Quando se inscreveu para participar do 10º Festival de Música de Santa Catarina (Femusc), Laura von Atzingen até pensava em buscar oportunidades de ensino. Só não imaginou que já sairia de Jaraguá do Sul com um convite de bolsa integral para um mestrado na Universidade de Duquesne, em Pittsburgh, Estados Unidos. A jovem de 23 anos, formada em violino em 2013 e integrante da Orquestra do Sesi em Belo Horizonte, está prestes a aceitar o convite e embarcar para uma temporada de dois anos no país norte-americano, sob a tutela do professor Charles Stegeman, um dos veteranos dos dez anos de Femusc.

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– É o sonho de qualquer músico fazer mestrado fora. Aqui no Brasil, nossos professores são bons, mas eles são formados fora e as universidades daqui ainda estão um pouco estagnadas, apenas a Universidade Federal da Bahia oferece um mestrado em performance, por exemplo – explica ela.

As diferenças entre métodos de ensino, a chance de aprender com renomados mestres e o crescimento pessoal de uma estadia em outro país são as oportunidades buscadas pelos alunos já graduados que frequentam o festival. Apresentando seus melhores dotes para os professores, os alunos de níveis avançados e do programa ProMusc buscam visibilidade e, quem sabe, um convite para uma temporada no exterior. Assim como Laura, outros alunos já receberam, na edição de 2015, propostas para cursos. E os tantos participantes que já passaram pela experiência confirmam que a opção vale a pena.

O violinista canadense Charles Stegeman é um dos professores responsáveis por levar, anualmente, participantes do Femusc para sua universidade, nos Estados Unidos. Com o poder de conceder bolsas, ele conta que oferece uma média de quatro vagas por ano durante o festival – algumas com bolsas integrais, outras com descontos que chegam a 50%. Neste ano, além de Laura, outros dois brasileiros receberam o convite. O australiano Tobias Chisnall, também. O que conta na hora das oportunidades não são apenas o talento e a capacidade técnica com o instrumento. Charles explica que a maturidade é fundamental para que os jovens suportem a mudança cultural e a distância de amigos e família.

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Desenvolvimento

Para o professor, que encontra talentos de diversas partes do mundo no Brasil, levar músicos principiantes para terras americanas é uma forma de profissionalizá-los. Mais que isso, é sua forma de espalhar a música: para onde forem, seus pupilos levarão a boa música e se desenvolverão como bons profissionais.

Da Austrália para a América

O australiano Tobias Chisnall, 23, foi um dos jovens que receberam, neste ano, o convite de Charles Stegeman para estudar nos Estados Unidos. Aluno do renomado professor Ole Bohn em Sydney, o violinista vislumbra uma oportunidade de crescimento profissional, recebida em sua primeira participação no Femusc. Sem expectativas, ele conta que pretendia apenas tocar para outros grandes mestres do violino e aprender com eles nessas duas semanas de evento. Foi em uma dessas apresentações que ele recebeu o convite – que ainda está em análise.

Para ele, apesar de a Austrália ofertar boas oportunidades musicais, os Estados Unidos são o centro da música clássica mundial – junto a outros países europeus.

Vidas transformadas pelas ofertas surgidas no evento

Thiago Formiga, 25, é um dos jovens violinistas que confirmaram para seus colegas de Femusc as vantagens de uma experiência no exterior. Em 2012, durante o festival, ele recebeu a proposta de Charles Stegeman para cursar mestrado, com bolsa integral, nos Estados Unidos. Aceitou e, seis meses depois, já estava em Pittsburgh. Se o primeiro ano foi de dificuldades emocionais pela distância e cultura diferentes, o desenvolvimento musical superou as barreiras – e o objetivo de aprendizado foi a base para sustentá-lo.

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Ao fim de dois anos, porém, a realidade era outra. Thiago finalizou o mestrado em 2014 e retornou para o Brasil, com um convite para ser spalla da Orquestra Sinfônica da Paraíba. Dos Estados Unidos trouxe mais que a capacitação profissional e o desenvolvimento emocional: a namorada americana Leah Dutton, 22, mudou-se para o Brasil há um mês e irá inscrever-se para um mestrado aqui. A busca internacional por aperfeiçoamento, porém, não para por aqui para Thiago. O violinista já está de olho em uma vaga para um doutorado na Austrália, sob a tutela de Ole Bohn.

Apesar das diversas oportunidades de estudo fora, porém, focar em um futuro promissor por vezes requer desapegos. Rodrigo Eloy também recebeu, em 2012, uma oportunidade de mestrado nos Estados Unidos. Pouco tempo depois, entretanto, foi aberto um concurso público para a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Com poucos concursos públicos para orquestras, o jovem de 23 anos vislumbrou uma oportunidade de longo prazo na carreira, além da estabilidade. Desde 2013 atua no conjunto e hoje cursa mestrado, além de conciliar a agenda como spalla da Orquestra Municipal de João Pessoa. A decisão foi apoiada pelo próprio Charles Stegeman, que lhe ofertou a bolsa. Apesar das oportunidades fora, o foco na música parece, em qualquer caso, a melhor das opções.