Dom Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina adoravam as águas quentinhas de Santo Amaro. A estância termal, primeira no Brasil, foi erguida a partir de 1820 especialmente para o casal, que sentia as dores no corpo diminuírem a cada vez que deixava só cabeça pra fora d´água. Hoje, você pode fazer o mesmo, sem sobrenome nem orçamento de realeza: com R$ 9 dá para tomar banho de banheira com aquelas torneiras que massageiam só com a pressão da água. Se já é bom a qualquer hora, imagine no meio de julho, quando o inverno costuma realmente aparecer.

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Esses banhos públicos são tiro certeiro em um bate-volta a Santo Amaro. Para relaxar em uma banheira por 20 longos minutos, você não precisa se hospedar em hotel algum. Com mais R$ 2, compre um dos sais de banho que ficam cheirando a ervas logo no balcão de entrada onde a dona Ivonete trabalha. Nos finais de semana, vá preparado para pegar uma filinha. Use o tempo para pegar água mineral quase de graça numa bica que fica a apenas alguns metros – lembre de levar bombonas e moedinhas para a máquina.

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Colado, o Caldas, de quase 200 anos, não é tão imponente quando o resort vizinho, mas é a história viva: num inverno de 1810, caçadores encontraram a fonte de água termal que sai sempre a 39,8ºC e sentiram-se revigorados após os banhos. A fama da estância chegou nos ouvidos de Dom João VI, que mandou construir um hospital de 12 leitos, onde hoje é o hotel.

Ali dá para passar o dia, descansar em um quarto todo colonial de móveis da época, ficar cercado de verde em um deck com guaxinins curiosos e esfomeados, almoçar bem e tomar quantos banhos quiser em banheiras italianas de mármore.

Se os R$ 100 por cabeça ficarem pesados, pelo menos puxe papo com o seu Lazio, na recepção, que conhece cada pedacinho e fala bem faceiro do hotel em que trabalha há quase 30 anos.

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(Foto: Betina Humeres/Agência RBS)

A maior parte de Santo Amaro está a menos de 100 metros acima do nível do mar. Mas o verde faz a sua parte: a Mata Atlântica é densa e ocupa cerca de 70% do município, o que baixa a temperatura para a casa dos 10ºC, especialmente na sombra de árvore na beirinha dos vários riachos, ou se você estiver nas primeiras horas da manhã no Morro Queimado – distante 8 km do Centro por estrada de chão e com 694 metros de altitude (se chover, a estrada é uma furada). Não é de bater queixo, mas vá agasalhado. Ali nevou em 2013. Lá de cima, dá pra ver um pedação de Palhoça se o tempo estiver limpo.

No Centro, hospede-se no modesto Hotel Santo Amaro (a partir de R$ 80 o casal), bem do ladinho do memorial do Frei Hugolino, que morreu há quatro anos e ainda arrasta pequenas multidões saudosistas de sua imposição de mãos considerada milagrosa por fiéis.

Esticando até a noite, há o que fazer no coração da cidade. Se não tem fondue, clichê do inverno, o P7 resolve a fome de dia ou de noite, quando tem shows no final de semana.

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Na terra do Milho, o estômago agradece

Milho lembra calor, sol e praia mas ali em Santo Amaro tem um bônus no inverno: dois milhões de espigas produzidas por ano por cerca de 200 agricultores. A maior produção da Grande Florianópolis tinha que virar comida boa. E virou. São três lugares na beira da BR-280, antes do acesso principal (para quem vai de Floripa).

Só na Delícias do Milho são seis opções de pamonha no final de semana (até Romeu e Julieta), pão, curau e um bolo com creme que, quentinho, quase faz levitar. Depois de um banho termal, é uma parada bem-vinda, principalmente se a rodovia estiver daquele jeito.

(Foto: Betina Humeres/Agência RBS)

Vinho para esquentar

BR-282 acima, fica a vizinha Águas Mornas, onde os preços nas estâncias termais são mais salgados. Mas na cidadezinha há mais o que fazer. O alto do mirante do Rio Novo é aquele lugar para fotos e contemplação. Na comunidade do Rio do Cedro, falam maravilhas da queijadinha de coco artesanais da dona Sônia.

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Mas um dos melhores segredos da cidade é a Vila Isabel, à direita da BR-282. Dois minutos de carro e lá estão o casarão colonial verde claro, vaquinhas e algumas araucárias solitárias que são mais um indicativo de frio: elas crescem ali porque a temperatura costuma ser baixa o ano todo.

As plaquinhas em madeira lembram o estilo das colônias alemãs e te levam a dois lugares: um é o Artesanato Scheidt, com brinquedos em madeira à moda antiga feitos pelo seu Raimar, que tem de bônus uma história de superação. O outro, é a Cantina do seu Roberto, um alemão grandalhão com sotaque duro e voz cortês, que olha nos olhos e sorri com gentileza.

Planeje pelo menos uma hora para gastar lá. Peça para seu Roberto contar como faz vinho desde pequeninho e das correspondências que o pai dele trocava com amigos na Europa – fotos, livros e cartas – para aprender o cultivo de uva que se criaria naquela região que nem muito alta é: 560 metros.

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Não vá até lá esperando degustação em taças de cristal fino e menos ainda um ambiente sofisticado. Os garrafões de 40 litros ficam em uma casa com pouca luz, a seis passos de um riozinho, e reúnem toda a produção, que chega a 2,5 mil litros por ano. Há vinho seco, apesar de artesanal, e claro, tem aquela provinha para esquentar o peito no frio.

Só há um lugar no mundo para comprar uma garrafa desse vinho: ali mesmo. É assim que quer seu Roberto, que reúne vizinhos em época se safra para ir aos parreirais e retirar as uvas do cacho uma a uma.

– Eu não tenho vinícola. Eu produzo vinhos artesanais.

Cabe no Bolso

Em Santo Amaro da Imperatriz

:: R$ 0,10 o litro da água mineral na bica (leve o seu galão ou bombona)

:: R$ 7 o bolo de milho recheado na Delícias do Milho (9631-4559)

:: R$ 9 o banho de 20 minutos sem toalha e R$ 12, 20 minutos na hidromassagem (3245-7088)

:: R$ 12 a entrada para usar a estrutura com churrasqueiras, na beirinha do rio em Caldas

:: R$ 25 é o preço médio para adultos dos cafés coloniais

:: R$ 80 a diária no Hotel Santo Amaro para duas pessoas, bem no Centro e distante alguns km das águas termais (3245-2256)

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:: R$ 100 com almoço pra passar o dia e usar a estrutura do Hotel Caldas, que tem banheiras individuais italianas e piscinas térmicas

Em Águas Mornas

:: R$ 6 o pacote de biscoito da Sônia (9155-9464)

:: R$ 11 (branco) R$ 13 (tinto) a garrafa de vinho do Seu Roberto, que abre de sexta a domingo (9128-2208).

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