Impedir que caminhões transportem cargas consideradas perigosas no trecho da Estrada Dona Francisca (SC-418) em Joinville é uma medida que precisa ser imediata, defende o secretário do Meio Ambiente, Juarez Tirelli. A intenção é proteger a região, área de preservação ambiental que abriga o rio Cubatão, responsável por 70% do abastecimento da cidade.

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Como o poder público precisaria definir proibições por meios legais, respeitando prazos, o secretário apela para o bom senso. Para Tirelli, sindicatos, transportadores individuais e empresas devem buscar rotas alternativas o quanto antes para minimizar riscos de contaminação em futuros acidentes.

– São medidas operacionais que as transportadoras terão de adequar – anuncia Tirelli.

No último dia 14, um caminhão tombou na rodovia e causou o vazamento de 12,4 mil litros de óleo de xisto no rio Seco, afluente do rio Cubatão. Cinco dias depois, mais um caminhão tombou no mesmo local e derramou 200 litros de óleo diesel no rio. Como houve resposta de defesa em tempo, não houve impacto à saúde pública.

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Para evitar problemas parecidos, a proposta da secretaria é impedir a passagem de cargas de óleo diesel, gasolina, etanol, tintas e materiais corrosivos de todo tipo pelo local. O plano já foi compartilhado com empresas distribuidoras de combustíveis, sindicatos de postos e transportadores e entidades ligadas ao governo do Estado, além da Companhia Águas de Joinville.

Agora, diz Tirelli, a secretaria aguarda que as transportadoras estudem medidas e rotas alternativas para que uma nova reunião seja marcada com urgência e se dê sequência às ações.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de SC (Sindipetro) em Joinville, Robson de Souza, diz que, por enquanto, o sindicato defende a formação de um grupo de trabalho, com mais reuniões e a participação de outras entidades antes de se posicionar em definitivo.

Souza também observou que cidades como Corupá e São Bento do Sul também podem apresentar restrições caso entrem na rota das cargas tóxicas em eventuais trajetos alternativos.

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Deinfra quer consultar outros órgãos

O superintendente do Deinfra na região Norte, Ademir Machado, entende que a Prefeitura tem razão em querer barrar as cargas perigosas no trecho – o órgão administra a SC-418. Mas ele lembra que medidas restritivas envolveriam as esferas municipal, estadual e federal. Assim, ele propõe que outros órgãos sejam incluídos na discussão.

– Queremos ter, sim, uma tratativa. Não só com a Prefeitura, mas com os bombeiros voluntários, DNIT, PRF, PMRv, Águas de Joinville, SCGás, Sindipreto, entidades empresariais e demais órgãos competentes. Como se trata de uma rodovia estadual, uma medida tomada ali terá impacto numa rodovia federal, por exemplo – aponta.

O superintendente diz não ter conhecimento de restrições semelhantes em outras rodovias de SC.

– Essa atitude forçou uma reflexão. É radical, mas com um fundo de razão para mostrar que algo precisa ser feito – opina.

A Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) de Joinville, diz Ademir Machado, deve se encarregar de agendar um encontro com outras lideranças interessadas em se posicionar sobre o assunto.

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“A estrada não é adequada”

A Notícia – Qual é a pressa do município em proibir as cargas perigosas?

Juarez Tirelli – Em algum momento, vamos ter que, de fato, impedir o trânsito de cargas perigosas naquele trecho. Não podemos comprometer nosso abastecimento de água, tivemos dois acidentes emblemáticos recentemente. Um deles provocou um problema nos filtros do tratamento de água do Cubatão. Se fossem comprometidos, a Águas de Joinville precisaria de 30 a 60 dias para trocar os filtros. Imagina o impacto ambiental, social e econômico para a cidade.

AN – A Prefeitura considera publicar um decreto?

Tirelli – Independentemente de lei, decreto ou portaria que teríamos de promulgar, os utilizadores do transporte de cargas perigosas precisam entender que aquela estrada não é adequada para esse tipo de transporte. A rodovia cruza uma área de preservação, é um trecho delicado. Só quem pode tomar alguma medida de imediato são as próprias transportadoras. Isto pode impactar nos custos das empresas, mas são medidas operacionais que vão exigir adequação.

AN – O senhor vê como possível restringir apenas as cargas que descem a serra?

Tirelli – Estou convicto de que tem de valer para quem desce e quem sobe. Um caminhão subindo com combustível, por exemplo, pode vir a ser atingido por um caminhão carregado de madeira desgovernado e, aí, acabar tombando sobre um rio. Não resolveria o problema.