Com o semblante de quem passou o dia sendo indagado e cobrado, o diretor-geral do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU/UFSC), Carlos Alberto Justo da Silva, saiu de uma reunião com a diretoria da instituição para receber a reportagem do DC. Falou sobre diversos temas, inclusive sobre a dificuldade em monitorar diariamente o ponto de tantos servidores. O problema é que o não cumprimento de horas contratuais por parte de médicos deve resultar em 27 indiciamentos após operação da Polícia Federal.

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Operação cumpre mandados de busca no Hospital Universitário

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No cargo desde outubro de 2012, Paraná – como é conhecido dentro do ambiente universitário – tem pela frente a difícil tarefa de acompanhar a investigação da Operação Onipresença sem ser injusto com médicos que possam vir a ser inocentados mais tarde.

– Quando alguém vê seu filho fazendo algo errado na rua e te conta, você acredita imediatamente ou espera ele chegar em casa para perguntar o que houve? Não posso pré-julgar, mas também não quero passar a mão na cabeça de ninguém – diz.

Após ver a polícia investigando pelo menos 27 de seus médicos por descumprimento da jornada de trabalho dentro do hospital e cumprindo 52 mandados de busca e apreensão em quatro cidades do Estado, o diretor-geral se diz abalado, não apenas como administrador e ex-vice reitor da universidade, mas também como médico.

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Para ele, tomar a conduta irregular de alguns como o padrão do serviço público é sempre um passo perigoso, e por isso mesmo pretende intensificar o controle dos horários dos servidores – divulgando suas escalas em locais de alta circulação dentro do hospital. Confira a entrevista:

Passada a operação, como a administração do HU pretende lidar com a questão dos horários?

O médico possui uma folha-ponto, igual a todos os servidores. Mas sou favorável à implantação do ponto eletrônico, que depende da reitoria da UFSC e deve ocorrer de forma igual em todas as áreas. Se você aplica isso a apenas um setor, caracteriza um tratamento injusto, do tipo “esse precisa de mais controle e aquele precisa de menos”. O ponto eletrônico será instalado na UFSC até o fim de 2016 – mas se pudesse começar antes, eu agradeceria. A diretoria do HU também tomou outra decisão, que é expor a lista com nome e horário dos profissionais em locais de circulação pública dentro do hospital. Considero essa uma forma mais efetiva que o controle eletrônico, já que nada impede que o médico ou servidor chegue, bata o cartão e vá embora atender em outro lugar. Vamos publicar todas as agendas de trabalho dos médicos em locais públicos.

E isso não vai causar um mal-estar entre os médicos? Eles podem se sentir sob suspeita ou vigilância?

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Não estou preocupado com isso. Se 10% dos médicos estão sob suspeita, os outros 90% não têm medo algum de verem seus horários expostos. Trabalham corretamente e concordam que tais medidas não perseguem este ou aquele profissional específico.

A atuação destes médicos tem afetado o ritmo dos atendimentos e marcação de consultas no HU?

Não acredito nisso. Não acho que tenha afetado de forma alguma. Na verdade, minha expectativa é de que todas estas pessoas consigam comprovar que não fizeram aquilo de que são acusadas. Mais ou menos como quando alguém vê seu filho fazendo algo errado e te conta – você acredita imediatamente ou espera ele chegar para perguntar o que houve? Quando vi os nomes, reconheci gente que não acreditei que estaria lá.

A Polícia Federal entrou em contato com a direção com antecedência? O senhor entrou em contato com os médicos?

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A PF não falou comigo. Eu estava dando aula e eles foram atendidos pela vice-diretora. Estiveram aqui, apresentaram o mandado de busca e apreensão e deixamos eles à vontade com acesso a quaisquer documentos que quisessem. Também não falei com os indivíduos. Não guardei o nome de todos e nem quero saber quem são todos: só quero que eles vão lá e se defendam frente à Justiça. Agora, a hora que todo o processo estiver correndo, que eles forem indiciados ou julgados, aí sim iremos abrir os respectivos processos internos para averiguar caso a caso.

E a direção do HU tinha conhecimento anterior de algum desses casos?

Quero conhecer um empresário que esteja gerindo uma empresa com 1,3 mil pessoas e saiba o horário em que cada um entrou e saiu. Não cabe imaginar que alguém tenha controle sobre isso. É claro que isso não significa dizer que não há responsabilidade dos profissionais ou da administração, mas é impossível gerir uma instituição tão grande e monitorar a escala de cada um, todos os dias.

Quando ocorre uma operação como essas, as pessoas acabam perdendo a confiança no serviço público…

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Há intencionalidade de desacreditar as coisas públicas de forma geral. Mas também não podemos dizer que não é necessário denunciar as mazelas das instituições públicas e a Justiça e a imprensa fazem isso. É preciso separar pessoas de instituições e fazer isso com urgência.

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