Desde que chegou a Joinville, no dia 22 de maio, Elisiel Silveira vem registrando em um diário como tem sido os dias que antecedem o transplante, que será realizado nesta sexta-feira. As folhas de caderno guardam suas impressões sobre a cidade e a ansiedade às vésperas da cirurgia.
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No dia 30 de maio, ele registrou, por exemplo, a ida à promotoria, para assinatura dos papeis necessários para a realização do transplante. A irmã, Elizia Silveira, teve assinar um documento para oficializar a doação, e antes de voltar para casa, eles aproveitaram para passear pelo centro da cidade e ver as vitrines das lojas.
Um programa bem diferente para quem vem de uma cidade com cerca de 13 mil habitantes, que possui um pequeno comércio, poucos carros e quase nenhuma rua pavimentada.
– Aqui é tudo muito bonito, tem ruas asfaltadas, bem diferente da minha cidade, onde é tudo estrada de chão -, compara Elisiel.
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Por outro lado, Elisiel relatou no diário a saudade de algumas coisas que ele só tem na terra natal. No dia 7 de junho, ele conta que acordou com vontade de tomar banho de rio, como costuma fazer em Rondônia em dias quentes de sol, e relatou ainda a saudade dos filhos, duas meninas e um menino.
– Eles são a alegria da minha vida.
Outro aspecto de Joinville que chamou atenção é o clima. Desacostumado com as baixas temperaturas, ele conta no diário que passou um pouco de frio. No dia 8 de junho, ele chegou a sair para caminhar para se esquentar.
– Nunca tinha visto frio assim na minha vida, mas eu já estou acostumando com o frio daqui -, escreveu no diário.
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Quanto à expectativa para o transplante, Elisiel destacou alguns dos desejos que poderá realizar após a cirurgia, como tomar um copo cheio de água, bem gelada, comer uma fatia de melancia e tomar suco de laranja, um dos seus prediletos.
Já a irmã de Elisiel, passou nesta quinta pelo último e decisivo exame antes da cirurgia.
– É um exame para definir qual dos dois rins eu vou doar -, conta Elizia, que não consegue esconder a ansiedade.
– Tenho rezado todos os dias e com a graça de Deus tudo correrá bem -, dizia.
Elisiel não será mais o 49º paciente a passar por um transplante esse ano em Joinville. Um dos 358 pacientes que aguardam na fila pelo transplante acordou, nesta quinta pela manhã, cedinho, com a notícia de que faria o transplante. O órgão, capitado em Florianópolis, foi trazido para Joinville.
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Às 8 horas, o paciente deixou a cidade onde mora, Joaçaba, para passar pela cirurgia no Hospital Municipal São José na tarde desta quinta. Ele chegou no hospital no início da tarde, mas passou por uma experiência no mínimo inusitada.
– Fomos multados pela Polícia Rodoviária Federal por andar no acostamento, sendo que temos urgência de chegar para o transplante -, conta o paciente, Clóvis Pereira Piva, de 58 anos, que veio para Joinville num carro da Prefeitura de Joaçaba.
– Deveriam dar prioridade, porque é um caso de vida ou morte -, dizia Clóvis, enquanto passava pela última hemodiálise antes da cirurgia, que foi realizada às 18 horas.
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Enquanto isso, no segundo andar do hospital, na ala de transplantes, a esposa dele e de Elisiel conversavam sobre os maridos, que estão prestes a passar pela tão sonhada cirurgia. No caso de Clóvis, o transplante só foi possível graças a doação de órgãos de alguém que perdeu a vida, mas lhe devolveu a esperança de viver e acompanhar o crescimento das netas.
Os rins dele são menores do que o normal, por isso, há quatro anos e meio ele enfrenta a rotina de hemodiálise. Mas somente um transplante poderia lhe devolver a esperança de viver o suficiente para acompanhar o crescimento das netas.
– Tenho uma netinha que está para chegar, então só tenho a agradecer a família do doador, que autorizou a doação do rim -, diz Clóvis.
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– Gostaria de um dia conhecê-los para poder agradecer pessoalmente -, diz o paciente, que faz parte de uma maioria. Dos 1034 transplantes já realizados em Joinville, 641 foram feitos com órgãos de um doador cadáver.