Após um ano movimentado do início ao fim, com greve do funcionalismo público, mudança no CNPJ da Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap) e medidas polêmicas na tentativa de equilibrar as contas da prefeitura de Florianópolis, prefeito Gean Loureiro (PMDB) chegou em 2018 confiante e acreditando que o pior já passou

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O peemedebista enumera ações que considera essenciais para arrumar a casa. Cita 2018 como o ano dos investimentos na cidade. Reitera promessas feitas na campanha de 2016 e critica o governo do Estado pela falta de apoio. Tem grandes expectativas de que os ventos mudem com a posse de Eduardo Pinho Moreira como governador de Santa Catarina.

Confira a entrevista:

Qual a avaliação desse primeiro quarto de mandato?

Gean Loureiro: Positiva. Assumimos a prefeitura com a pior gestão fiscal do Brasil, mas conseguimos ser reconhecidos pela Secretaria do Tesouro Nacional pela melhor recuperação fiscal. Temos números que demonstraram o fim daquela história de gastar mais do que arrecada. Aumentamos a arrecadação, diminuímos as despesas sem acabar com os serviços, contivemos o crescimento geométrico da folha, adotamos as medidas na Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), que precisavam ser feitas, mantivemos os serviços da cidade e reorganizamos a parte fiscal com as certidões (negativas de débito) para poder contrair novos financiamentos. Então, acredito que vencemos a etapa mais difícil. Pagamos o equivalente a 15 folhas de pagamento este ano. Antecipamos o salário do mês de dezembro, que seria em janeiro. Nossos fornecedores estão todos em dia de 2017. Estamos comprando 30% mais barato porque pagamos em dia. Parcelamos a dívida com fornecedores de 2016, pagamos R$ 27 milhões, e ainda tem R$ 200 milhões que a gente vai parcelar nos próximos três anos, e vamos pagar tudo no nosso governo. Quitamos a dívida com os servidores. E temos uma série de expectativas positivas para 2018. Estamos desde a metade do ano organizando a Operação Verão. Acredito que foi um ano vitorioso para a cidade, que voltou a entender que o Executivo tem diálogo com a sociedade. Estou com as entidades. Mesmo tendo os embates com o sindicato, a gente estava lá para debater as questões, senão, não chegaríamos onde chegamos. Chegou uma nova era para Florianópolis, uma era de crescimento, de cortar impostos, aumentar receitas. A gente voltou a ter segurança jurídica com os investidores na questão do Plano Diretor. Começamos a ter coragem de fazer enfrentamentos que há muito não se tinha.

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O Plano Diretor de Florianópolis é assunto encerrado?

Gean: Tem validade, mas vamos regulamentar alguns pontos para poder ter melhor funcionalidade. Será discutido em 2018.

Florianópolis fechou o ano com 176 mortes violentas. O senhor pediu aumento no efetivo, e não levou. O que a prefeitura pretende fazer para atacar o problema da violência em comunidades carentes da cidade?

Gean: Todas as ações da prefeitura têm efeito em médio e longo prazos. Identificamos, através de levantamento da Polícia Militar, as áreas mais vulneráveis, a mancha criminal mais forte, para intensificar ali os projetos sociais que serão implementados. A Guarda Municipal adotou uma postura mais comunitária, fazendo a segurança na porta das escolas, nas praças, as blitzes da Lei Seca. A guarda está muito mais integrada com outros órgãos. Hoje, acabou aquela rivalidade entre Polícia Militar e Guarda Municipal porque fazemos ações conjuntas, desde combate ao ambulante clandestino, ações de trânsito, e aquilo que for preciso. Venho sendo muito incisivo na cobrança ao governo do Estado, pedindo mais efetivo, mais estrutura. Pela primeira vez, a prefeitura está totalmente adimplente com os convênios, permitindo a compra de equipamentos e de melhor estrutura. Estamos avaliando novos convênios e parcerias com a Polícia Militar e Polícia Civil para poder fazer trabalhos em conjunto. Estamos trabalhando, mas Florianópolis apresentou índices de mortes violentas que ultrapassaram o limite do bom senso. Então é obrigatório ter uma ação repressiva num primeiro momento, com efetivo policial para combater essa violência que vem ocorrendo. Em que pese nessa distribuição de PMs, eu ter apontado como injusta para Florianópolis, nós estamos discutindo para se ampliar o efetivo no decorrer de 2018 para ter efetivo suficiente para combater o crime.

Em relação ao transporte público, o senhor prometeu implantar o BRT. Um ano depois, como está o projeto?

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Gean: Trabalhamos a tecnologia para poder funcionar melhor, que foi o Floripa no Ponto. Já está com 70 mil usuários. Agora, estamos oferecendo para os turistas em inglês e espanhol. A obra do BRT que foi iniciada no primeiro semestre teve um pedido de aditivo da empresa. Nós não concordamos, daí foi feita uma rescisão. Vamos lançar o edital novamente nas próximas semanas para execução da obra.

Em junho, o senhor foi à Espanha em busca de financiamento de R$ 500 milhões (mesmo valor de contrapartida) com o BID para obras de infraestrutura em Florianópolis. No mesmo mês falou que a expectativa era assinar contrato ainda em 2017. Como está a questão?

Gean: O projeto está em fase de análise pela parte técnica do banco. A expectativa é de que, segundo o banco, no início do segundo semestre deste ano poder assinar o contrato. Óbvio que tem etapas, passa por aqui, começa uma negociação ali, vai para a direção do banco em Washington, vem para cá, conclui a negociação, aprova no Senado e assina o contrato. Mas nós estamos falando da maior carência, maior prazo para pagamento, menor juro do mercado, e um financiamento de U$ 291 milhões.

