Nesta quinta-feira, pescadores de Laguna, no Sul de Santa Catarina, se reuniram em frente ao quartel da Polícia Ambiental com cartazes para protestar contra as mortes de animais marinhos, que desde o final de semana têm ocorrido na região. Cerca de 50 pescadores estiveram reunidos no protesto, que terminou após uma reunião com os policiais.
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– Nós nos reunimos porque os pescadores estão com uma grande preocupação com o que está acontecendo. Fomos recebidos somente pela Polícia Ambiental, mas saímos daqui com direcionamento de organização do nosso trabalho. Vamos montar uma ação civil pública no Ministério Público Federal e também Estadual para buscar o direito dos pescadores quanto ao prejuízo do que está acontecendo nas nossas lagoas – reclama a presidente da União dos Pescadores, Maria Aparecida Ramos.
O sargento Jorge Euclides informa que a manifestação foi pacífica. Os policiais comunicaram aos manifestantes que foram feitas coletas pela Polícia Ambiental e professores de Ictiologia, Engenharia de Pesca e Química da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) de Laguna para emitir um laudo junto a Fundação Lagunense do Meio Ambiente (Flama). Os laudos devem sair ainda esta semana.
– Percorremos o Rio Tubarão e fizemos um patrulhamento no Complexo Lagunar, nas lagoas de Santo Antônio, Mirim e Imaruí. Em ambas as regiões, visualizamos esses pescados, que são a popular savelha, boiando. Eles estavam agonizando, na busca de oxigênio – informou o cabo Robson Vieira, da Polícia Ambiental.
A equipe fez coleta de água, algas e alguns pescados. Vieira informa que, em análise preliminar, foi descartada a possibilidade de que as mortes estejam associadas ao vazamento de mineradora de carvão de Lauro Müller, que aconteceu no final de novembro.
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– Não tem nada associado com aquele vazamento. Após a coleta, o material foi encaminhado para o laboratório da Udesc, aqui em Laguna. Mas, no local, já foi feita uma medição de oxigênio da água, que estava muito baixo do normal, e pode ser a causa da mortandade – completa Vieira.
Foto: Elvis Palma/ Arquivo Pessoal
O cabo explica que o que pode ter ocorrido, a ser confirmado pelo laudo laboratorial, seja uma eutrofização da lagoa em função das altas temperaturas e do pouco vento na região.
– Um tempo atrás houve muito calor no nosso Estado, que refletiu nas lagoas. Como não houve vento, foi uma série de fatores que afetou essa espécie, que é mais sensível. O oxigênio dissolvido na água ficou muito baixo, então foi uma reação em cadeia. Mas só teremos um pronunciamento oficial quando sair o laudo – conclui.
Quando o laudo sair, até o final desta semana, os órgãos competentes do município serão comunicados e farão um pronunciamento oficial para informar à imprensa e a população.
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Foto: Elvis Palma/ Arquivo Pessoal
Boto é encontrado morto na Praia do Mar Grosso
Além dos peixes, nesta quinta-feira uma tartaruga marinha foi encontrada morta na Praia do Mar Grosso, também em Laguna, no Sul do Estado. O professor de Engenharia de Pesca da Udesc de Laguna, Pedro Castilho, informa que nesta época, de pesca de arrasta de camarão, é comum que tartarugas apareçam mortas, assim como alguns peixes.
– Essa é uma época bem comum de morte de tartaruga. A gente chega a pegar uma a cada dois dias. Tem muito barco arrastando. Se for ver, aqui na beira da praia tem uns 10, 20 barcos. Se tem o TED (Turtle Excluder Devices, que é um dispositivo de exclusão de tartaruga) para a tartaturga escapar, tudo bem, mas muitos não usam. Os pescadores capturam, jogam na água e aí ela vai parar na praia – explica.
Um boto fêmea, que tinha pouco mais de seis meses de idade, também foi encontrado morto na terça-feira. O material coletado foi encaminhado para análise toxicológica e genética, em São Paulo e na UFSC, em Florianópolis, para determinar se o cetáceo tinha algum grau de parentesco com os animais que povoam Laguna ou se pertencia a algum grupo oceânico. Castilho descarta qualquer relação entre as mortes.
– Não há nenhuma relação entre a mortalidade de um e outro. Foi provavelmente coincidência. O caso dos peixes parece ser uma questão ambiental mesmo, por falta de oxigênio na água, associada a pesca por aviãozinho, mais a contaminação. Junta tudo isso e acontece esse tipo de coisa. Não há nenhuma relação entre as mortes dos peixes, do boto e da tartaruga. É provável que seja mera coincidência – concluiu.
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