Embora o agronegócio responda por 73% da riqueza produzida por Chapecó, quinta maior cidade de Santa Catarina, e por quase 4% do PIB do Estado, a aposta econômica do prefeito Luciano Buligon (PSB) está em outro segmento: o setor tecnológico, que emprega cerca de 4 mil pessoas e tem crescimento anual de 20%.
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Nesta entrevista ao DC, Buligon fala sobre as vocações da Capital do Oeste e os desafios da gestão pública ao iniciar seu segundo ano de mandato. Entre as obras que contemplam o setor em alta, estão a conclusão do Centro de Inovação Tecnológica no primeiro semestre e a viabilização do Distrito de Inovação, mais conhecido como Polo Tecnológico Oeste.
Para o agronegócio, a modernização também é necessária. O município e toda a região Oeste cobram a duplicação das BRs 282 e 470, rodovias de escoamento da produção e da matéria-prima, além da implantação das Ferrovias do Frango e Leste-Oeste, do Contorno Viário Leste e do corredor do milho.
Obras importantes que somadas às concessões público privadas e à mobilidade urbana fecham as prioridades do governo Buligon. Confira a entrevista na íntegra:
Quais as prioridades do governo neste ano eleitoral?
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Dar andamento às parcerias público privadas. Já tivemos autorização legislativa para fazer as concessões da Arena Condá, Aeroporto, Rodoviária, Parque Medellín e Hospital da Criança. O principal é o Aeroporto, mas temos já empresas interessadas no projeto do Parque de Medellín. Queremos avançar neste ano no que chamamos de modernização administrativa. Como o orçamento é sempre apertado, ao nos desvencilharmos destes equipamentos dos quais a Prefeitura não é protagonista, teremos mais recursos para investir nas nossas vocações, como saúde, educação, assistência social e infraestrutura. Também tem as obras de mobilidade urbana. Fizemos 34 quilômetros de recapeamento no ano passado e neste ano vamos acessar os recursos, através da Caixa Econômica Federal, para as obras do sistema binário, terminais da integração da Efapi e São Cristóvão e licitarmos o transporte coletivo. Essas obras vão acontecer neste ano. Esperamos iniciar no primeiro trimestre, assim que acessarmos os recursos, por meio da linha de crédito da Caixa. O elevado da Sadia (Bairro Efapi) também está nesta leva de recursos, uma das importantes obras da cidade.
O agronegócio é responsável pela maior fatia da arrecadação no município e cobra ações para continuar crescendo. Uma delas é a melhoria das estradas no interior. O que já foi feito e quais as ações do seu governo neste ano para atender essa demanda?
No ano passado nós cumprimos uma demanda que o programa “Ouvindo o Bairro” nos colocou. Fizemos 77 reuniões no ano, 22 delas nas principais comunidades do interior. Fizemos um mapeamento de todas as estradas e temos hoje 1.246 quilômetros de estradas de chão no interior do município. Grande parte destas, escoam produção. Percebemos que a demanda no interior são duas: estradas e água para consumo humano. Fizemos um grande mutirão e recuperamos os 1.246 quilômetros, além de construirmos poços artesianos nas comunidades com maior urgência (Baronesa da Limeira e Linha Almeida). Vamos continuar, sempre garantido 500 litros de água por dia, por habitante para consumo humano. Eu ouso dizer que nunca foi feita tanta obra de infraestrutura no interior do município. Nós vamos continuar, porque as estradas, apesar de estarem melhores, precisam de reparos constantes, devido às chuvas. Essa será uma política do governo. A ideia é que nós possamos passar pelo menos uma vez por ano em cada um dos pontos das comunidades do interior. Nós temos uma política muito bem definida quanto à infraestrutura rural, que ganhou status de superintendência. Nos últimos três anos de governo, focaremos muito no desenvolvimento do interior, na água, na estrutura das estradas e no licenciamento ambiental. Implantamos o sistema de GPS na área rural, para garantir mais segurança aos moradores. As propriedades estão todas mapeadas e a polícia ganhou um carro do município para, quando chamada, poder se deslocar o mais rápido possível no exato ponto onde está sendo chamado, ou seja, referenciado por GPS. Nós temos pouco mais de 2.400 casas no interior e mais de 85 mil na área urbana, mas o interior continua sendo muito importante economicamente.
