Um esquema especial de segurança foi montado para trazer a Santa Catarina um dos 40 líderes da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC). Geovane dos Santos Niches, o Geovane Bomba , partiu terça-feira, dia 12, de Mossoró (RN), onde está preso na penitenciária federal desde fevereiro por causa dos ataques criminosos.
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Geovane Bomba retornou nesta quinta-feira, dia 14, ao Rio Grande do Norte. Esteve em SC para participar como réu de um júri popular. Foi condenado a 14 anos de prisão por homicídio qualificado, crime praticado em 2010.
Um dos presos de maior periculosidade de SC, com duas condenações por homicídio, Geovane Bomba, foi escoltado o tempo todo durante sua permanência de dois dias no Estado.
Viajou em vôo comercial terça-feira à noite, vestindo jeans e camiseta. Numa sacola, trouxe objetos de higiene pessoal. Ficou algemado inclusive para comer um sanduíche. Não pediu para ir ao banheiro.
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A escolta do homem investigado por ataques à Secretaria da Justiça e Cidadania, e que teria a missão de eliminar agentes públicos, contou com quatro agentes penitenciários federais armados.
O preso voou com um agente de cada lado e dois nas poltronas da frente. Ninguém no avião percebeu o esquema. A orientação é discrição. Os agentes estavam à paisana. O grupo foi o primeiro a entrar na aeronave e o últimos a sair.
Pousaram na pista do Aeroporto Hercílio Luz às 22h40min, onde policiais e agentes penitenciários locais os esperavam. O comboio seguiu até a Penitenciária de Florianópolis, unidade onde Geovane atuou como disciplina (aquele que elimina desavenças da facção). Os agentes dormiram no alojamento, perto da cela onde o líder da facção ficou, isolado.
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Articulador e tesoureiro do PGC após a prisão de Davi Schroeder, o Gângster, Geovane Bomba morou em residência alugada pela facção com familiares de presos que estavam em prisões federais. Depois, teria sido afastado temporariamente, por suspeita de desvios de dinheiro do caixa do grupo.
Atualmente, Geovane ocupa sozinho uma das 208 celas da Penitenciária Federal de Mossoró, cidade com cerca de 300 mil habitantes, conhecida por seus suculentos melões cor de laranja, pernilongos e calor excessivo. Toma sol duas horas por dia com outros 12 detentos da mesma vivência (galeria).
Depois de passar a quarta-feira inteira no júri, em São José, retornou para o Nordeste nesta quinta, dia 14. Chegou às 17h em Fortaleza. A escolta optou por uma estrada de terra com trajeto de três horas até Mossoró. Por uma questão de segurança, os agentes federais sempre fazem rotas alternativas.
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Um dos agentes penitenciários federais que escoltou Geovane Bomba à Santa Catarina falou ao DC. Ele trabalha diretamente com alguns dos presos mais perigosos do Brasil, integrantes de facções como Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital. Por segurança, sua identidade foi preservada. Confira trechos da entrevista:
Diário Catarinense – Como é conviver de perto com um preso como Fernandinho Beira-mar (atualmente em unidade federal no Paraná)? Você tem medo? Já sofreu ameaça?
Agente – A Lei de Execuções Penais é cumprida, então há respeito mútuo entre preso e servidor. Chamamos os presos pelo nome e não pelo apelido. E temos o mínimo contato com eles. Nenhum preso é tratado de forma diferente. Pode ter a fama ou o dinheiro que tiver. Nunca houve fuga, apreensão de celular ou droga nem caso de corrupção. Nunca recebi ameaça. Na rua, ando com atenção normal.
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DC – Como é a vigilância na unidade? Tem câmera na cela? Os presos conversam entre si? Vocês escutam?
Agente – Temos 260 câmeras de segurança espalhadas pela unidade. Menos nas celas. fazemos a segurança das torres e há uma guarita de monitoramento. Os presos conversam no pátio de sol, mas não escutamos o que eles falam. Não entramos no pátio. São 13 presos por vez no banho de sol. Não misturamos presos de facções diferentes ou que tenham divergências.
DC – Como é o contato dos detentos com as famílias? É direto? Eles podem conversar sem serem ouvidos? Os presos recebem cartas?
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Agente – Os familiares passam por cadastro e triagem. Existem as visitas sociais e íntimas, em que eles tem privacidade. Também podem se falar pelo parlatório. Os presos recebem e enviam cartas que passam por triagem.
DC – É perigoso ser agente penitenciário federal? Quanto você ganha? Em quantos vocês são? Sabe quantos agentes atuam nas unidades aqui em SC?
Agente – Temos um aparato na unidade que gera sensação de segurança. Trabalhamos em 200 agentes para 206 presos. Ganho média de R$ 7 mil. Sei que aqui são 10 agentes para 900 presos (risos). É a realidade dos estados.
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DC – Percebi que o Geovane Niches está forte, com aspecto saudável, diferente dos presos do sistema estadual, que geralmente são bem magros, pálidos e com a pele meio amarelada. Como é a vida do Geovane lá dentro?
Agente – A lei é cumprida rigorasamente. Todos tomam duas horas de banho de sol por dia e recebem comida, roupa, atendimento médico e medicação fornecidos pelo Estado.
DC_Como é o comportamento dos presos catarinenses? Alguém está no RDD (Regime Discplinar Diferenciado)?
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Agente – É como o de todos os outros presos. Eles seguem as regras da unidade. Todos eles quando chegaram ficaram um período no setor de isolamento (RDD).