No dia 11 de outubro o bispo Dom José Negri recebeu uma ligação do núncio apostólico do Brasil, Dom Giovanni D’Aniello, informando sua nova missão: ser bispo coadjutor da Diocese de Santo Amaro, em São Paulo. “Foi uma grande surpresa”, disse o religioso, que atendeu a reportagem do Santa em seu gabinete minutos antes da entrevista coletiva que concedeu nesta quarta-feira à tarde.
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O bispo, que sempre trabalhou em Santa Catarina desde que chegou ao Brasil _ ele é natural de Milão, na Itália _ disse que já chorou pensado no que deixa em Blumenau, mas que assume feliz a nova missão em São Paulo. Confira trechos da entrevista:
Jornal de Santa Catarina – Quando o núncio lhe comunica a transferência é uma decisão já tomada ou o senhor pode opinar?
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Dom José Negri – A gente até pode, mas quem tem coragem de dizer não para o Papa? A gente tem que escrever para o Papa dizendo que não aceita e explicando os motivos. Eu sou missionário, vim da Itália há quase 30 anos e já com este espírito de evangelizar, de trabalhar onde se necessita. Portanto nunca me recusei ou disse não ao meu superior, porque estou aqui não para fazer a minha vontade, mas a vontade de Deus.
Santa – Assusta uma nova diocese com 3 milhões de fiéis?
Dom José – Assusta. Assusta porque eu nunca trabalhei em São Paulo e sobretudo me assusta o número. Lembro de uma época em que fui conselheiro regional da província de São Paulo. Praticamente todos os meses eu viaja de ônibus de Santa Catarina para São Paulo. Quando chegava na periferia e via aqueles prédios e arranha-céus pensava: como é possível evangelizar este povo? Como o evangelho pode chegar a todas essas casas, a todas essas pessoas? Porém, o que está trabalhando dentro de mim é esta missionaridade, que se encaixa com aquilo que diz o Papa: a Igreja tem que estar presente na periferia. Portanto vejo essa como uma missão especialíssima. Na Diocese de Blumenau acontecerão as missões diocesana, na qual todos se tornarão missionários. Também eu, como primeiro diocesano da diocese, estou sendo enviado em missão. Eu estou dando o exemplo.
Santa – O que o senhor destaca como legado ao povo de Blumenau?
Dom José – Desde o primeiro ano da minha chegada logo pensei que antes de começar um trabalho, precisava conhecer a realidade. Todas as 40 paróquias e 280 capelas foram visitadas. Posso dizer que encontrei muitíssima gente dedicada, trabalhando, lutando com seus pastores, seus padres. Vejo um contingente de lideranças que trabalha. Vejo também uma Igreja estruturada, onde realmente chegou o Concílio Vaticano II, com suas ideias inovadoras, de renovação das comunidades.
Santa – Algum projeto não vai ser concluído?
Dom José – As missões que serão no ano que vem. Infelizmente este projeto ficou irrealizado, mas com certeza vou fazer missão em outro lugar. Lutei ao longo de todos esses anos para agora, no sexto ano, realizar as missões. E tentei ajudar também o povo da diocese de Blumenau a entender, como diz o Papa, essa expressão missionária da Igreja. Hoje ou a igreja se torna missionária ou vai acabar.
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Santa – E como na prática acontece essa Igreja missionária?
Dom José – Significa, como diz o santo padre o Papa, abrir as portas da igreja e sair. O Papa sonha com uma Igreja “in saída”, à procura daqueles que se afastaram, que de um jeito ou de outro ainda não conhecem Deus, que conhecem e tiveram uma experiência negativa e dos acomodados.
Santa – Falta acolhimento na Igreja católica?
Dom José – Este é o nosso desafio. E o Papa diz também que quer uma Igreja pobre para os pobres. Penso que de um jeito ou de outro estamos atendendo esta realidade. Todas as paróquias têm ações sociais, várias expressões de caridade. Mas ser missionário é justamente isso, ir à procura do mais necessitado, do marginalizado, do pobre, daquele que é excluído da sociedade.