No ano em que o Festival de Música de Santa Catarina (Femusc) completa uma década de existência, o evento traz em sua esteira uma lista de números que impressionam: apenas em sua 10ª edição, foram mais de 1330 inscrições recebidas, 800 participantes confirmados, 30 países representados. Mais que números, porém, o festival pode se vangloriar de dados que nem sempre são medidos. Um evento definido pelo amplo diálogo e doação de seus participantes, o Femusc cativa quem imerge nas duas semanas de festival. E conquistou, inclusive, grandes nomes da música erudita mundial, que também completam uma década ininterrupta de Femusc.

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:: Confira os dez melhores momentos dos dez anos de Femusc ::

:: Participantes revelam seus rituais antes de entrar em palco ::

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O que esses professores têm dado para o Femusc é incalculável. Eles são chamados para lecionar e apresentam concertos, de graça. A nossa estratégia é recebê-los bem, dar o melhor da hospitalidade catarinense _ define o criador e diretor artístico do Femusc, Alex Klein.

Mais que hospitaleiro, Alex explica que o Femusc conseguiu se firmar como um ponto de encontro – é aqui que antigos amigos se reencontram anualmente, criando conexões que muitas vezes são extrapoladas e resultam em parcerias em outros festivais e eventos.

– Eles se sentem aqui como num grupo de amigos, e fico muito feliz que eles queiram voltar, porque nós queremos que eles voltem.

Richard Young, viola, Estados Unidos

Americano, o professor de viola Richard Young vê no Femusc um festival de oportunidades. Para ele, o evento cria chances para jovens talentosos que desejam estudar em outros países, adquirindo uma educação mais intensa.

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– Há muito talento no Brasil, porém não muitas oportunidades para alunos promissores de estudar com os melhores professores. A solução é tentar vagas em outros países, o que entretanto é limitado. No Femusc esses alunos tem a chance de trabalhar nas aulas diretamente com esses professores.

Richard avalia como marcantes as apresentações do Projeto Serioso, programa intensivo de música de câmara ministrado por ele próprio. Devido à raridade de estudar diretamente a música de câmara na América Latina, o professor destaca esse trabalho, que tem resultados considerados impressionantes.

Paciente, o professor avalia que não se pode falar em legado do evento até que os resultados sejam vistos daqui a dez anos. Para ele, a maneira de avaliar resultados é examinar o sucesso de seus estudantes em um futuro mais distante. Nesse meio tempo, porém, o violista segue encorajado pelo fato de que tantos de seus alunos no festival continuaram desenvolvendo seu trabalho, de formas que talvez não tivessem ocorrido sem o incentivo do Femusc.

Luiz Garcia, trompa, Brasil

– Participo todo ano do Femusc porque acredito em sua proposta!

É assim que o professor de trompa Luiz Garcia resume sua presença confirmada nos dez anos de evento. Para ele, o festival é uma forma tanto de divulgar seu próprio trabalho quanto de contribuir para a causa nobre do aprendizado. Apesar da dificuldade de eleger um momento como o mais marcante ao longo de todas as edições, ele cita os concertos da Mega Orquestra como um destaque. Além disso, concertos do ProMusc e a convivência com os colegas são sempre lembrados como marcantes.

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Para o trompista, o legado do Femusc é a disseminação da informação musical de qualidade, seja no Brasil, seja em outros países da América Latina, que se veem representados pelos participantes. O enriquecimento cultural de Jaraguá do Sul e região também são lembrados pelo professor como méritos deixados de herança pelo grandioso evento.

Norberto R. Garcia, violino e maestro, Argentina

Entusiasta do festival, o argentino Norberto Garcia vê no Femusc uma oportunidade de reunir-se com colegas, organizadores, músicos e estudantes de todo o mundo interessados em aprender e fazer música.

– Cada ano é uma nova oportunidade e uma tentação irresistível continuar participando. Todos os anos, os resultados artísticos, pedagógicos e humanos estão crescendo e cumprindo metas sempre maiores e mais profundas.

Um destaque único seria, para ele, impossível de citar – cada momento foi considerado especial e extraordinário. Desenvolver aulas, trabalhar com uma equipe calorosa, preparar as apresentações: tudo forma o espectro majestoso do evento. E aí reside, também, o legado de dez anos: uma energia emocionante produzida pela música, que é compartilhada por milhares de pessoas – entre estudantes, professores e público.

