Rosa da Silva, a Dona Rosinha, moradora do Bairro da Barra, em Balneário Camboriú, é uma das personagens da tese defendida pela antropóloga Rose Mary Gerber, da UFSC, sobre as mulheres pescadoras no Estado. Confira o depoimento de Dona Rosinha à pesquisadora:

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Eu sou a Rosinha, que é assim que me chamam. Sou casada com Aparício Ramos da Silva, que está hoje com 64 anos. A gente chama ele de Parício. A gente se acostumou nesse ritmo. Eu acho que se for para botar alguém da cidade para fazer o que eu faço, não faz porque eu estou acostumada neste ritmo desde os oito anos de idade.

Nós estudávamos de manhã e à tarde nós descascava camarão. Eu estudei até a terceira série. O meu marido também. Passamos para a quarta, mas os pais não deixaram continuar porque nós tínhamos que cuidar dos nossos irmãos porque eles trabalhavam na pesca e na roça.

Das filhas, eu sou a mais velha. Comprei o meu enxoval, tudo com o dinheiro do camarão. Eu casei com 18 anos. Aí, com 19 eu tive o primeiro filho que hoje é mestre de barco em Santos. Depois, quando o menino estava com um ano, um mês e dezoito dias, ganhei a menina. Quando a menina fez três anos e seis meses, eu ganhei o Oziel, que é esse que está pescando com o pai. Quando esse estava com dois anos e dois meses, eu ganhei o outro, o Oscar, esse trabalha sozinho numa embarcação.

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O meu marido trabalhava no camarão. Depois começou na rede de malha. Daí, ele botou rede junto com o meu cunhado. Depois, o meu cunhado não veio um dia. Ele ficou apavorado e eu falei: então vamos que eu vou contigo. Ele disse: mas tu vás enjoar. Eu disse: não, eu não vou enjoar. Aí, fomos lá, colhemos a rede, arriamos. Voltamos. Cheguei. Fui arrumar todo o peixe. Limpamos, congelamos o peixinho.

Eu não sei direito que idade tinha. Eu acho que ia fazer 40 anos quando comecei com ele. Eu pesquei 22 anos com ele. Dos 40 aos 62. Até agora. O meu cunhado não apareceu mais, e eu fiquei pescando direto com ele. Mas a vida do mar, quando o mar está manso, é tudo muito bom. Quando vira o tempo!

Agora, com o meu rapaz, nós saíamos duas horas. Meu marido estava no hospital. Enquanto ele estava no hospital eu ia com o meu filho pra fora. Daí nós saía de casa, eram duas da manhã. Aí, sete horas, oito horas, nós já estávamos em casa. Colhia tudo no escuro, com luz porque ele botou luz.

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No camarão é na hora que as pessoas querem ir. Hoje eu me levantei era três horas. Levantei, cozinhei o arroz, fiz o café, fritei carne pra eles levar, arrumei o baldinho da comida, tudo. Daí eram quatro horas, eu fui ali chamei ele: nego, não vais pra fora já. E quando eu vou junto é a mesma coisa, eu que levanto primeiro para deixar tudo pronto.

Hoje, os dois estão lá fora pegando peixe. Eu estou em casa: estou limpando, empanando, embalando, pesando. Se nós chegar oito horas, já chego aqui, tomamos mais um cafezinho, eu vou limpar o peixe, de tarde eu já vou congelar, tudo individual. E se é para empanar, no outro dia eu não limpo. Eu vou empanar aqueles que eu limpei um dia antes. Depois eu vou congelar individual.

Quando ele está em casa, ele me ajuda. Agora ele quase não me ajuda assim porque nós temos uma máquina de limpar, de consertar. Aquela lá.

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O pai era pescador. Nós descascávamos o camarão, ficava até tarde à noite descascando camarão porque naquela época não tinha gelo, era tudo cozido. Aí, nós descascávamos camarão na salga. A mãe era mais de roça. Ela gostava muito era de roçar, capinar, colher. Era mais com o meu pai. Para embarcar, foi com o meu marido. Eu disse, vou, e fui, e pronto. Não enjoei nada.

Sábado e domingo eles também vão para o mar. Não tem sábado ou domingo. É a semana inteira. Desde que tenha produção, eles não param. Eles não parando, eu também não paro. Hoje de manhã estou parada; à tarde eu tenho que pegar o carrinho (de mão) que está lá no porto, vou lá pegar gelo, trago, boto aqui, levo o carrinho para o porto. E assim vai, a luta de cada dia. Isso porque eu dormi e perdi a hora. Dormi até as oito e eu não gosto de acordar tarde porque me atrasa. [então a senhora dorme quantas horas por noite? Vai dormir que horas à noite]. Ah, depende. Se eu sair da salga ali umas seis horas, sete horas por ai. Aí já faço a janta, já estou lavando a louça, quando termino, tomo um banho. Jantamos. Aí, já limpo a louça de volta. Vou me deitar, é umas dez e meia, onze horas. Durmo umas quatro, cinco horas.

Me sinto bem. Eu não tenho canseira, nega. Graças a Deus que eu não tenho canseira. Eu gosto dessa vida da pesca.

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