Um médico cuja jornada de trabalho era de 169 semanais, sendo que uma semana tem apenas 168 horas. Outro, atendeu um cliente no consultório particular após um paciente não encontrá-lo no Hospital Universitário (HU) da UFSC. Um terceiro estava na Europa e, mesmo assim, batia ponto no HU. Esses são alguns exemplos de supostas fraudes citados pelo delegado Allan Dias, responsável pela Operação Onipresença, que apura fraudes no controle de frequência da instituição.
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– A simples assinatura da folha ponto não quer dizer, de forma alguma, que eles estavam efetivamente trabalhando – aponta Dias.
Dias detalhou a operação em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira. Depois de colher depoimentos e fazer interrogatórios, a Polícia Federal despachou 27 indiciamentos durante a semana. Destes, 20 já foram interrogados pela PF e a maioria preferiu permanecer em silêncio. Os outros sete serão ouvidos até esta sexta-feira.
Foram ouvidos também 21 servidores do HU, oito do Estado de SC e 43 funcionários de consultórios ou empresas particulares. O delegado, no entanto, não divulgou nomes, funções ou acusações de cada um dos médicos.
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Reitoria da UFSC e direção do HU devem ser ouvidos
De acordo com Dias, 25 dos investigados possuíam uma carga horária semanal acima de 60 horas, o que é contra uma determinação da Advocacia-Geral da União (AGU) e caracteriza irregularidade. 10 deles supostamente faziam mais de 100 horas por semana – uma média de 14 por dia, sem fins de semana.
– A conclusão que se chega é de que as horas contratadas no HU não são prestadas.
O desvio resultante do esquema é estimado em R$ 36 milhões para o prazo de cinco anos. O delegado Dias, entretanto, garantiu que novos médicos devem ser investigados pela Polícia Federal por irregularidades semelhantes.
– A operação não se encerra de forma alguma com esses indiciamentos. Certamente haverá novas linhas de investigação e novos suspeitos – disse.
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Questionado se Reitoria da UFSC e direção do HU seriam penalizados ou indiciados ou pela PF, o delegado disse que não comentaria a possibilidade porque pode atrapalhar a investigação, mas garantiu que representantes da universidade serão ouvidos.
As investigações começaram em outubro de 2013, após uma denúncia sigilosa. Além de punições administrativas, como a perda da licença, os envolvidos podem ter de ressarcir os valores que receberam do HU quando supostamente estavam em consultórios e clínicas particulares, além de perder os cargos públicos.
Em 9 de junho, a PF cumpriu 52 mandados de busca e apreensão em Florianópolis, Tubarão, Itajaí e Criciúma para recolher documentos que possam ajudar nas investigações.
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Médicos silenciam em depoimentos à Polícia Federal
“É impossível controlar o horário de todos”, diz diretor do HU
“Não faltam médicos: eles precisam ir trabalhar”, afirma delegado