Outras cobranças são a melhoria da distribuição de energia elétrica e implantação de internet no campo. Ainda são desafios?
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A eletrificação rural é uma demanda e depende da Celesc, que tem nos atendido. A Celesc tem uma demanda para reforçar a distribuição no sul do município, que é uma área muito grande, que contempla 60% das estradas do interior, no Distrito Marechal Bormann e Porto Goio-En. Lá, a Celesc tem aprovada já a construção de uma subestação e nós estamos muito presentes nesta cobrança. Deve sair neste ano, a Celesc já tem dois imóveis para a obra. Quanto à internet, nós já temos pontos gratuitos nas comunidades que têm sinal e rede espalhados por todo o município. Por exemplo, tem colégio, posto de saúde públicos com ponto de internet gratuito interligado com a comunidade. Estamos também fazendo cobranças insistentes para ampliar a cobertura da telefonia móvel, porque onde chega o telefone, chega a internet.
Quais as novas ações do município para apoiar agricultura familiar com logística e feiras urbanas?
Somos um case em feiras. Temos 180 agricultores cadastrados nas feiras no município que vendem diretamente, sem um atravessador. Nós pretendemos criar uma regra para incentivar melhor. Tem um projeto de decreto tramitando para que possamos melhorar juridicamente isso. Queremos valorizar os agricultores de Chapecó, melhorar a produção, agregar valor e terminar com o atravessador para vender mais. Talvez abrir mais feiras, se esta for uma demanda dos agricultores, porque hoje não existe essa demanda. Há feiras em todas as regiões e não temos agricultores fora delas. Há 50 anos, nós tínhamos 60% da população vivendo no interior. Hoje, 94% vivem na área urbana, mas temos grande produção no campo. É uma cidade urbana com cacoete de interior.
E para a implementação do programa de incentivo à produção e milho? Pode se esperar avanços?
O milho, por mais que possamos produzir e, neste ano, teremos a segunda maior produção do país, temos um déficit de quase 4 milhões de toneladas por ano. Então, a articulação que eu entendo que tem que ter, é das lideranças – e o prefeito de Chapecó é uma delas – para criarmos o corredor do milho, para trazermos a custo mais baixo o produto de cidades que têm milho. Tem milho no Mato Grosso, no Centro Oeste, no Paraná, mas também tem no Paraguai, a 400 quilômetros de Chapecó. Então, somamos as forças políticas da Argentina, do Paraguai e do Brasil e criamos o corredor do milho. Fizemos audiências públicas nos três países e criamos no fim de dezembro do ano passado um bloco de prefeito, líderes e empresários para facilitarmos em cada um dos países o trânsito deste milho. Comemoramos, agora, o primeiro caminhão que passou a fronteira e foi para o Rio Grande do Sul por uma empresa catarinense que comprou mais barato. Tivemos um avanço muito grande. Esse corredor é só para suprir a falta daquilo que a gente não consegue produzir, não é para sobrepor a produção do catarinense. É uma prioridade para que tenhamos milho em abundância.
Uma das principais demandas do agronegócio é a duplicação das BRs 282 e 470, principais rodovias de escoamento da produção e da matéria prima que estão em situações precárias. Apesar de não ser uma responsabilidade exclusiva do município, as obras necessitam de articulação do governo local. Como a sua gestão vai contribuir?
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Nós temos que manter nosso grande sonho que são as ferrovias. A gente sabe que é algo para longo prazo, mas não podemos deixar de discutir, de dizer que elas são importantes. Enquanto isso, temos que duplicar nossas rodovias. Até porque os primeiros trens chegarão em caminhões, assim como os primeiro trilhos. Esse paradigma de não se descuidar do assunto ferrovia e a necessidade de duplicação imediata das BRs 282 e 470 é o desafio. Sonhamos que a união da nossa região possa fazer a diferença. É assunto para todos os prefeitos, lideranças, políticos. O prefeito de Chapecó precisa ter esta pauta sobre a mesa e discutir continuamente. São projetos demorados. Não podemos deixar essa pauta esmorecer.
O Contorno Viário Leste sai do papel neste ano? A principal reivindicação dos empresários já completa mais de 35 anos. O que está faltando para viabilizar a obra?