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– Essa energia é um grande benefício para todos e, ao mesmo tempo, é multiplicada, levada e projetada para diferentes sociedades ao redor do mundo, melhorando a qualidade de vida e o desenvolvimento espiritual.

Emerson di Biaggi, viola, Brasil

Descrito como um festival único no Brasil e na América Latina, o Femusc representa para o professor de viola brasileiro Emerson di Biaggi uma oportunidade especial de fazer música de primeira qualidade com excelentes professores das mais diversas origens. Mais que isso, essa mesma oportunidade é estendida a alunos.

– Ele reúne jovens talentos de diversos países, mais que qualquer outro festival que eu conheça, numa atmosfera de seriedade e grande envolvimento com a música, sem no entanto perder a alegria e a descontração.

Um dos momentos que marcaram a trajetória de dez anos foi a execução da Sagração da Primavera, de Stravinsky, na edição de 2012, sob a regência de Alex Klein. A difícil obra do compositor russo contou apenas com três ensaios antes da apresentação – e inclui alguns deslizes no ensaio geral. Antes de entrar ao palco, porém, o maestro reafirmou sua confiança no grupo e o resultado foi uma performance quase perfeita, “com muita energia e envolvimento de todos”, como lembra Emerson. Para o professor, a liderança de Klein foi determinante para extrair o melhor de cada músico.

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Di Biaggi vê no Femusc um festival que cria pontes entre professores e alunos de diversos países, sendo, para muitos participantes, uma oportunidade única de ter ensino musical de alto nível, gerando questionamentos e reflexões que devem refletir no desenvolvimento de seu modo de tocar.

– Para concluir, acredito que o Femusc coloca o estado de Santa Catarina e Jaraguá do Sul numa posição privilegiada no cenário musical brasileiro e latino-americano. Esse legado vem crescendo ano a ano e eu me orgulho de fazer parte desse time!

Charles Stegeman, violino, Canadá

Canadense que reside e leciona nos Estados Unidos, o violinista Charles Stegeman confessa que quando desembarcou em Jaraguá do Sul pela primeira vez, 10 anos atrás, não esperava muito do festival que estava prestes a começar. Saiu da edição inaugural do Femusc, porém, maravilhado.

– O Alex começou um impressionante festival e voltar é muito importante para mim. O nível melhora a cada ano e a comunidade aqui é maravilhosa. Eu aguardo ansiosamente pelo festival todos os anos e aqui é como uma segunda casa por duas semanas.

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Stegeman conta que sempre é marcante subir ao palco com o próprio idealizador do evento, Alex Klein. Para ele, que já se apresentou com o oboísta em diversos palcos mundiais, ser recebido na terra natal de Klein é um privilégio.

O canadense, responsável por revelar diversos talentos no Femusc e levá-los para estudar em terras norte-americanas, vê aí o legado do evento: propiciar chances de bolsas e educação de alto nível, através de alunos que depois retornam ao país trazendo esse aprendizado de volta, ou são inseridos em grandes orquestras mundiais, levando o nome do Brasil para altos patamares.

Fany Solter, piano, Brasil

A pianista Fany Solter é outra das imponentes presenças garantidas a cada edição do Femusc. Apesar de sua primeira participação no festival ter ocorrido em 2007, no segundo ano de evento, sua cativante figura é intimamente ligada ao evento.

– Tenho recebido convites anuais do Alex e isso sempre me alegra. É excepcional estar junto com tantos colegas fantásticos nesse festival fantástico.

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Fany indica que o Femusc alcança níveis altos: são professores e orquestras de todo o mundo que mostram aos participantes o alto nível que pode ser atingido com o trabalho adequado e muito esforço. Reunir tantos alunos da América Latina também é um destaque, integrando os conhecimentos dos países e demonstrando o que está sendo desenvolvido em cada local. Para ela, o legado do evento é o próprio estímulo ao desenvolvimento cultural catarinense, trazendo qualidade ao ensino musical do estado.

Pianista com uma carreira renomada, que já presenciou e dividiu palco com os melhores intérpretes da música erudita atual, Fany lembra de um momento marcante ao longo dos dez anos de evento: a primeira visita da Orquestra Neojiba, da Bahia, ao Femusc.

– Ver aqueles menininhos tocando Beethoven e sinfonias daquele jeito foi emocionante, me tocou de um modo que quase chorei. Não tem como esquecer _ sorri ela.