A rota do tráfico de drogas sintéticas entre a Europa e Santa Catarina voltou a utilizar o serviço de entrega dos Correios para distribuir ecstasy no Estado e a outras regiões do país. Cinco apreensões de encomendas com o comprimido do mesmo tipo e as mesmas características nas últimas semanas levaram a Polícia Federal (PF) a intensificar a investigação em busca dos traficantes. A suspeita é que se trate do mesmo grupo criminoso.

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A procura por pistas mobiliza policiais federais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), em Florianópolis. Nos últimos anos, a equipe se especializou em identificar, monitorar e prender bandos catarinenses envolvidos com viagens internacionais para o tráfico de cocaína e ecstasy.

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O delegado chefe da DRE da PF em Florianópolis, Gustavo Trevisan, afirma que no fim de junho foram apreendidas cinco encomendas em que havia ecstasy do mesmo tipo (cor azul e com as letras WB) a partir de postagens da Capital catarinense. Os destinos foram cidades catarinenses e de outros Estados.

— É o mesmo tipo, azul e com os mesmos símbolos. Provavelmente é a mesma pessoa que está vendendo e recebeu a droga vinda da Europa — acredita o delegado.

Além do desafio de acabar com o esquema diante da imensa quantidade de encomendas pelos Correios, chama a atenção dos policiais o contínuo envolvimento ilícito de jovens com o tráfico de drogas sintéticas no Estado. A maioria é considerada mula, ou seja, encara os riscos da fiscalização policial para fazer o transporte da Europa a SC em troca de dinheiro.

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A prisão mais recente na Europa é a da catarinense Morgana dos Santos, 24 anos, de Canelinha. Ela morava em Itapema, litoral Norte, trabalhava em um salão de beleza e foi presa ao desembarcar com cocaína no aeroporto de Milão, na Itália, no dia 5 de junho. A PF suspeita que traficantes catarinenses aliciaram Morgana para levar cocaína a Europa e trazer drogas sintéticas na bagagem para o Brasil.

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Drogas e estimulantes por encomendas

Além do ecstasy, já houve investigações da Polícia Civil da Capital em que um jovem preso no Sambaqui, norte da Ilha de SC, recebia LSD via encomendas pelos Correios.

Em outra ação, policiais apreenderam anabolizantes comercializados pela internet e distribuídos depois pelo mesmo esquema do serviço de transporte.

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— A fiscalização dos Correios é por amostragem no raio-x, ou seja, a quantidade é grande e muito difícil localizar. Denúncias são fundamentais para a polícia agir — destaca o delegado Attilio Guaspari Filho, da Delegacia de Combate às Drogas (Decod) da Polícia Civil.

Para ficar caracterizado o tráfico de drogas, policiais alertam que independe da quantidade do entorpecente. Mesmo poucos comprimidos de ecstasy enviados em uma simples podem levar à cadeia — a pena ao tráfico pode chegar a 15 anos de prisão e é agravada se o tráfico for interestadual ou internacional.

O esquema do tráfico e outras substâncias proibidas por criminosos com a utilização dos Correios é prática que acontece há pelo menos dois anos em Santa Catarina. Aposentado da PF e membro do Conselho Estadual de Entorpecentes, o delegado Ildo Rosa diz que já foram abertos nesses anos cerca de 40 inquéritos. Muitas das drogas eram estimulantes e a ação policial depende do laudo químico para comprovar a substância.

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— Eles (traficantes) costumam lançar drogas novas e sofisticadas, muitas vezes estimulantes. O laudo é fundamental para constatar se a substância consta na portaria 344 (define as regras para substâncias de controle especial proibidas no Brasil).

Ildo alerta para os sérios riscos ao organismo do consumo de ecstasy e drogas sintéticas, anteriormente enraizadas na cultura do consumo em festas eletrônicas e que hoje vai além como opção.

— O consumo também traz consequências a médio e longo prazo, podendo se manifestar daqui a um mês, por exemplo, quando a pessoa está dirigindo e menos espera — ressalta.

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O que disse os Correios:

A assessoria de comunicação afirmou que os Correios mantém política de segurança empresarial constante, buscando evitar que se use a empresa para o ato ilícito e quando identificado o envio de imediato é acionada a Polícia Federal. Segundo a empresa, a equipe de fiscalização já atua há bastante tempo, é treinada e apresenta prática em identificar os objetos ilícitos. Ainda conforme a empresa, em SC todas as agências dos Correios possuem sistema de câmeras de vigilância.

Breaking Bad

Em 16 de junho, policiais apreenderam 1,4 mil comprimidos de ecstasy na via Dutra, no Rio de Janeiro, cuja carga era de Santa Catarina e seria comercializada em festas raves. O ecstasy levava o desenho da face do protagonista da série americana Breaking Bad, em que o personagem fabrica drogas em casa.

Em 7 de junho deste ano, policiais civis da Decod apreenderam mil comprimidos de ecstasy no Bairro Kobrasol, em São José. Um homem de 25 anos foi preso em flagrante e a droga era da cor azul também em forma do personagem de Breaking Bad.

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Em 23 de março, policiais da Divisão de Investigação Criminal (DIC) fecharam um laboratório de drogas sintéticas em São José. Havia 700 comprimidos de ecstasy no local e um homem de 28 anos foi preso. O nome da operação foi Breaking Bad em referência ao seriado americano.

SERVIÇO:

Onde denunciar casos de tráfico

Polícia Federal: 194 ou http://denuncia.pf.gov.br/

Polícia Civil: 181

Polícia Militar: 190

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