No que depender da Prefeitura, sairia amanhã. Nós estamos prontos juridicamente, inclusive para fazer um convênio com o município vizinho, Cordilheira Alta, e com o governo do Estado. São 23 quilômetros de asfalto que serão um vetor do desenvolvimento da região, por ligarem à duas rodovias federais, BR 282 e BR 480, tirando esse fluxo de dentro da cidade. É uma pauta recorrente da Prefeitura de Chapecó. O poder público do município está ávido desta decisão, mas depende do governo do Estado e do governo Federal. Há uma sinalização: um projeto do governo do Estado que está em licenciamento ambiental, faltando a discussão de dois ou três quilômetros só, com mais de 20 quilômetros que já estão em consenso. Essa é a pauta e o ano eleitoral é bem-vindo, que é quando você tem mais chances de ser ouvido. No entanto, não acredito que a obra aconteça neste ano, porque depende de projeto de licenciamento ambiental e processo licitatório demorados. Já fico satisfeitíssimo se nós tivéssemos a licitação neste ano. O recurso é do governo do Estado com financiamento federal. Os municípios de Chapecó e Cordilheira Alta entrariam com convênio para ajudar na desapropriação, chamar os proprietários e ofertar a gleba de terra por um investimento em outras áreas municipais. Um exemplo: o município poderia criar uma lei dizendo que aqueles proprietários que doarem área de terra para a obra, terão uma compensação ao fazerem um loteamento, por exemplo. É uma vantagem que atrai. É um atrativo para os empresários não cobrarem indenização, que é a parte mais cara da obra e um grande obstáculo.
O setor tecnológico, que tem crescimento anual de 20% e emprega quatro mil pessoas no município também aguarda obras importantes. A conclusão do Centro de Inovação Tecnológica é uma delas. A obra está parada e deveria ter sido entregue em 2016. O setor pode esperar a obra para este ano?
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Essa obra é um convênio entre município e Estado. A contrapartida de Chapecó é um pouco mais de R$ 1 milhão e do Estado quase R$7 milhões. Tivemos um problema com o projeto desta obra. Foi feito para a Espanha e trazido para Santa Catarina. Então, o projeto tinha, por exemplo, calefação na obra. Para nossa região que não tem neve, não agrega. Tivemos que mudar o projeto e isso demorou um pouco. Agora estamos com mais de 90% da obra concluída e queremos fazer a inauguração ainda no primeiro semestre deste ano. Se eu tivesse que apostar, diria que o segmento de tecnologia será o de maior crescimento no segundo centenário de Chapecó. A Prefeitura tem que levar como prioridade número um nestes últimos três anos de mandato.
O município também precisa ceder terreno para Polo Tecnológico do Oeste. Como está o projeto?
Nós já temos uma área de terra de 204 mil metros quadrados, do tamanho do Parque da Efapi, para ceder à Deatec (Associação Polo Tecnológico do Oeste Catarinense) ou a outra instituição ligado ao setor que possa fazer um distrito industrial de tecnologia e inovação. Nós chamamos de Distrito de Inovação, mas também pode ser chamado de Polo Tecnológico. Esta área está à disposição desta empresa, que é uma sociedade para fins específicos, como é o Sapiens Parque em Florianópolis. Nós queremos um Sapiens Parque aqui. Acho que não é sonhar demais. O município doa a área para começar o projeto, mas ainda precisa do conhecimento técnico das universidades e do empreendedorismo do setor para criação desta sociedade para fins específicos. Quando esta sociedade for firmada, no outro dia passamos a escritura do terreno.
O senhor despontou como nome importante dentro do PSB no Estado. Há possibilidade de disputar algum cargo eletivo neste ano?
Não, nenhuma. Tenho um compromisso com a cidade e acho que temos que fazer um belo mandato. Temos a questão da regularização fundiária que é uma das prioridades para o desenvolvimento urbano da cidade. Já avançamos, entregamos as primeiras escrituras no ano passado. Temos as parcerias público privadas, a transformação do Distrito de Inovação, a modernização da mobilidade urbana. Para isso tudo, é importante estar aqui. Não vejo nenhuma possibilidade de renúncia. Eu sou um prefeito feliz. Eu gosto do que faço. Se existisse o verbo “prefeitar”, eu estaria no gerúndio.
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