Rosa da Silva, conhecida como Dona Rosinha, tem 64 anos e mora em Balneário Camboriú. Largou a escola na terceira série para trabalhar descascando camarão e aos 18 anos casou-se com um pescador. Depois de ter quatro filhos, Rosa percebeu que o companheiro passava dificuldades para garantir o sustento da família e ofereceu ajuda. Quando ele a questionou se ela seria capaz de acompanhá-lo na pesca, Rosa, já aos 40 anos, não hesitou.

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A história de Dona Rosinha foi retratada na tese de doutorado da antropóloga Rose Mary Gerber. A pesquisa, feita na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), acompanhou pescadoras envolvidas na pesca artesanal no Litoral do Estado.

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O trabalho revela a relação das mulheres com o mar, desde a necessidade financeira até a questão de fuga e terapia. Ao retratar a vida de mulheres nas cidades de Laguna, Florianópolis, Governador Celso Ramos, Balneário Camboriú, Barra do Sul, Araquari, São Francisco do Sul e Itapoá, a antropóloga percebeu um problema grave que existe no reconhecimento das pescadoras.

– Existe uma invisibilidade dessas trabalhadoras, principalmente em relação à política social. O mais grave é que elas têm dificuldades de reconhecimento pelo Ministério da Pesca e pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) como pescadoras para poder se aposentar. Elas têm dificuldade de acessar a esses direitos, pois a alegação é de que não existem mulheres com essa profissão – revela.

Entre os maiores obstáculos está justamente a questão da aposentadoria. Ao acompanhar um das mulheres em um posto do INSS, Gerber presenciou um atendente que questionou a profissão da mulher, solicitando que ela mostrasse os documentos do marido pescador.

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– O que acontece se o marido não é pescador e sim um professor? Ou se ela não tiver marido? Ela não terá ou terá dificuldade de acesso a esse direito, pois não é considerada – questiona Gerber.

Para a pesquisadora não há diferença entre o trabalho da mulher e do homem pescador. De acordo com a doutora, os entrevistados para a sua tese revelaram que, na pesca embarcada, o trabalho é dividido por igual, independente do sexo.

– Quando pedi para um dos pescadores descrever o trabalho da mulher, ele falou, como um elogio, “ela é um homem, é um animal, não falta, não reclama, tem o jeito para a pesca. É nota mil” – conta.

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Dona Rosinha concorda com os entrevistados de Rose Mary.

– Não existe diferença entre o meu trabalho e o do meu marido. É tudo dividido igual por aqui – afirma Dona Rosinha.