia à partida pela TV:

– Fiquei com medo. Só aliviei quando veio o empate. Logo depois ele mandou a mensagem dizendo que estava saindo – contou ela.

Na volta, entre Itajaí e Camboriú, João pediu para que Karina o buscasse no Terminal Cidade, ponto final da excursão. A namorada sugeriu que ele pegasse um taxi, pois a chegada era prevista para as 2h. Ele insistiu: “Prefiro que tu me busque. Estou com fome e quero chegar logo em casa” escreveu à 0h25min. Depois não escreveu mais:

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– Eu calculei o tempo e depois de 1h15min perguntei onde ele estava. Não veio resposta. Um tempo depois tocou o telefone de casa e só consegui ouvir meu sogro perguntando como ele estava – disse Karina, em prantos, agarrada a duas camisetas do companheiro.

“Perda irreparável”

O salão principal da Câmara de Veradores de Santo Amaro da Imperatriz ficou cheio para a despedida de João Grah, a partir das 13h desta quarta-feira. O caixão estava coberto por uma camiseta do clube. O pai, Célio, e a mãe, Jussara, recebiam desolados amigos e familiares que se aproximavam do corpo. O zum zum entre os presentes não podia ser outro que não lamento.

João tinha 27 anos, trabalhava com o pai em uma loja de informática em Florianópolis. Nascido em Santo Amaro da Imperatriz, vivia há mais de dez anos na Capital. A paixão pelo Avaí começou na infância e só cresceu ao longo dos anos. Era comum ele viajar para cidades próximas onde o Leão jogava, conta o tio e conselheiro do Avaí, Zari José Farias Filho. Era no camarote de Zari que João assistia aos jogos na Ressacada:

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– Fazíamos um churrasquinho embaixo da arquibancada do Setor D antes dos jogos mais importante. Ele ia em todos. Era brincalhão, cheio de amigos e sempre tranquilo. Uma perda irreparável – resumiu o parente.

Karina Assunção, namorada de sete anos, descreveu assim o companheiro:

– Valorizava as coisas simples, prezava pelas amizades, era meu parceiro, extrovertido, um iluminado – disse.

O enterro está marcado para às 9h, no cemitério da Igreja Matriz de Santo Amaro da Imperatriz. Além do pai, mãe e namorada, João deixa o irmão José, três anos mais jovem.

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Mensagem de paz

No dia 4 de novembro de 2013, João Grah postou em seu perfil no Facebook uma mensagem sentida após a derrota por 4 a 0 para o rival Figueirense, em plena Ressacada. Abaixo alguns trechos do texto, uma declaração de amor ao clube que ele viu crescer nos últimos 15 anos, e uma mensagem de paz entre torcidas rivais:

Hoje é dia de vestir o manto Avaiano. Porque viver de vitória, viver de título é muito fácil. É na hora difícil, na derrota que o verdadeiro torcedor tem que aparecer e abraçar o time. (…) Futebol da capital sempre foi assim, os dois alternando bons e maus momentos. (…) Ontem foi o dia do Figueirense. Apesar de não concordar com a atitude de alguns, acho que esse clima de festa e gozação é valido, faz parte do futebol. Mas aqui é Avaí Futebol Clube, como e aonde estiver! Abraço para os meus amigos alvinegros e avaianos.