O orçamento de 2018 prevê o urbanismo como segunda área com mais recursos. É nessa área que estão financiamentos como o do BID?

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Gean: Estamos levando em conta (financiamento do BID), mas nós também temos o Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa), um financiamento que foi aprovado na Câmara recentemente, junto à Caixa Econômica Federal, e amanhã nós temos reunião com os vice-presidentes da Caixa em que a gente pretende trabalhar um grande pacote de pavimentação de vias públicas, melhoria ampla na sinalização, empreendimentos com praças públicas, projetos para idosos, crianças, investimentos em desapropriações, enfim, hoje a casa está arrumada. Hoje, eu consigo ter crédito para angariar recursos.

São esses dois pilares de financiamento, o do BID e do Finisa?

Gean: Sim. O do BID estamos falando de um projeto de longo prazo, porque só na execução do projeto são cinco anos. Então, não é só para a minha gestão, mas para o futuro da cidade.

Durante a campanha o senhor falou muito de entregar duas obras no primeiro ano de mandato: o elevado do Rio Tavares e a UPA do Continente. Em que pé estão esses projetos?

Gean: A UPA do Continente eu já venho discutindo com o governo do Estado. É uma UPA que vai ter mais de 60% dos atendimentos para pessoas que não moram em Florianópolis, em função da posição geográfica. Já conversei com o vice-governador (Eduardo Pinho Moreira), que vai assumir o governo, e a ideia é compartilhar investimentos para o funcionamento da UPA. A gente já está vendo o modelo e no decorrer de 2018 a gente quer iniciar esse atendimento.

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O “Alô, Doutor” a gente já finalizou o estudo e o método que vai ser criado esse pré-atendimento telefônico, orientando as pessoas se tem a necessidade ou não de fazer a consulta. Tem o algoritmo que é utilizado em países da Europa e está sendo exportado especialmente do Reino Unido para cá, e a estrutura está pronta para ser licitada em fevereiro de 2018. Estive vistoriando o Elevado do Rio Tavares. Vou toda a semana. No final do ano, pagamos as desapropriações necessárias para abrir uma frente de trabalho maior. Das 59 desapropriações, só faltam nove, que é uma alça final de R$ 1 milhão e o dinheiro já está reservado. O Iphan está há três meses trabalhando no recolhimento de material, concluiu esse recolhimento, e a superintendente (do Iphan) disse que no prazo máximo de 30 dias finaliza a homologação que permite aquele pilar principal. No elevado, também tivemos problema no financiamento da obra, que é do governo do Estado. Mas fizemos um novo financiamento e o dinheiro já está à disposição. A expectativa é concluir o elevado no final do primeiro semestre deste ano. E a UPA, depende dessa conversação com o governo, que vai iniciar a partir de fevereiro. Fora isso, cumprimos todos os nossos compromissos.

Em abril de 2017, a prefeitura criou a Comissão Especial dos Grandes Devedores (CEGD) da cidade, que constatou a existência de R$ 700 milhões de dívidas aos cofres do município. Como está a cobrança da dívida ativa?

Gean: Uma boa parte da dívida ativa do município se chama dívida podre, que é impossível de cobrar. Você não vai cobrar do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc). Não existe mais o que cobrar. Talvez R$ 500 milhões a gente até consiga. A gente ampliou a arrecadação da dívida ativa em 2017, foi um dos fatores que ajudou nosso aumento de arrecadação, porque a gente foi muito firme na questão dos pedidos de indisponibilidade de bens, notificação de todos os devedores e, agora, firmamos um convênio para começar a registrar no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) os devedores. Então, estamos num cerco completo de cobrança aos devedores da prefeitura. A princípio, é o seguinte: todos os que estão devendo, vamos colocar no SPC.

O que espera da troca de governador, com seu colega de partido Eduardo Pinho Moreira assumindo a cadeira e a caneta de Raimundo Colombo?

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Gean: Muito positivo. Eu tenho uma relação próxima com o vice-governador. Ele é minha porta de entrada no governo do Estado hoje, é onde eu trago os reclames. Ele sabe que existem demandas. O Estado está devendo para a cidade de Florianópolis, precisa investir mais aqui. Tivemos uma série de conquistas junto ao governo federal, que os nossos senadores ajudaram, especialmente o Dário Berger (PMDB), que agora como presidente da Comissão Mista de Orçamento tive mais força política para poder trazer (recursos). E do governo do Estado, a gente espera novas parcerias, e a expectativa é muito positiva para 2018 nessa relação política.

Quais as metas para 2018?

Gean: Agora, a gente começa a pensar nos investimentos. O primeiro ano foi o de arrumar a casa. Manter, continuar mantendo a austeridade no controle de despesas, no custeio da prefeitura, buscar aumentar a arrecadação, melhorando o sistema tributário municipal, nosso sistema precisa melhorar para poder arrecadar mais. A nossa meta, muito clara, é ter investimentos em setores específicos, especialmente infraestrutura, mas concluir as obras na saúde que estavam inacabadas, concluir as obras na educação, diminuir consideravelmente a fila de espera em creche, para quem sabe até o final do ano zerar e poder atender a todos que estão nessa fila. Acho que vai ser um ano de expectativa positiva, de crescimento para a cidade, de grandes investimentos e de melhoras em setores essenciais.

O senhor acredita que o PMDB deve ter candidato a governador?

Gean: O prefeito cuida da cidade. O Gean Loureiro do PMDB vai trabalhar de maneira muito intensa para termos um candidato a governador do PMDB. O PMDB tem candidato a governador, que é o deputado federal Mauro Mariani, e a gente vai estar trabalhando, todo o partido dedicado na campanha dele. Eu não tenho dúvida que ter um governador do PMDB vai abrir muitas portas para nossa administração no novo governo.

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