A ocupação Amarildo de Souza, como ficou conhecida a tomada de um terreno na SC- 401, em Florianópolis, está recebendo apoio de partidos e entidades alinhadas à esquerda política. Militantes do PCB, PSTU, PSOL e PT, bem como grupos que se autodenominam comunistas, atualmente apoiam os manifestantes com serviços essenciais à manutenção do grupo.
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O PCB está prestando apoio à ocupação desde que ela se originou, em dezembro do ano passado. De acordo com uma das lideranças da sigla e também da mobilização, Rui Fernando, teriam sido os próprios militantes do partido a organizarem a ocupação, que hoje, segundo ele, já conta com cerca de 450 famílias.
– É importante frisar que isso aqui é o povo organizado. O PCB apenas convocou seus membros para a organização porque nós acreditamos que a revolução tem que acontecer, que a terra deve ser dividida. A reforma agrária é uma bandeira que está dentro da legalidade – afirmou.
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O presidente do diretório municipal do PT, Carlos Eduardo de Souza, informou que membros do partido se reuniram no último dia 21 de janeiro para decidirem sobre o apoio oficial à ocupação, embora alguns militantes petistas já estejam colaborando com os manifestantes a despeito da decisão.
Souza disse ser válida a luta pela moradia e que o partido irá buscar conhecer melhor o teor das reivindicações, mas negou que militantes estejam no terreno a mando do diretório do partido.
– Iremos prestar apoio no sentido de negociar com o poder público da cidade para que haja uma solução pacífica, que contemple as partes envolvidas. Embora a Constituição defenda o direito à propriedade privada, ela também diz que as pessoas tem direito à moradia. Devemos refletir sobre isso – disse.
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Já o presidente municipal do PSTU, Gilmar Salgado, disse que militantes do partido estão ajudando na construção de barracas e entregas de roupas e agasalhos aos manifestantes. Embora também esteja de acordo com a reforma agrária, o partido está reivindicando, sobretudo, melhores condições de moradia e habitação à população carente.
Confira abaixo a análise de Eduardo Guerini, mestre em Sociologia Política e professor de pós-graduação na Univali:
Diário Catarinense: Como o senhor avalia essa ocupação?
Eduardo Guerini: A Ocupação Amarildo está relacionada a um movimento de protesto que vem na sequência da aprovação do Plano Diretor da Capital. Isso demonstra insatisfação popular com o modelo de urbanização adotado na cidade. Há áreas improdutivas, que não exercem a função social da propriedade, que poderiam ser desapropriados para atender àquela população mais carente. O abandono dessas pessoas, o não atendimento aos seus problemas, provoca ocupação deste tipo.
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DC: É comum que neste tipo de ocupação haja vinculações político-partidárias?
Guerini: De maneira geral, toda ocupação, todo movimento social de contestação, ou aspectos vinculados à emergência social, estão diretamente relacionadas ao universo político e aos seus partidos. Estes fenômenos sociais estão naturalmente atrelados a uma força ou várias forças políticas. No caso da Ocupação Amarildo, existem partidos e entidades do espectro de esquerda que vão dar apoio, ou mesmo militantes de vertentes mais radicalizadas, que vão dar suporte a este tipo de manifestação. Então, desvincular um movimento de ocupação das forças políticas seria não entender a realidade social do Brasil. Neste sentido, as forças políticas atuam a favor ou contra estas ocupações, dependendo dos posicionamentos adotados.
DC: Na prática, como os partidos apoiam essas ocupações?
Guerini: Com auxílio material, tal como alimentos, alojamento temporário (as lonas), organização de como a ocupação vai ser realizada e em que área. Há também algo muito importante que é a assistência jurídica de advogados militantes, até porque é uma luta que também se dá no campo jurídico. Há estudantes, que apoiam com arrecadação de alimento, de roupas, etc.
DC: Este tipo de ocupação pode ser capitalizada, pelos partidos, para fins eleitorais?
Guerini: Aquelas lideranças que antigamente estavam a frente das ocupações, hoje estão escondidas, porque não pega bem com a opinião pública. Uma opinião endossada pela classe média florianopolitana que detesta ações radicalizadas, assim como parte da elite brasileira. Essas ações são comuns às forças políticas de esquerda. Muitas delas atuam no sentido de pressionar, de capitalizar e de propor uma pressão com relação à politica urbana ou outros modelos adotados pela atual gestão municipal e ao mesmo tempo contra autoridades estaduais.
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