Depois de se revezar durante 60 anos à frente da antiga Alemanha Ocidental e, desde 1990, do Estado federal alemão reunificado, conservadores e social-democratas podem ser forçados a dividir o poder depois da eleição deste domingo.
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Nem a coalizão encabeçada pela União Democrata Cristã (CDU, em alemão), da chanceler Angela Merkel, nem a do Partido Social-democrata Alemão (SPD), do oposicionista Peer Steinbrück, contam com uma margem confortável nas mais recentes pesquisas de intenção de voto. Se os números se confirmarem, nenhum dos blocos obterá maioria para governar. Nesse caso, conservadores e social-democratas podem ser forçados a um governo de coabitação como o que se seguiu ao início da crise do euro, em 2008.
Na sexta-feira e no sábado, pesquisas realizadas pelo instituto Forsa e pela IFD-Allensbach indicavam que Merkel e seus aliados tradicionais do Partido Liberal Alemão (FDP) somariam 45% dos votos, mesmo percentual atingido pela soma do SPD, dos Verdes e de Die Linke (A Esquerda). Assim, nem o bloco de direita nem o de esquerda obteriam maioria para governar. Os números indicam uma mudança em relação a levantamentos anteriores, que davam vantagem para Merkel.
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Por trás dessa contabilidade eleitoral apertada, estão o cenário social alemão, marcado pelos baixos salários e pelo desconforto em relação aos imigrantes, e as perspectivas incertas do bloco europeu de 28 países puxado pela locomotiva germânica. Nenhum desses temas, porém, dominou a campanha eleitoral, marcada por questões pueris como o direito de estrangeiros dirigirem nas autobahns (rodovias federais). O veredicto mais severo sobre o estado do debate político partiu do eminente filósofo Jürgen Habermas, que acusou as elites alemãs de “falência coletiva”.
Embora 58% dos alemães desejem ver Merkel à frente do governo, contra apenas 32% simpáticos a Steinbrueck, a CDU, partido da primeira-ministra, estacionou nos 40% de preferência nas pesquisas. Seus aliados do FDP, por sua vez, lutam para sobreviver no parlamento, oscilando entre 5,5% e 5% das intenções de voto. Temendo que os eleitores transfiram votos ao FDP para salvar a coalizão, Merkel percorre o país para mobilizar os eleitores indecisos.
– Se querem que a Alemanha prossiga no caminho do êxito e que eu continue trabalhando como chanceler, votem e concedam os dois votos à CDU – diz a chefe de governo.
Há uma dissociação entre as avaliações de Merkel e do governo, diz o cientista político Karl-Rudolf Korte, da Universidade de Duisburgo:
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– Os eleitores estão satisfeitos com a chanceler, mas não com o governo. Parece que teremos uma mudança parcial de governo.
Problemas com aliados não são exclusividade de Merkel. O SPD, que alcança um máximo de 27% nas pesquisas divulgadas até o momento, vê seus parceiros Verdes serem assolados por suspeitas de condescendência com a pedofilia. Em 1981, quando eram um partido marginal no sistema político-eleitoral alemão, os Verdes apresentaram uma plataforma que propunha a descriminalização de relações sexuais com menores de 14 anos. O candidato verde a primeiro-ministro, Jürgen Trittin, estudante e candidato a vereador na época, foi um dos cinco militantes do partido a subscrever a proposta na eleição local em Göttingen.
Preocupada com o alto índice de abstenção sinalizado pelas pesquisas (segundo a emissora pública ZDF, 36% não pretendem comparecer às urnas), o SPD montou uma força-tarefa de emergência e pretende visitar 900 mil residências até domingo.